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E a vida, como metáfora de um rio, tudo traz, tudo leva, tudo lava. Menos o amor. O amor é uma verdade à prova do tempo.
a fome faz mais pela cozinheira do que os temperos,
Mas e o amor? O que é senão um monte de gostar? Gostar de falar, gostar de tocar, gostar de cheirar, gostar de ouvir, gostar de olhar. Gostar de se abandonar no outro. O amor não passa de um gostar de muitos verbos ao mesmo tempo.
Quem pode negar, no mais honesto olhar, que, dado um encaixe perfeito, não sobre espaço para mais nada?
Dizem que a tristeza dessa hora está nas entranhas da gente, infiltrada nas nossas menores porções há milênios.
Perder amores é escurecer por dentro,
Para quem está sozinho depois de ter amado, o fim do dia é muito triste.
felicidade em demasia é dívida que não se pode pagar. A conta viria.
Quem dá muito espera muito em troca.
Deixe o luto pra depois, temos o resto da vida.
Nenhuma folha cai sem que Deus permita, Ele sabe para que serve a minha dor. O sofrimento, por uma insanidade humana ou por uma perversidade divina, tem valor.
tem hora que o amor pode doer mais do que a dor.
Não tem juízo que interrompa quem adoece de saudade.
Um dia feliz tem mais poder que a tristeza de uma vida inteira. Nele moram as reviravoltas.
O amor, quando nasce forte, tem pressa de ser eterno.
O amor não é incondicional coisa nenhuma, tem suas fragilidades de matéria orgânica. Estraga, esgarça, rasga, inflama, acaba. E como acaba. É feito gente, depende do que vive.
O esquecimento começava a jogar o seu manto.
Não há quem convença um apaixonado com a dor alheia. Nem a própria dor pode salvá-lo.
O que mais existe no mundo são pessoas que nunca vão se conhecer. Nasceram em um lugar distante, e o acaso não fará com que se cruzem. Um desperdício. Muitos desses encontros destinados a não acontecer poderiam ter sido arrebatadores. Por afinidade, por atração que não se explica, por força das circunstâncias, por químicas ocultas, quem pode saber? Quanto amor se perde nessa falta de sincronia. Não é preciso ir longe, alguém pode passar pela esquerda enquanto olhamos distraídos para a direita. Por um triz o paralelo nos obriga ao desencontro eterno. É preciso uma coincidência qualquer para que
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Aprendeu que a verdade não tem dono, que é duro demais existir e que ninguém precisa ajudar ninguém a sofrer. O sofrimento vem sozinho, tem pernas, mais cedo ou mais tarde ele aparece; o que a gente tem de buscar é a alegria, essa se esconde delicada na correria dos dias, não se oferece de pronto, quer ser encontrada, surpreendida, amada.
Quem está com o coração apertado leva ele apertado mesmo, fazer o quê?
Somos feitos do bom e do ruim em porções imprevisíveis.
Quem vê de fora faz arranjos melhores, mas é dentro, bem no lugar que a gente não vê, que o não dar conta ocupa tudo.
Desistir de Deus é muita solidão.
Deus não é de pensar, é de sentir. É um colo de braços fortes e delicados, ninando a gente num mar furioso, esquenta seu coração nesse colo, respira com Ele. Deus não é um lugar de certeza, é só um pouco de esperança.
É difícil pro homem, que manda e desmanda aqui na terra, entender que Deus não existe para fazer nossas vontades, nem para vigiar cada gesto nosso, ficar contando pecados, exigindo coisas que não podemos dar. A contabilidade de Deus é outra.
Pedir a Deus para não sofrer é como pedir para voar. Mas a gente pede assim mesmo e depois fica com raiva do pobre coitado.
O sofrimento é certo como a morte e tão inegociável quanto. Vem às vezes de um jeito bruto demais, tem gente que passa por coisas insuportáveis uma atrás da outra, o sofrimento muitas vezes vem injusto na falta de justiça do homem, na falta das coisas, na falta de entendimento e vem intolerável na violência de perder um filho.
O lugar que dói é o mesmo que sente arrepios. É no corpo, no amor e na liberdade de escolher as coisas que a gente fica inteiro ou despedaçado.
É um perigo tirar das cinzas quem com muito custo aceita não ter tudo o que quer.
O perdão não existe justamente para perdoar o imperdoável?
Mas outros machucados a gente não tem muito o que fazer, não é mesmo? Ou porque causam um estrago de todo tamanho no corpo ou porque ferem a alma de um jeito irreversível demais. Um machucado desses destrói não só quem apanha, mas quem bate. Pior do que isso, acaba com o amor.
O perdão não muda o passado, nunca se esqueça disso, meu filho. O passado é eterno.
O amor é alegre, Venâncio, se não é alegre, não é amor.
A morte põe um olho no passado e outro no futuro e deixa a gente cego na hora, no encontro do que foi e do que será, na tortura do que poderia ter sido. Impõe o desespero do definitivo, trava os movimentos. Embrulha o estômago indigesta. Faz frio nos ossos. A morte é vida intensa demais para quem fica.
Ninguém monta na vida. Brincamos de escolher, brincamos de poder conduzir o destino. Precisamos dessa ilusão para viver os dias de antes, dias em que podemos tudo só porque pensamos poder, e então a vontade do que está fora da gente joga sua sombra densa e pegajosa.