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Marcar o papel era um ato decisivo.
Encontrava-se sozinho. O passado estava morto, o futuro era inimaginável. Que certeza teria de que uma única criatura humana viva estava a seu lado?
“Quem controla o passado”, dizia o lema do Partido, “controla o futuro: quem controla o presente controla o passado”.
Esse processo de alteração contínua era aplicado não apenas a jornais, mas a livros, revistas, panfletos, cartazes, folhetos, filmes, músicas, desenho, fotografias; a todos os tipos de literatura ou documentação que pudesse conter alguma significância política ou ideológica. Dia após dia e quase minuto a minuto, o passado era atualizado. Dessa forma, a evidência documental demonstraria que todas as previsões feitas pelo Partido estavam corretas;
Até que elas se tornem conscientes, nunca vão se rebelar, e até depois de se rebelar, não podem se tornar conscientes.
Se algum alívio havia, era no trabalho, no qual ele às vezes conseguia se esquecer de si mesmo por dez minutos consecutivos.
Estava quase na hora de Winston e a moça se separarem. Mas no último instante, enquanto a multidão ainda os cercava, a mão dela procurou a dele e deu um aperto rápido. Não poderia ter durado nem dez segundos e, no entanto, pareceu que por muito tempo as mãos estiveram entrelaçadas. Ele teve tempo de aprender cada detalhe da mão da jovem. Explorou os dedos longos, as unhas pontudas, a palma de trabalhadora com sua fila de calosidades, a suavidade da pele junto ao pulso. Apenas por tê-la sentido, ele a reconheceria só de olhar.
Qualquer coisa indicativa de corrupção sempre o preenchia de uma esperança selvagem.
Era isso que ele queria ouvir, acima de tudo. Não somente o amor de uma pessoa, mas o instinto animal, o desejo simples e indistinto: aquela era a força que destruiria o Partido.
A união deles tinha sido uma batalha; o clímax, uma vitória. Fora um golpe contra o Partido. Um ato político.
O primeiro passo tinha sido um pensamento secreto, involuntário; o segundo, começar um diário. Ele havia se deslocado dos pensamentos para as palavras e agora das palavras para as ações.
O objetivo primordial da guerra moderna (de acordo com os princípios do duplopensar, esse objetivo é simultaneamente reconhecido e não reconhecido pelos cérebros dirigentes do Núcleo do Partido) é consumir a produção da máquina sem com isso elevar o padrão geral de vida. Desde o fim do século XIX, o problema do que fazer com o excesso dos bens de consumo é latente na sociedade industrial.
A estratégia que as três potências seguem, ou fingem seguir, é a mesma. O plano é, por uma combinação de lutas, negociação e atos de traição no momento certo, estabelecer uma aliança de bases que alcance completamente um ou outro dos estados rivais, e então assinar um pacto de amizade com ele e manter a paz por quantos anos forem necessários para que a desconfiança se dissolva. Durante esse período, foguetes carregados com bombas atômicas podem ser montados em todos os pontos estratégicos; por fim, todos serão disparados simultaneamente, com efeitos tão devastadores que toda retaliação se
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A guerra, portanto, se a julgarmos pelos padrões das anteriores, é uma hipocrisia. É como as lutas entre certos animais ruminantes, cujos chifres são posicionados em tal ângulo que eles são incapazes de se ferir. Ela se alimenta do excesso de bens de consumo e ajuda a preservar a atmosfera mental específica que uma sociedade hierárquica exige.
As massas nunca se rebelam por iniciativa própria e apenas por serem oprimidas. De fato, enquanto não lhes for permitido ter padrões de comparação, elas jamais se tornam conscientes nem mesmo da opressão que sofrem.
Quem tem o poder não importa, desde que a estrutura hierárquica permaneça sempre a mesma.
Eles podem receber liberdade intelectual porque não têm intelecto.
A alteração do passado é necessária por duas razões, uma das quais é secundária e, por assim dizer, preventiva: o membro do Partido, como os proletários, tolera as condições atuais em parte porque não tem base de comparação. Ele precisa se desvincular do passado, e também parar de olhar para países estrangeiros, porque deve acreditar que está melhor do que seus ancestrais e que o nível médio de conforto material está constantemente aumentando. Mas a razão muitíssimo mais importante para o ajuste do passado é a necessidade de salvaguardar a imunidade do Partido. Não são apenas discursos,
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Se havia esperança, era nos proletas!