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Kindle Notes & Highlights
De agora em diante o tempo vai ser sempre atual. Hoje é hoje. Espanto-me ao mesmo tempo desconfiado por tanto me ser dado. E amanhã eu vou ter de novo um hoje. Há algo de dor e pungência em viver o hoje.
Estou tendo uma liberdade íntima que só se compara a um cavalgar sem destino pelos campos afora.
Este é um livro silencioso. E fala, fala baixo. Este é um livro fresco – recém-saído do nada.
Eu vivo em carne viva, por isso procuro tanto dar pele grossa a meus personagens. Só que não aguento e faço-os chorar à toa.
Vida que me perturba e deixa o meu próprio coração trêmulo sofrendo a incalculável dor que parece ser necessária ao meu amadurecimento – amadurecimento? Até agora vivi sem ele!
Pensar é a concretização, materialização do que se pré-pensou.
E como precisamos de perdão. Porque a própria vida já vem mesclada ao erro.
Eu queria iniciar uma experiência e não apenas ser vítima de uma experiência não autorizada por mim, apenas acontecida.
Mas meu reflexo não estava num espelho, mas refletia uma outra pessoa que não eu.
Tudo é real mas se move va-ga-ro-sa-men-te em câmera lenta.
Até onde vou eu e em onde já começo a ser Ângela? Somos frutos da mesma árvore? Não – Ângela é tudo o que eu queria ser e não fui.
É por coincidência que eu sou eu. Ângela parece uma coisa íntima que se exteriorizou.
Minha esperança é encontrar o esboço de uma resposta. Avanço com cuidado.
Nenhum ato meu sou eu.
Ela me sopra em sussurros o que ela é e, se não a ouço por falta de acuidade minha, perco-lhe a pessoa.
E o desequilíbrio da gangorra é exatamente o seu equilíbrio.

