Agnes Grey (Coleção Duetos) (Portuguese Edition)

by Anne Brontë

Aqueles cujas ações estão para sempre diante de nossos olhos, cujas palavras estão sempre em nossos ouvidos, naturalmente nos levarão, embora, contra a nossa vontade - de forma gradual - talvez, a agir e falar como eles fazem. Não vou presumir dizer até onde esse poder irresistível de assimilação se estende; mas se um homem civilizado estivesse condenado a passar uma dúzia de anos em meio a uma raça de selvagens intratáveis, a menos que ele tivesse poder para melhorá-los, eu questiono muito se, no final desse período, ele não teria se tornado, pelo menos, um bárbaro.

Já parecia sentir meu intelecto se deteriorar, meu coração petrificar, minha alma se contrair e eu tremia para que minhas próprias percepções morais não se tornassem mortíferas, minhas distinções de certo e errado se confundissem, e todas as minhas melhores faculdades fossem, finalmente, afundadas sob a influência funesta de tal modo de vida.

Fiquei feliz em ver que todo o mundo não era formado por Bloomfields, Murrays, Hatfields, Ashbys, e que a excelência humana não era um mero sonho da imaginação. Quando ouvimos um pouco de bem, e nenhum mal de uma pessoa, é fácil e agradável imaginar mais - em resumo, é desnecessário analisar todos os meus pensamentos, mas o domingo se tornava agora um dia de prazer peculiar para mim, pois eu gostava de ouvi-lo - e gostava de vê-lo também, embora eu soubesse que ele não era bonito, ou mesmo, como se chama, agradável, no aspecto exterior, mas, certamente, ele não era feio.

"Os laços que nos prendem à vida são mais duros do que você imagina, ou do que qualquer um que não tenha sentido o quanto podem ser puxados sem quebrar. Você pode ser miserável sem um lar, mas mesmo você poderia viver, e não tão miseravelmente como você supõe. O coração humano é como a borracha dos índios, um pouco incha-o, mas muita coisa não o rebentará. Se 'pouco mais do que nada' o perturbará, 'pouco menos do que todas as coisas' será suficiente, para quebrá-lo. Como nos membros externos de nossa estrutura, há um poder vital inerente a si mesmo que o fortalece contra a violência externa.

Eu não a invejava - pelo menos, eu acredito firmemente nisso. Tive pena dela; fiquei espantada, enojada com sua vaidade sem coração; perguntei-me por que tanta beleza deveria ser dada àqueles que a utilizam tão mal, e negada a alguns que a tornariam um benefício tanto para si mesmos quanto para outros. Mas, Deus sabe melhor, concluí. Há, suponho, alguns homens tão vaidosos, tão egoístas e tão insensíveis como ela, e talvez tais mulheres possam ser úteis para puni-los.

"A leitura é minha ocupação favorita quando tenho lazer para ela, e livros para ler."

É uma tolice desejar beleza. As pessoas sensatas nunca a desejam para si mesmas ou se preocupam com ela nos outros. Se a mente for apenas bem cultivada e o coração bem-disposto, ninguém jamais se importa com o exterior. Assim disseram os professores de nossa infância; e assim dizemos às crianças dos dias de hoje. Tudo muito criterioso e apropriado, sem dúvida; mas será que tais afirmações são apoiadas pela experiência real? Estamos naturalmente dispostos a amar o que nos dá prazer, e o que é mais agradável do que um rosto bonito - quando não conhecemos nenhum mal do possuidor, pelo menos? Uma garotinha ama seu pássaro - por quê? Porque vive e sente, porque é indefeso e inofensivo. Um sapo, igualmente, vive e sente, e é igualmente indefeso e inofensivo; mas embora ela não odeie o sapo, ela não pode amá-lo como o pássaro com sua forma graciosa, penas macias e olhos brilhantes e falantes.

Aqueles que têm beleza, que agradeçam e façam bom uso dela, como qualquer outro talento. Aqueles que não a têm, que se consolem e que façam o melhor que puderem sem ela - embora seja passível de ser superestimada, é um dom de Deus, e não devem ser desprezados.

Se eu a tivesse visto retratada em um romance, deveria tê-la achado antinatural; se a tivesse ouvido descrita por outros, deveria tê-la considerado um erro ou um exagero; mas quando a vi com meus próprios olhos, e também sofri com ela, só pude concluir que a vaidade excessiva, como a embriaguez, endurece o coração, escraviza a mente, e perverte os sentimentos, e que os cães não são as únicas criaturas que, quando empanturradas até a garganta, ainda se ressentem do que não podem devorar, e negam o menor pedaço de carne a um irmão faminto.