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October 31 - November 6, 2023
Ocasionalmente, tenho a intenção de não vê-la tanto. Mas quem consegue cumprir isso! Todos os dias, sucumbo à tentação e prometo a mim mesmo com fervor: amanhã ficarei longe. E quando chega o amanhã, acabo encontrando mais uma vez um motivo irresistível, e antes que me dê conta, estou com ela.
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A natureza humana tem seus limites — continuei. — Ela consegue suportar alegria, sofrimento e dor até certo ponto, e sucumbe assim que esse ponto é ultrapassado. Aqui, então, a questão não é saber se alguém é fraco ou forte, mas se consegue aguentar a medida de seu sofrimento, seja ele moral ou físico. Acho igualmente incrível alguém dizer que a pessoa é covarde por ter tirado a própria vida, tanto quanto inadequado chamar de covarde alguém que morre de uma febre maligna.
E diz, não seria este também o caso da doença? A natureza não encontra a saída do labirinto dessas forças confusas e contraditórias e a pessoa tem de morrer. Ai de quem pudesse assistir a isso e dizer: “A tola! Se tivesse esperado, deixaria o tempo agir, o desespero teria diminuído, haveria de aparecer outro para consolá-la”. É como se alguém dissesse: “O tolo! Morrer de febre! Se tivesse esperado até recuperar as forças, até que seus fluidos voltassem ao normal, o tumulto do seu sangue se apaziguasse, tudo teria terminado bem e ele estaria vivo até hoje!”.
Infeliz! Não é um tolo? Não engana a si mesmo? Qual o sentido dessa paixão tempestuosa e infinita? Não faço mais preces, elas são só para ela; na minha imaginação não aparece ninguém além dela, e vejo tudo à minha volta apenas em relação a ela.
À noite traço o plano de aproveitar o nascer do Sol, mas não consigo sair da cama; de dia, espero poder me alegrar com a luz da Lua e fico dentro do meu quarto. Não sei ao certo por que levanto e por que vou dormir.
Contam que existe uma raça nobre de cavalos que, quando se sente extremamente acalorada e assustada, por instinto morde uma veia para ajudar a respirar. Sinto-me assim muitas vezes; gostaria de abrir uma veia que me levasse à liberdade eterna.
às vezes não entendo como outra pessoa pode amá-la, tem autorização para amá-la, já que eu só a ela amo, tão no íntimo, tão plenamente, não conhecendo, não sabendo, nem tendo mais nada além dela.
Não posso rezar: “Deixe-a para mim!”; no entanto, muitas vezes ela parece ser minha. Não posso rezar: “Dê-me ela!”; pois ela pertence a outro. Vou lidando com as minhas dores de forma jocosa; se deixasse de fazê-lo, haveria toda uma ladainha de antíteses
Está decidido, Lotte, quero morrer e escrevo-lhe isso sem exageros românticos, plácido, na manhã do dia em que irei vê-la pela última vez. Quando ler isto, minha cara, o fresco túmulo já terá encoberto os restos rígidos do irrequieto, do infeliz, que para os últimos momentos de sua vida não conhece melhor doce do que conversar com você. Tive uma noite terrível e, ah, uma noite benéfica. Foi ela que fortaleceu e definiu minha decisão: quero morrer! Quando ontem me desvencilhei à força de você, na terrível indignação de meus sentidos, quando tudo isso se concentrava em meu coração e minha
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