Declínio de um homem (Portuguese Edition)

by Osamu Dazai

É bem provável que ninguém se sinta bem quando é criticado ou é alvo da ira de outra pessoa, mas eu vejo no rosto daqueles que se irritam comigo uma expressão selvagem, mais assustadora do que de qualquer leão, dragão ou crocodilo.

Sempre tremia de medo das demais pessoas e nunca tive sequer uma migalha de autoconfiança em relação às minhas palavras e aos meus atos como ser humano. Guardava minhas angústias em uma pequena caixa dentro do peito e, escondendo com discrição minha tristeza profunda e meu nervosismo, aperfeiçoei-me em ser um personagem excêntrico e brincalhão, permanentemente revestido de um otimismo inocente.

“Se eu fizer as pessoas rirem, não importa como, ficará tudo bem. Fazendo isso, elas talvez não se importem com o fato de eu estar fora da tal ‘vida cotidiana’. De qualquer maneira, não posso ser um estorvo para os humanos: devo ser o nada, o vento, o céu”, pensava.

Eu fora abusado. Hoje penso que cometer um crime assim contra uma criança é a coisa mais vil, hedionda e terrível que um ser humano pode fazer. Mas eu suportei calado.

Pedir ajuda a alguém era um recurso no qual eu não tinha esperança nenhuma.

A vida humana está repleta desses exemplos, de seres humanos enganando uns aos outros sem sequer se magoar por isso, como se nem mesmo percebessem que estão se enganando mutuamente.

Aqui está a verdade que eu escondo dentro do peito: por fora, eu rio e faço rir, enquanto, no fundo, ter uma alma sombria é inevitável, dizia em segredo a mim mesmo.

Desagradava-me a ideia de que descobrissem essa tristeza velada em minhas palhaçadas e se tornassem subitamente cuidadosos.

Ele me anunciou essa sentença e eu, que nunca consegui levantar a voz contra nada, obedeci em silêncio.

Existe a expressão “pária”, que no mundo dos homens é utilizada para se referir a pessoas derrotadas, miseráveis ou perversas. Mas sinto como se eu fosse um pária desde o momento em que nasci. Por isso, sempre sinto afeição por aquelas pessoas consideradas párias pela sociedade, afeição tamanha que me deixa num estado de êxtase.