Uma Confissão

by Leo Tolstoy

palavra só mostrava que onde ele pensava que havia fé, na realidade há muito tempo havia um espaço vazio, e que, portanto, a pronunciação de palavras e a realização de sinais da cruz e genuflexões enquanto orava eram ações sem sentido.

à igreja ou jejuar por vontade própria. Não acreditava no que me tinham ensinado na infância, mas acreditava em algo. No que eu acreditava, eu não poderia ter dito. Eu acreditava em um Deus, ou melhor, eu não negava Deus - mas eu não podia ter dito que tipo de Deus. Nem eu neguei Cristo e seus ensinamentos, mas o que consistia em seus ensinamentos eu não poderia ter dito novamente.

Olhando para trás, agora vejo claramente que minha fé - minha única fé real - aquela que além dos meus instintos animais deu impulso à minha vida - era a crença no aperfeiçoamento de mim mesmo.

privações. E tudo isso eu considerava a busca da perfeição. o início de tudo isso foi, é claro, a perfeição moral, mas que logo foi substituída pela perfeição em geral: pelo desejo de ser melhor não aos meus olhos ou aos de Deus, mas aos olhos dos outros. E muito em breve esse esforço transformou-se novamente em desejo de ser mais forte que os outros: ser mais famoso, mais importante e mais rico que os outros.

Ambição, amor ao poder, cobiça, lascívia, orgulho, raiva e vingança - eram todos respeitados.

Não consigo pensar nesses anos sem horror, sem aversão e sem dor no coração. Eu matei homens na guerra e desafiei homens a duelos para matá-los. Perdi nas cartas, consumi o trabalho dos camponeses, condenei-os a castigos, vivi vagamente e enganei as pessoas. Mentira, roubo, adultério de toda espécie, embriaguez, violência, assassinato - não houve crime que eu não tenha cometido, e apesar disso as pessoas elogiaram minha conduta e meus contemporâneos me consideraram e me consideram um homem relativamente moral.

"Tudo o que existe é razoável. Tudo o que existe se desenvolve. E tudo se desenvolve por meio da Cultura. E a Cultura se mede pela circulação de livros e jornais. E nós somos pagos e respeitados porque escrevemos livros e jornais, e por isso somos os mais úteis e os melhores dos homens".