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Kindle Notes & Highlights
se algum dia você parar ao lado de uma árvore com uma cara bem amigável e quiser arriscar, tente prestar atenção. Mal não vai fazer. Árvores não sabem contar piadas. Mas contamos ótimas histórias.
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Desejo saber o que desejar.
Às vezes os corvos adotam nomes humanos; se eu te contasse a quantidade de Zé Corvos que já conheci… Às vezes eles adotam nomes de coisas que os intrigam: Latinha, Jujuba, Ratomorto. Pegam para si o nome de acrobacias aéreas, tipo Giro Parafuso ou Rasante. Ou de cores: Púrpura ou Pretume. Muitos escolhem os sons que mais gostam de reproduzir. (Corvos são exímios mímicos.) Já conheci um Mensageiro dos Ventos, um Ronco de Caminhão e um Taxista Ranzinza, sem falar de alguns outros com nomes impróprios de se mencionar entre pessoas educadas.
Ocos são a prova de que uma coisa ruim pode se transformar em uma coisa boa, com a dose certa de tempo, cuidado e esperança.
Se esta história fosse um conto de fadas, eu diria que há certa magia em Samar. Talvez dissesse que ela lança um encantamento nos animais. Os bichos não costumam sair de seus ninhos e tocas por livre e espontânea vontade. Têm medo de gente, e com toda a razão. Mas este não é um conto de fadas, e não há feitiço algum. Os animais competem por recursos, assim como os humanos. Eles devoram uns aos outros. Lutam para estabelecer dominação. Nem sempre a natureza é bela, justa ou gentil. Mas, às vezes, somos surpreendidos. E, a cada noite de primavera, Samar me lembrava de que existe beleza na
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— A verdade é que o seu tamanho não importa, Bongô — falei. — Cada um de nós cresce como deve crescer, de acordo com o que nossas sementes determinaram há muito, muito tempo.
— Pessoal, se vocês não têm nada construtivo para dizer — falei —, então, por favor, não digam nada.
Depois disso, não falamos muito. No fim das contas, conversar sobre as implicações da vida e do amor não era do que eu precisava. O que eu precisava era ficar observando o céu cravejado de estrelas, sentir o cheiro adocicado da terra molhada, ouvir o palpitar do coração dos filhotinhos que, pelo menos por mais uma noite, encontravam segurança no meu tronco.
Se esta história fosse um conto de fadas, eu diria que uma mágica aconteceu naquele dia dos desejos. Que o mundo mudou e que vivemos todos felizes para sempre. Mas estamos falando da vida real. E a vida real, como um bom jardim, é uma bagunça.

