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Kindle Notes & Highlights
by
Alyssa Cole
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February 5 - February 7, 2024
Ela queria ser cientista desde que a professora da quarta série lhe dera um exemplar velho da National Geographic. Tinha ficado fascinada com a capa: uma mulher negra, igual a ela, olhando por um microscópio. Era uma cientista tentando descobrir a cura de uma doença misteriosa, e Ledi tinha extraído daquela imagem não apenas a noção de que desejava fazer o mesmo, mas também a de que podia.
Ela não tinha previsto as outras variáveis da vida de uma mulher na área científica: políticos que tratavam a profissão com desprezo, ameaçando seu futuro e o do planeta, ou colegas cientistas como Brian, que tratavam mulheres no laboratório como assistentes pessoais e não como pares.
Quando você trabalhava mais que o necessário o tempo todo, trabalhar o suficiente parecia corpo mole.
Ser extrovertida e amigável enquanto mantinha as pessoas a distância era instintivo para Ledi.
Já vi como funciona. Cortam a verba de pesquisas importantes, tentando lucrar em vez de ajudar as pessoas. É como se esquecessem que, entre todas as pessoas do mundo, eles têm o dever de fazer a coisa certa.
Porque os homens tornam a vida mais difícil para mulheres que dizem “não”, principalmente para mulheres com a minha aparência. A área científica já é bem difícil. Ficar com o estigma de ser uma pessoa que não trabalha bem em equipe ou que não contribui o suficiente poderia afundar a minha carreira.
Segundo pesquisas, uma mulher que fala de uma a duas vezes em uma situação profissional ou acadêmica é vista como alguém que está monopolizando a conversa. Imagino que se disser “não” a um colega de trabalho uma ou duas vezes, isso vai ser a única coisa que ele vai lembrar sobre você.
Gaslighting? — Ele olhou confuso para o interruptor de luz da cozinha. — Quando você diz que uma coisa está incomodando, ou tenta impor limites, e a outra pessoa tenta fazer você achar que está exagerando, ou que é coisa da sua cabeça.
A falta de privacidade sempre o incomodara, mas agora, sem romantizar o passado, percebia que havia sido um privilégio. Um que ele não pedira para receber, mas do qual se beneficiara mesmo assim.
Queria Naledi Ajoua, mesmo que não tivesse direito sobre ela – apesar do noivado, somente ela poderia agraciá-lo com aquela honra.
Esse era o problema com as pessoas que passavam pelas suas defesas. Elas acabariam fazendo cagadas, algumas pequenas, outras grandes. Eram as atitudes que vinham em seguida que importavam.
Ledi imaginou se o ímã era sempre defeituoso ou se, às vezes, ela tinha tanto medo de ser machucada que se machucava sozinha.
As pessoas que você mais ama são as que mais irão machucá-la, eis uma das grandes charadas da condição humana.
Se tem uma coisa útil que eu aprendi na vida é que não posso fazer alguém se importar comigo. Mas posso ser melhor em deixar entrar as pessoas que se importam
Acho que a gente nunca se livra dos nossos pais.