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Kindle Notes & Highlights
Que significava o quintal para Eduardo? Significava chão remexido com pauzinho, caco de vidro desenterrado, de onde teria vindo?, minhoca partida em duas ainda mexendo, a existência sempre possível de um tesouro, poças d’água barrenta na época das chuvas, barquinho de papel, uma formiga dentro, a fila de formigas que ele seguia para ver aonde elas iam. Iam ao formigueiro. Um pé de manga-sapatinho, pé de manga-coração-de-boi. Fruta-de-conde, goiaba, gabiroba. Galinheiro. A galinha branca era sua, atendia pelo nome:
Gide disse que o diabo desta vida é que entre cem caminhos, temos de escolher apenas um e viver com a nostalgia dos outros noventa e nove. Pois bem: a literatura é como se você tivesse de renunciar a todos os
A arte é uma maneira de ser dentro da vida.
O futuro se converte, a cada instante, em passado. O presente não existe. Vivemos a morte desde o nascimento.
Somos traduzidos em palavras. As palavras não querem dizer nada. Servem só para formar uma verdade comum a todos, que afinal não é de ninguém.
O sentimento não é bem de arrependimento, é uma espécie de nostalgia — já lhe disse isso. Nostalgia daquilo que a gente não é, dos lugares onde não esteve, das coisas que não chegou a fazer.
Era como se ele, apenas ele, excedendo a si mesmo, num movimento brusco saltasse fora da engrenagem e, desgovernado, pudesse ver de longe o mundo pacífico e feliz de que não sabia participar.
De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro.
“Não posso responsabilizar ninguém pelo destino que me dei. Como único responsável, só eu posso modificá-lo. E vou modificar.”
era um estado permanente de angústia, crônico, suportável — era a fragilidade do ser diante da brutalidade e da crueza da vida, mas era ainda a vida, o existir e se saber presente. A evasão da realidade, o vórtice negro em que se sentira cair ali na janela, como num poço, é que era a angústia, o desespero, a negação de si mesmo — o não ser, o vazio, o nada.
Há uma diferença entre lembrar e recordar; recordar é reviver, lembrar é apenas saber. O que é recordado fica, o que é lembrado é também esquecido.
preciso escutar o silêncio, não como um surdo, mas como um cego! O silêncio das coisas tem um sentido. Quem não entende isso não entende nada.
as palavras estão em quem fala e em quem escuta. O silêncio fica entre os dois, intocado, um silêncio enorme, intransponível. Ao passo que a música está nela mesma, isto é, no que resta além de nós. E o resto é silêncio.
Poesia não é a notícia de determinada emoção poética ou da coisa que a provocou. Poesia é a própria emoção poética integrada na coisa que a provocou.