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June 5 - June 5, 2024
ROBERT LOUIS STEVENSON nasceu em Edimburgo, em 1850. Filho de próspero engenheiro civil, esperava-se que seguisse a profissão paterna, porém finalmente lhe foi permitido estudar direito na Universidade de Edimburgo.
A natureza áspera do clima escocês o obrigou a viver longos períodos no exterior, até se fixar em Samoa, onde morreu em 3 de dezembro de 1894.
A formação calvinista de Stevenson nele instilou a preocupação com a predestinação e o fascínio pela existência do mal. Em O médico e o monstro, ele explora o lado sombrio da psique humana,
“sua redescoberta da arte da narrativa, dos artifícios conscientes e sagazes para contar uma história de modo a obter o máximo efeito em matéria de clareza e suspense, significaram o nascimento do romance de aventura como o conhecemos”.
tinha uma sólida tolerância com outras pessoas, às vezes se surpreendendo — quase com inveja — diante da excitação espiritual que as levava a cometer malfeitos: em casos extremos, estava sempre mais inclinado a ajudar do que a censurar. “Sou partidário da heresia de Caim”,1 costumava dizer com um toque de excentricidade, “deixo que meu irmão vá para o inferno da forma que melhor lhe aprouver.” Por pensar assim, muitas vezes era o último conhecido respeitável de homens a caminho da ruína, como também a última boa influência sobre eles.
Não, senhor, tenho uma regra: quanto mais esquisito parece, menos eu pergunto.”
Há algo de errado com suas feições; alguma coisa desagradável, na verdade detestável. Nunca vi um homem com quem eu tivesse antipatizado tanto, e apesar disso nem sei por quê. Ele deve ter algum defeito, dá uma forte impressão de possuir alguma deformidade, conquanto eu não saiba onde.
Estabelecia que, no caso de morte de Henry Jekyll, médico, doutor em direito canônico e em direito civil, membro da Academia Real de Ciências,1 todas as suas posses deveriam passar às mãos de seu “amigo e benfeitor Edward Hyde”; mas também que, no caso do “desaparecimento ou da ausência inexplicável do dr. Jekyll por prazo superior a três meses”, o referido Edward Hyde deveria de imediato assumir o lugar de Henry Jekyll, livre de qualquer ônus ou obrigação, excetuado o pagamento de pequenas quantias aos empregados domésticos do médico.
O sr. Hyde era pálido e quase um anão, dava a impressão de ser aleijado, sem nenhuma deformidade identificável,7 possuía um sorriso desagradável,
Utterson ficou surpreso ao encontrar uma obra religiosa, pela qual Jekyll muitas vezes manifestara grande apreciação, anotada em sua própria caligrafia com incríveis blasfêmias.
Embora uma pessoa profundamente dúplice, de modo algum eu era um hipócrita; ambas as partes dentro de mim eram perfeitamente autênticas.
Dia após dia, e dos dois lados de minha inteligência, o moral e o intelectual, fui me aproximando mais e mais da verdade, cuja descoberta parcial me valeu um desastre pavoroso: a de que o homem não é de fato uno, e sim duplo.
A maldição da humanidade foi que esses dois feixes incongruentes tivessem sido amarrados juntos — que no ventre angustiado da consciência aqueles gêmeos opostos lutem continuamente.
segunda forma e fisionomia, não menos naturais para mim por serem a expressão dos elementos inferiores da minha alma, trazendo a marca de tal subordinação.
Assim como o bem iluminava o rosto de um, o mal estava clara e decisivamente estampado na face do outro.
No entanto, ao contemplar a feia imagem no espelho, não senti nenhuma repugnância, e sim o impulso de lhe dar boas-vindas. Aquele também era eu. Parecia natural e humano.
A meu juízo, isso se devia ao fato de que todos os seres humanos que conhecemos são uma mescla do bem e do mal, enquanto Edward Hyde, exceção nas fileiras da humanidade, era o puro mal.
Apesar de minhas circunstâncias serem estranhas, os termos desse debate são tão antigos e banais quanto o ser humano; praticamente os mesmos atrativos e temores estão em jogo para qualquer pecador sujeito à tentação e trêmulo de apreensão; e comigo aconteceu, como ocorre com a maioria de meus semelhantes, escolher a parte melhor, sem ter, no entanto, a força necessária para sustentar a opção feita.
Daí as brincadeiras simiescas que fazia comigo, escrevendo em minha caligrafia blasfêmias nas páginas dos livros,
Aqui, pois, ao descansar a pena e lacrar minha confissão, ponho fim à vida infeliz de Henry Jekyll.
1850 Robert Lewis Balfour Stevenson (tendo mais tarde adotado a forma afrancesada de “Louis”) nasce em 13 de novembro de 1850, em Edimburgo. Seu pai, Thomas, pertencia a uma família de engenheiros (famosos na Escócia por seus faróis); a mãe, Margaret Isabella Balfour, vinha de uma família de advogados.
publica A ilha do tesouro, um dos mais famosos livros de aventuras para jovens, começando então a firmar sua reputação como escritor.
1886 Em janeiro, publica O médico e o monstro, originalmente previsto para o Natal de 1885, mas adiado porque o mercado se encontrava saturado. As primeiras edições do romance preservam a data de 1885 na página de rosto. Essa foi a obra que consolidou a reputação de Stevenson.
1888 Primeira viagem de Stevenson aos mares do Sul. (Na parte leste de Londres, ocorrem os assassinatos de Whitechapel [Jack, o Estripador], enquanto num teatro londrino é encenada a peça baseada no romance O médico e o monstro. A exibição é suspensa para não melindrar o público.)
1894 Publica The Ebb-Tide. Morre em Samoa, em dezembro, de tuberculose.
narrativa que, repleta de especulações acerca de aparências e relacionamentos, é conduzida pela pergunta mais difícil de responder: o que Jekyll vê em Hyde?
Esse desejo de ver Hyde tem um significado específico que se perdeu para nós devido à revisão que Stevenson fez do romance desde sua concepção original até o texto definitivo. Numa versão preliminar, ele foi mais explícito sobre as suspeitas de Utterson. De início, o advogado parece contemplar duas hipóteses: a de que Hyde está chantageando Jekyll ou a de que Hyde é filho ilegítimo de Jekyll. Ambas explicam seu medo de que uma “desgraça” esteja por trás das ações do amigo. No que é chamado de “cópia do impressor”, lê-se que, tendo visto Hyde, Utterson decide: “Este nunca poderia ser o rosto de
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O recurso ao indescritível é uma característica da ficção gótica e fantástica.
Como pessoa que cuidava de homens arruinados, não escaparia a Utterson que essa frase está associada a dois problemas que preocupavam os médicos e moralistas de então: a sífilis e os efeitos supostamente patológicos da masturbação, ambos vistos como uma punição pela indulgência carnal.
Na época não havia uma cura efetiva para a sífilis, doença envolta em mistério e silêncio.
A ansiedade de Jekyll em encontrar o produto químico e sua relutância em aparecer em público corresponderiam a essas condições.
A frase “está escrito na parede” significa que a queda de alguém é inevitável.