Vamos Comprar um Poeta
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Read between November 14 - November 14, 2024
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Para que é que servem? Os artistas? Sim. Para nada. São inutilistas. O que é que este poeta faz? Poemas, respondi eu. Para que servem? Para muitas coisas. Há poemas que servem para ver o mar.
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O poeta quis parar e eu fiz-lhe a vontade, apesar da hipótese de nos virmos a arrepender e pagarmos esta decisão com uma constipação/gripe/pneumonia e despesas de farmácia, ou pior, com um aumento da prestação do seguro de saúde, ou pior, gastos com a agência funerária (isso deixaria o pai furioso, com todas as dificuldades que já tínhamos em casa e na fábrica).
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Um destes dias, vais rir-te, estava a aspirar e olhei para o quarto do poeta, para aquilo que ele escreveu na parede, e sabes o que vi? O mar? Não sejas tola! Não, o que eu vi foi que um dia teria de limpar aquilo e que era só isso a minha vida. Ninguém me dá mais crédito do que isso. Limpar, cozinhar, enfim, é uma maneira de contribuir para a dinâmica social, mas deu-me... como dizer isto? Um vazio? Isso.
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O poeta dizia que os versos libertam as coisas. Que quando percebemos a poesia de uma pedra, libertamos a pedra da sua “pedridade”. Salvamos tudo com a beleza. Salvamos tudo com poemas. Olhamos para um ramo morto e ele floresce. Estava apenas esquecido de quem era. Temos de libertar as coisas. Isso é um grande trabalho. Sei que muitas mudanças na minha vida aconteceram graças a ele. Por isso, jamais deixarei de me sentar ao seu lado, com metáforas na garganta, a trocar inutilidades. E, antes de me deitar, repito a oração que aprendi com o poeta: Tenho milhas a percorrer antes de dormir.