O amante
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Read between July 16 - July 16, 2023
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Muito cedo foi tarde demais em minha vida. Aos dezoito anos, já era tarde demais.
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Tudo começou desse jeito para mim, por esse rosto visionário, extenuado, esses olhos pisados antes do tempo, antes da experiência.
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Há uma tempestade que sopra no interior das águas do rio. Um vento que se debate.
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Já estou ciente. Sei algumas coisas. Sei que não são as roupas que tornam as mulheres mais ou menos belas, nem os cuidados de beleza, nem o preço dos cremes, nem a raridade ou o valor dos adornos. Sei que o problema está em outro lugar. Não sei onde. Só sei que não é onde as mulheres pensam que está.
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Essa omissão das mulheres em relação a si mesmas, praticada por elas mesmas, sempre me pareceu um erro. Não era preciso atrair o desejo. Ele estava em quem o despertava ou não existia. Ele já estava ali desde o primeiro olhar ou jamais teria existido. Ele era o entendimento imediato da relação de sexualidade ou não era nada. Isso, também, eu soube antes da experiência.
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nada tem tempo de fluir, tudo é levado pela tempestade profunda e vertiginosa da correnteza interna, tudo fica em suspenso na superfície da força do rio.
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Não que precise chegar a alguma coisa, o que é preciso é sair de onde estamos.
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Nunca escrevi, e pensei que escrevia, nunca amei, e pensei que amava, nunca fiz nada a não ser esperar diante da porta fechada.
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Das noites eu me lembro. O azul ficava além do céu, ficava atrás de todas as densidades, recobria o fundo do mundo. O céu, para mim, era esse rastro de puro brilho que atravessa o azul, essa fusão fria para além de toda cor.
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A luz caía do céu em cascatas de pura transparência, em trombas de silêncio e imobilidade. O ar era azul, podia-se apalpá-lo. Azul. O céu era aquela palpitação contínua do brilho da luz. A noite iluminava tudo, todo o campo das duas margens do rio a perder de vista. Cada noite era especial, cada uma era o próprio tempo de sua duração. O som das noites era o dos cães do campo. Uivavam para o mistério. Respondiam de aldeia em aldeia, até a consumação total do espaço e do tempo da noite.
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Tem um riso de ouro, de despertar os mortos, de despertar quem quer que ouça o riso das crianças.
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Era preciso avisar as pessoas dessas coisas. Informar que a imortalidade é mortal, que pode morrer, que aconteceu e ainda acontece. Que ela não se mostra enquanto tal, nunca, que ela é a duplicidade absoluta. Que ela não existe no detalhe, mas apenas como princípio.