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melhor queimar de uma vez do que ir se apagando aos poucos, certo?
Minha mãe diz que sou um verdadeiro pisciano.
Uma perspectiva positiva gera uma experiência positiva. É esse o conceito básico por trás desse exercício de escrita.
Às vezes acho que a terapia é só papo-furado; outras, acho que o problema, na verdade, é que nunca consigo mergulhar de cabeça nela.
Ultimamente, ela tem esse cansaço permanente no olhar que parece ter menos a ver com o quanto ela consegue dormir por noite e mais com estar começando a aparentar a idade que tem.
Minha mãe me encara como se eu fosse uma mancha na banheira que ela não consegue limpar, não importa que produto use.
Ficção sempre soa bem, mas não ajuda muito quando a realidade vem e joga você de cara no chão.
Quando enrola sua língua, prendendo as palavras na sua cabeça. Quando deixa você almoçando sozinho.
Sou deixado com uma solidão tão profunda que ela ameaça escorrer pelos meus olhos. Não tenho ninguém. Infelizmente, isso não é uma ficção. É uma realidade completamente natural, cem por cento orgânica e não processada. Tem o dr. Sherman, mas ele cobra por hora.
dr. Sherman, e agradar minha mãe, mas eles não querem saber dos meus sentimentos de verdade. Só querem que eu fique bem, ou pelo menos que eu diga que estou bem.
Agora nós dois podemos fingir que temos amigos.
como vou saber do que os outros são capazes? Não faço nem ideia do que eu sou capaz. Posso acabar surpreendendo a mim mesmo.
Eu não afeto ninguém. Sou inexistente.
dr. Sherman diz que tenho tendência a tratar tudo como uma grande catástrofe, e que nada é tão ruim quanto imagino que será, mas essa situação é a prova definitiva de que eu estava certo em me preocupar durante os últimos
Se você não se encaixa em um dos grupos deles, é deixado de lado.
Para ser sincero, são mais reações por reflexo. Ou algo mais profundo. Parte da minha natureza. É o que faço. Estrago as coisas. Sempre. Querendo ou não. O que estou estragando pode ser a melhor coisa da minha vida. E eu vou saber disso. E ainda assim não vou conseguir evitar. Talvez por medo.)
quando não estamos com a cabeça no lugar, qualquer besteira pode se transformar em algo insuportável e, de repente, você pega um caminho sombrio e não consegue achar mais o caminho de volta.
No fim, a única solução é se autodestruir.)
Eu
Assim como eu, ele existia em segundo plano. Nossos caminhos não se cruzavam e, caso tenham se cruzado, nenhum de nós chegou a notar.
Não quero morrer. Finalmente tenho essa certeza. Só queria que a vida, por um dia, ou pelo menos por algumas horas, passasse sem dificuldades. Nunca consigo relaxar e só me deixar levar.
Vivo prestes a afundar.
É com essa existência que estou acostumado, passar despercebido.
Um dos motivos por que minha mãe escolheu o dr. Sherman, além do fato de que nosso plano de saúde cobria as sessões dele, foi o fato de ele ser jovem. Para mim, ele parece velho, mas minha mãe diz que ele tem “só” trinta anos.
às vezes tenho a impressão de que nem o melhor terapeuta do mundo poderia resolver os meus problemas.
Tudo que consigo fazer é esperar enquanto a água me cerca. Estico o pescoço para cima para tomar meu último fôlego. Estou ofegante. E, então, quando mal consigo prender o ar, ela para. A água recua, sempre. Nunca me afogo, mas não importa. A sensação de quase me afogar é ainda pior do que realmente me afogar. Afogar-se de verdade é paz. Quase se afogar é agonia pura.
o que acontece quando as pessoas partem, acho. Quando elas morrem, você não precisa se lembrar de todas as coisas ruins. Elas podem ficar exatamente como você quer que elas sejam para sempre. Perfeitas.
Onde era o meu lugar? Perto de seu centro? Ou nas bordas? “O que é isso?”, ele perguntou, quebrando
Estar com ele era como estar viciado em uma droga. Quando paramos de nos ver, entrei em abstinência. Foi um longo verão de trevas.
Se a dor está em você, ela está em você. Vai te seguir por toda parte. Não dá para fugir dela. Não dá para apagá-la. Não dá para deixá-la de lado; ela sempre volta.
Pelo que andei pensando, depois de tudo que aconteceu, talvez só exista uma maneira de sobreviver a ela. É preciso deixar que ela entre. Deixar que machuque você. Não esperar. Ela vai alcançar você em algum momento. É melhor que seja agora.
Porque não existem versões diferentes da história. Só existe uma. Uma história. A verdade.
Como ela pode me conhecer se nem eu me conheço? O que digo, o que penso, não consigo saber quais partes de mim são reais e quais são inventadas.
Tento, de novo e de novo, chegar a mim mesmo. Como é possível, se já estou aqui, andando na minha própria pele?
(Não consegui assumir.) (Tentei me anestesiar, desviar a dor, sem me dar conta de que ela sempre volta.) (Ela sempre volta.) (Deixe que ela entre.)
O eu que sou não é o mesmo que eu era. Assim como o eu que sou não é o mesmo que serei. Essas versões de mim eu não posso mudar ou prever. Nem sei ao certo se exerço alguma influência sobre o eu atual. Mas ele é tudo que tenho. Eu não deveria resistir a isso.
não recebi nenhuma ajuda ou compaixão porque ninguém sabia pelo que eu estava passando. E, de qualquer forma, eu lá merecia a compaixão de alguém?
Era muito mais fácil ser solitário quando eu era ingênuo, quando não entendia o significado de fazer parte de algo, de amar e ser amado. Agora eu sabia muito bem.
Talvez, algum dia, tudo isso pareça uma memória distante. Talvez eu encontre um jeito de carregar o passado sem que ele pese sobre mim. Talvez, um dia, eu possa olhar no espelho e ver algo menos feio.
Há tantos como nós, almas solitárias. Todos nós, que construímos este lugar. Aqueles que vão ver o pomar crescer. Aqueles que perdemos. Seguimos em frente, juntos. Subindo, caindo, alçando voo. Tentando nos aproximar do centro de tudo. Mais perto de nós mesmos. Mais perto um do outro. Mais perto de algo real.