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Kindle Notes & Highlights
A maior parte de nossas configurações-padrão é herdada de nossos pais. Elas estão arraigadas, programadas, como a placa-mãe de um computador. É essa configuração de fábrica que apresentamos quando chegamos ao nosso limite mental e não conseguimos raciocinar, a que foi instalada dentro de nós durante nossa criação. É por causa dela que nos pegamos dizendo coisas que na verdade não queremos dizer; que agimos e reagimos de maneiras que nem sempre são as mais adequadas; que nos sentimos mal por acreditar, lá no fundo, que existe um jeito melhor de fazer nossos filhos agirem certo, ainda que não
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Desenvolver a autoconsciência e a tomada de decisões refletidas em relação ao processo de ação e reação é o primeiro passo na direção de uma mudança de vida radical. É assim que nos tornamos pais e mães melhores — e também pessoas melhores.
E se lhe disséssemos que brincar livremente deixa as crianças menos ansiosas e mais resilientes? Está provado que a resiliência é um dos fatores mais importantes para o sucesso de um adulto. A capacidade de “dar a volta por cima”, controlar as emoções e lidar com o estresse é fundamental em um adulto saudável e produtivo.
Na verdade, durante muito tempo os dinamarqueses não entravam na escola antes dos sete anos.
Ainda hoje, as aulas dos dinamarqueses de até dez anos terminam às duas da tarde, embora os pais possam optar por deixar os filhos o resto do dia na chamada “escola de tempo livre” (skolefritidsordning), onde são, sobretudo, incentivados a brincar. Parece incrível, mas é real!
Um fato interessante que a maioria das pessoas não sabe a respeito do Lego é que ele é dinamarquês. Criado em 1932 por um carpinteiro, o brinquedo foi batizado de Lego como abreviação das palavras “leg godt”, que significam “brincar bem”. Desde o início, a ideia de usar a imaginação já estava presente.
Nas traduções para o inglês, os adultos se empenharam em poupar as crianças de certas coisas, mas, na Dinamarca e em versões mais antigas, os leitores têm mais liberdade para chegar a seus próprios juízos e conclusões. Os dinamarqueses acreditam que também devemos falar de tragédias e acontecimentos incômodos, porque aprendemos mais sobre o caráter com aquilo que nos faz sofrer do que com aquilo que nos deixa contentes. É importante ter contato com todos os aspectos da vida, gerando autenticidade, empatia e um respeito mais profundo pela humanidade. Isso também nos ajuda a sentir gratidão
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Para os dinamarqueses, a integridade começa pela compreensão de nossas próprias emoções. Se ensinarmos nossos filhos a reconhecer e aceitar seus verdadeiros sentimentos, bons ou ruins, e a agir de forma coerente com os próprios valores, eles não se sentirão esmagados por problemas e momentos ruins da vida. Saberão agir de acordo com aquilo que acreditam ser o certo.
honestidade emocional, e não a perfeição, é o que os filhos de fato necessitam dos pais. A criança observa o tempo todo suas reações de raiva, alegria, frustração, contentamento e êxito, e como você as expressa diante dos outros. É
Sob pressão ou excesso de elogios, a criança pode se acostumar a fazer as coisas em busca de reconhecimento em vez de autossatisfação, e internaliza isso para o resto da vida. Passa a estimular metas extrínsecas — a busca de algo externo a si mesmo para ficar feliz —, que podem até levar ao sucesso sob certo ponto de vista, mas não vão necessariamente despertar aquele sentimento profundo de felicidade e orgulho de si mesmo que todos nós tanto buscamos. Como já dissemos, pode, na verdade, engendrar ansiedade e depressão.
Quando ela é constantemente elogiada por ser inteligente ou por apresentar um talento ou dom natural, passa a ter aquilo que é chamado de “mentalidade fixa” (ideia de que a inteligência lhe pertence e que isso nunca vai mudar).
“mentalidade de crescimento” (ideia de que suas habilidades podem ser aprimoradas caso se esforce para isso).
A maioria de nós não percebe que o modo como vemos as coisas é uma decisão inconsciente. Temos a impressão de que nossa percepção é a verdade; mas é só a nossa verdade. Não encaramos nossa percepção como uma forma que adquirimos de ver as coisas (muitas vezes absorvida de nossos pais e da nossa cultura). Simplesmente a enxergamos como o jeito de ser das coisas.
“Mais que a educação, mais que a experiência, mais que o treinamento, o nível de resiliência é o que determina quem vai ter êxito e quem vai fracassar. Isso vale para a ala de pacientes com câncer do hospital, para os Jogos Olímpicos e para a diretoria de uma empresa”.
Dizer coisas como “Ela é complicada para comer”, “Ele odeia ler” ou “Ele nunca escuta” faz com que isso defina quem é a criança. A realidade é que, por trás de cada comportamento, existe um estado de humor ou um sentimento. Não é uma coisa fixa — pode ser cansaço, fome ou irritação. Quanto mais separarmos nossos filhos de seu comportamento, mais mudamos a forma como os enxergamos e, em consequência, como eles se enxergam. Assim, a criança fica sabendo que está tudo bem com ela e que seu comportamento não está associado a seu destino. Como vimos, os rótulos podem se tornar uma profecia
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perdoaremos. Imagine se tivéssemos dito que o que Gary fez foi horrível. A criança interioriza isso. Quando nosso filho fizer algo parecido no futuro, vai saber que o condenamos. Se confiarmos nos outros e soubermos perdoar, nossos filhos saberão que também perdoaremos o mau comportamento deles. Se afirmarmos que errar é humano e que é possível ver outros aspectos positivos nas coisas, nossos filhos também serão menos severos consigo mesmos quando errarem.
O problema de criticar os outros e de lutar para ser o melhor em todas as circunstâncias é que, quando prevalece nosso próprio sentimento de vulnerabilidade, isso nos causa grande desconforto e ansiedade. E o que as pessoas fazem quando têm esse tipo de sensação? A reação mais comum é negar. Comer, ver TV, fazer compras, tomar remédios, consumir drogas e álcool maquiam os problemas e dão a falsa sensação de que está tudo bem. Mas isso não funciona de verdade, por mais que tentemos. Em sua palestra na conferência TED sobre vulnerabilidade, Brené Brown disse, sobre os Estados Unidos: “Somos a
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primatologista Frans de Waal demonstrou, em seu livro A era da empatia, que, na verdade, ela é encontrada em todo tipo de animal. Pesquisas concluíram que existe empatia entre camundongos, macacos, golfinhos, elefantes e outros bichos, embora o público em geral pouco saiba a esse respeito.
A empatia facilita nossa conexão com o outro. Ela se desenvolve ainda na primeira infância, através da relação com as figuras de apego. Primeiro, a criança aprende a sincronizar suas emoções e humores com os da mãe, depois com os de outras pessoas. O que a mãe sente, o filho sente e espelha. É por isso que coisas como contato visual, expressão facial e tom de voz são tão importantes no princípio da vida: são nossa primeira forma de sentir confiança e apego e de começar a desenvolver empatia.
Crianças a quem se diz constantemente como se sentir ou se comportar não terão o mesmo desenvolvimento daquelas cujos sentimentos são reconhecidos e às quais se permite expressar um leque integral de emoções. Elas podem se sentir desconectadas daquilo que realmente
Nele, são mostradas aos alunos fotos de crianças, cada uma apresentando uma emoção diferente: tristeza, raiva, frustração, felicidade etc.
Uma parte essencial desse programa é que os educadores e as crianças não julgam as emoções que veem. Eles apenas as reconhecem e respeitam.
Por isso, talvez não surpreenda saber que a empatia é um dos fatores mais importantes na formação de líderes, empreendedores, gerentes e negócios bem-sucedidos. Ela reduz o bullying, aumenta nossa capacidade de perdoar e melhora muito as relações e a conectividade social.
porque conseguir imaginar com facilidade que alguém pode estar passando por dificuldades nos torna muito mais aptos a ver o comportamento dessa pessoa sob uma ótica compreensiva. Em
Talvez possam propor um acordo — Lisa brinca com a pá por mais cinco minutos, depois Mark pode pegá-la emprestada, enquanto a menina começa outra brincadeira. Compartilhar e brincar juntos é divertido — quando a criança está a fim. Às vezes não há problema em dizer não, embora aprender a compartilhar também seja essencial. No longo prazo, esse tipo de lição pode ter um enorme efeito. É importante ensinar a uma criança que ela não será forçada a fazer alguma coisa apenas para acalmar outra ou para facilitar as coisas.
Um dos pilares do método dinamarquês para ensinar noções de humanidade é não julgar: os pais evitam fazer juízos severos demais a respeito dos filhos, dos amigos, dos filhos dos amigos ou da família. Todos os familiares têm o direito de ser ouvidos e levados a sério, e não apenas aqueles que gritam mais alto. Acima de tudo, é necessário ser tolerante consigo mesmo e com os outros.
Costuma-se descrever pais autoritários como pouco reativos e altamente controladores. A reação de um pai ou mãe autoritário, quando o filho pergunta “Por quê?”, costuma ser “Porque estou mandando”. O filho não é incentivado a perguntar, apenas a fazer como mandaram. Existem alguns problemas associados à criação autoritária. Primeiro, o excesso de controle pode gerar filhos rebeldes. Segundo, ao não oferecer muito apoio além de “Porque estou mandando”, “Ajeite essa meia”, “Levante a cabeça” e “A porta da rua é serventia da casa”, os pais abandonam a criança à própria sorte no que se refere a
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Os dinamarqueses esperam que os filhos sejam respeitosos, e o respeito é uma via de mão dupla — controlar pelo medo é problemático por causa disso. Existe uma diferença entre ser firme e aterrorizar.
Ter medo de uma regra é algo muito diferente. Viver num ambiente hostil, com muita gritaria, tampouco ajuda. No futuro, você não saberá se seu filho está sendo sincero com você — talvez ele só esteja dizendo aquilo que acha que você quer ouvir. O medo é poderoso, mas não gera uma atmosfera de proximidade e confiança. Sua influência será muito mais positiva e seus relacionamentos, mais próximos, se você promover um clima de respeito e tranquilidade, em que não exista o medo da culpa, da vergonha ou da dor.
As regras podem ser qualquer coisa, desde não chegar atrasado até não interromper e respeitar os outros. O importante é que todos decidam juntos o código de conduta, que varia de uma sala para outra. Isso é feito todos os anos, porque os alunos envelhecem e amadurecem, passando a ter um senso de responsabilidade diferente.
Pense nas coisas que você menos gosta de ouvir e se olhe no espelho. É essa a reação que seu filho terá. Se não gosta de berreiro e gesticulação exaltada, não faça isso. Se não gosta de agressões físicas, não agrida.
Vale a pena? É isso que você tem de analisar e resolver com seu parceiro: o que é importante cumprir e em quais momentos. Talvez a melhor hora não seja na casa dos amigos ou no restaurante. Que regras de fato importam e em quais momentos você pretende educar seu filho? Pergunte a você mesmo se ao fazer uma cena em público está sendo respeitoso consigo mesmo e com a criança.
Quando crescem, isso passa. Se você for firme no que realmente importa, elas vão entender. O jeito certo de atravessar esses períodos sem perder a compostura é ter paciência e manter o foco no que é importante. Durante um tempo, a filha de Jessica
Tenha sempre em mente o seguinte: ensinar uma criança a gostar de comer e a respeitar a comida é um imenso presente. É o alimento que nos sustenta, e ter uma relação sadia e amorosa com ele pode levar a uma vida inteira de felicidade. Avalie sua própria relação com a comida e certifique-se de que ela é a melhor possível. A hora da refeição, afinal de contas, precisa ser um momento agradável de socialização familiar.
Diminuir a tensão tira o peso das situações, em particular na hora de comer. Lembre: também em relação à comida seu filho passará por fases. Propiciar opções saudáveis nas refeições, cortar os lanchinhos pouco nutritivos e tornar a hora de comer prazerosa — e não um campo de concentração — ensinará a seu filho que esse é um momento agradável para curtir.
Oriente-os, cuide deles, eduque-os, em vez de simplesmente puni-los e achar que precisam de mais castigos. Busque alternativas para lidar com comportamentos difíceis. Não rotule as crianças como “malcriadas”, “manipuladoras” ou “difíceis”. Palavras têm poder. Um comportamento é apenas um comportamento — não define seu filho.
Lembre: a vida dá voltas Gentileza gera gentileza. Maldade gera maldade. Descontrole gera descontrole. E calma gera calma.
Por ser americana, Jessica tinha uma família bem diferente. Via de regra, eles só se encontravam por curtos períodos, e depois sentiam necessidade de ficar um tempo afastados — respeitosamente, claro, porque tinham consciência de que o afastamento era parte de seu estilo de vida. Para os americanos, estar em família durante um longo e ininterrupto período seria quase uma violação dos direitos individuais.
Temos tempo de sobra para nos preocupar com a vida e com aquilo que nos estressa, e a felicidade vem da capacidade de deixar isso um pouco de lado e aproveitar o tempo ao lado das pessoas que amamos.
americanos glorificam os feitos individuais e a realização pessoal, usando termos como self-made man, e idolatram heróis em todos os setores da vida, da política à sociedade, passando pelo esporte. Quando se assiste a um jogo, pouco se fala de trabalho em equipe; em vez disso, é o indivíduo que se destaca, o quarterback do futebol americano ou o arremessador do beisebol. É a estrela que brilha mais que o restante.
Os resultados indicaram que os participantes com mais relações sociais tinham menor probabilidade de desenvolver a gripe que aqueles que levavam uma vida mais isolada. O sistema imunológico das pessoas que têm muitos amigos simplesmente funcionou melhor, e elas puderam combater o vírus da gripe com mais eficiência, muitas vezes sem apresentar qualquer sintoma. Como os hormônios do estresse parecem ter um efeito sobre a resposta imunológica, faz sentido que uma vida social intensa ajude o organismo a se manter forte, controlando o estresse fisiológico.
Hygge é uma palavra que só existe na língua dinamarquesa e descreve um tipo especial de socialização. É como se o hygge fosse um espaço físico que acomoda toda a sua família — ele será hyggeligere (aconchegante) se todos compreenderem e fizerem um esforço para cumprir as regras. O juramento do hygge é algo a ser discutido e refletido com antecedência, para que todos os que entrarem no espaço do hygge para um jantar de família, um churrasco no fim de semana ou uma simples reunião familiar entendam as “regras básicas”. Quando todos sabem que é hora do hygge, poderão se esforçar para propiciar
Nós concordamos em: Desligar os celulares e tablets. Deixar os problemas do lado de fora. Momentos não faltarão para pensar em nossos problemas. O hygge é a hora de criar um ambiente seguro para relaxar com os outros e esquecer aquilo que causa estresse no dia a dia. Não ficar reclamando à toa. Buscar maneiras de ajudar, para que ninguém fique sobrecarregado. Acender velas para criar uma atmosfera gostosa. Fazer um esforço para desfrutar da comida e da bebida. Não tocar em assuntos polêmicos, como política. Tudo o que gera briga ou discussão não é hyggeligt. Não faltarão ocasiões para esse
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Não ficar se gabando de si mesmo. Isso pode instaurar sutilmente a discórdia. Não competir (pensar no “nós”, não no “eu”). Não falar mal dos outros nem focar no lado negativo. Criar brincadeiras das quais todo o grupo possa participar. Fazer um esforço consciente