Memórias Póstumas de Brás Cubas
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A obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus.
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A vida estrebuchava-me no peito, com uns ímpetos de vaga marinha, esvaía-se-me a consciência, eu descia à imobilidade física e moral, e o corpo fazia-se-me planta, e pedra, e lodo, e cousa nenhuma.
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Eu deixo-me estar entre o poeta e o sábio.
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Não importa ao tempo o minuto que passa, mas o minuto que vem.
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Dessa terra e desse estrume é que nasceu esta flor.
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Não chores, meu bem; não queiras que o dia amanheça com duas auroras.
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mas a musa do capitão varrera-me do espírito os pensamentos maus; preferi dormir, que é um modo interino de morrer.
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Confesso que foi uma diversão excelente à tempestade do meu coração. Eu, que meditava ir ter com a morte, não ousei fitá-la quando ela veio ter comigo.
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Senhores vivos, não há nada tão incomensurável como o desdém dos finados.
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Volúpia do aborrecimento: decora esta expressão, leitor; guarda-a, examina-a, e se não chegares a entendê-la, podes concluir que ignoras uma das sensações mais subtis desse mundo e daquele tempo.
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Mas é isso mesmo que nos faz senhores da terra, é esse poder de restaurar o passado, para tocar a instabilidade das nossas impressões e a vaidade dos nossos afetos.
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Cada estação da vida é uma edição, que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes.
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Não lhe valeu a imensidade azul, nem a alegria das flores, nem a pompa das folhas verdes,
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relógio parava, eu dava-lhe corda, para que ele não deixasse de bater nunca, e eu pudesse contar todos os meus instantes perdidos.
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o relógio é definitivo e perpétuo. O derradeiro homem, ao despedir-se do sol frio e gasto, há de ter um relógio na algibeira, para saber a hora exata em que morre.
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Vê agora a neutralidade deste globo, que nos leva, através dos espaços, como uma lancha de náufragos, que vai dar à costa: dorme hoje um casal de virtudes no mesmo espaço de chão que sofreu um casal de pecados. Amanhã pode lá dormir um eclesiástico, depois um assassino, depois um ferreiro, depois um poeta, e todos abençoarão esse canto de terra, que lhes deu algumas ilusões.
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Poderia eu tirar ao leitor o gosto de notar por si mesmo a frieza, a perspicácia e o ânimo dessas poucas linhas traçadas à pressa;
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mas o eflúvio da manhã, quem é que o pediu ao crepúsculo da tarde?
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saudades, ambições, um pouco de tédio, e muito devaneio solto.
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Leitor ignaro, se não guardas as cartas da juventude, não conhecerás um dia a filosofia das folhas velhas, não gostarás o prazer de ver-te, ao longe, na penumbra, com um chapéu de três bicos, botas de sete léguas e longas barbas assírias, a bailar ao som de uma gaita anacreôntica. Guarda as tuas cartas da juventude!
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se guardares as cartas da juventude, acharás ocasião de “cantar uma saudade”. Parece que os nossos marujos dão este nome às cantigas de terra, entoadas no alto-mar. Como expressão poética, é o que se pode exigir mais triste.
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Cinquenta anos é a idade da ciência e do governo.
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“Letras vencidas, urge pagá-las”