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No entanto, depois de um ano, enfrentei o fato de que aquele teatro todo estava sendo desperdiçado. Se eu ficasse cadavérica, ninguém iria se importar.
eu havia jogado água fria na fervura da procriação: uma criança significava barulho, sujeira, restrições e ingratidão.
Dinheiro me dá tédio e está começando a mudar nosso modo de vida de um jeito que não ando gostando muito.
Um monte de gente deixa de ter filhos porque não pode sustentar uma criança. Para mim, seria um alívio achar algo significativo no qual gastar dinheiro.”
Olhando em retrospecto, talvez eu ter dito que queria mais “história” fosse uma forma de aludir ao fato de eu querer mais alguém para amar.
Foi você que começou — feito alguém que nos dá de presente um único elefante esculpido em ébano e, de repente, a gente encasqueta que seria divertido começar uma coleção.
Que sorte temos quando somos poupados daquilo que achamos que queremos!
Por falar nisso, essa é a natureza do ressentimento, a objeção que não podemos exprimir. É o silêncio, mais que a queixa, o que torna a emoção tão tóxica, como os venenos que o organismo não expele com a urina.
Há uma diferença enorme entre não gostar de si mesmo e simplesmente não querer estar aqui.
há muito que desisti de defender a humanidade, já que, na maioria dos dias, não tenho forças nem mesmo para defender a mim mesma.
A culpa ensina uma lição muito clara da qual outras pessoas talvez possam obter consolo: se ao menos ela não..., e com isso torna a tragédia evitável.
contar com o desastre era cortejá-lo.
A obstinação pura e simples é mais durável que a coragem, embora não seja tão bonita.
Confesso que, durante o tempo em que fomos casados, sempre tive um grande medo de que, se algo lhe acontecesse, eu desmoronaria. Mas havia sempre uma sombra esquisita por perto, um submedo, se preferir, de que não fosse ser assim — que eu sairia de casa feliz da vida para jogar squash.
Não havia extravagância nesse mundo que não ficasse aquém do que eu imaginava, porque sempre seria algo finito e fixo, uma coisa e não outra. Seria apenas o que era.
que minha sofreguidão pelo exótico era autodestrutiva porque, assim que eu punha as mãos no extraordinário, ele passava ao plano do comum e não contava mais.
Não há batalha mais fadada ao fracasso do que a travada com o imaginário.
E, como acontece com a maioria dos disfarces, a camuflagem foi ainda pior que a falha honesta,
Tendo a chance, eu abdicaria de bom grado dos profundos laços de sangue e me contentaria em ter alguém que gostasse de mim.
desobediência sem testemunhas é desperdício.)
Já não basta eu ter passado o que passei, será que preciso arcar com a responsabilidade de saber seu significado também?
“Tudo o que a violência faz é ensinar à criança que a força física é um método aceitável de obter o que se quer”,
Há mais livros no mundo do que tempo para ler todos eles, de modo que nunca vai faltar o que ler.”
Porém, tentar ser uma boa mãe pode estar tão distante de sê-lo quanto tentar se divertir está de se divertir de fato.
Por mais que eu merecesse censura, continuava preferindo o fogo lento da autoabrasão privada às vergastadas iradas da reprovação pública.
a questão nunca foi saber se era capaz de aprender algo, mas se valia o esforço.
Ele não era louco. Era triste.
Mas, ainda assim, fornece as satisfações do agir: eu destruo, portanto eu sou.
é preciso ser um excelente artista para dar expressão positiva ao abandono.
No entanto, se não existe razão para viver sem ter um filho, como poderia haver razão para viver tendo um? Responder uma vida com uma vida sucessiva é apenas transferir o ônus do propósito para a geração seguinte: esse deslocamento nada mais é que um atraso covarde e potencialmente infinito. A resposta dos seus filhos, presume-se, será procriar também, e, ao fazê-lo, empurrar a própria falta de propósito para a prole seguinte.
Era mais fácil atender às necessidades da incapacidade passiva do que enfrentar a questão bem mais espinhosa de um desinteresse feroz e zombeteiro.
e há um desinteresse implícito na fisionomia de alguém que lhe diz tudo quanto você quer saber.
se bem que é óbvio que evitar relacionamentos por medo da perda é evitar a vida.
Quando se é pai, ou mãe, não importa qual seja o acidente, não importa a que distância você se encontre e o quão pouco possa fazer para evitar, a desdita sempre vai parecer culpa sua.
Você é tudo que seus filhos têm, e a convicção deles de que você saberá protegê-los é contagiosa.
Depois disse que ela ia ficar “bem”, o que não era verdade, ainda que para a maioria dos mensageiros de notícias atrozes o ímpeto de divulgar garantias infundadas pareça irresistível.
Decompostos, os desafios eram superáveis.
Talvez seja tão pouco milagroso apertar o gatilho de uma balestra ou de um revólver quanto pegar um copo d’água.