O alienista
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Kindle Notes & Highlights
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— A saúde da alma – bradou ele — é a ocupação mais digna do médico. — Do verdadeiro médico
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A vereança de Itaguaí, entre outros pecados de que é arguida pelos cronistas, tinha o de não fazer caso dos dementes. Assim é que cada louco furioso era trancado em uma alcova, na própria casa, e, não curado, mas descurado, até que a morte o vinha defraudar do benefício da vida; os mansos andavam à solta pela rua.
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veja se seu marido dá um passeio ao Rio de Janeiro. Isso de estudar sempre, sempre, não é bom, vira o juízo.
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Maomé8 declara veneráveis os doudos, pela consideração de que Alá lhes tira o juízo para que não pequem.
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“Se eu conhecer quanto se pode saber, e não tiver caridade, não sou nada”
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João de Deus, dizia agora ser o deus João, e prometia o reino dos céus a quem o adorasse, e as penas do inferno aos outros;
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Aquele ou aquela que trata de indivíduos com transtornos mentais.
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os três autores citados por Bacamarte são referências na arte da retórica.
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respondeu tristemente que nada; depois atreveu-se um pouco, e foi ao ponto de dizer que se considerava tão viúva como d’antes.
Leti
o jeito dele se remete ao meu; e me angustia ser tão desconexa desse jeito.
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“Não há remédio certo para as dores da alma; esta senhora definha, porque lhe parece que a não amo; dou-lhe o Rio de Janeiro, e consola-se”. E porque era homem estudioso tomou nota da observação.
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Imagem vivaz do gênio e do vulgo! Um fita o presente, com todas as suas lágrimas e saudades, outro devassa o futuro com todas as suas auroras.
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A loucura, objeto dos meus estudos, era até agora uma ilha perdida no oceano da razão; começo a suspeitar que é um continente.
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— A ferocidade, Sr. Soares, é o grotesco a sério.
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Supondo o espírito humano uma vasta concha, o meu fim, Sr. Soares, é ver se posso extrair a pérola, que é a razão; por outros termos, demarquemos definitivamente os limites da razão e da loucura. A razão é o perfeito equilíbrio de todas as faculdades; fora daí insânia, insânia e só insânia.
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A ciência contentou-se em estender a mão à teologia, — com tal segurança, que a teologia não soube enfim se devia crer em si ou na outra. Itaguaí e o universo ficavam à beira de uma revolução.
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“Deus, disse ele, depois de dar ao universo o homem e a mulher, esse diamante e essa pérola da coroa divina (e o orador arrastava triunfalmente esta frase de uma ponta a outra da mesa), Deus quis vencer a Deus, e criou D. Evarista.”
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se todos os gostos fossem iguais, o que seria do amarelo?
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uma ode à queda do Marquês de Pombal54, em que dizia que esse ministro era o “dragão aspérrimo do Nada”, esmagado pelas “garras vingadoras do Todo”;
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La bocca sollevò dal fero pasto Quel seccatore56
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a Casa Verde, — “essa Bastilha da razão humana”, — expressão que ouvira a um poeta local, e que ele repetiu com muita ênfase.
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um dos vereadores, que apoiara o presidente, ouvindo agora a denominação dada pelo barbeiro à Casa Verde — “Bastilha da razão humana”57, — achou-a tão elegante, que mudou de parecer.
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Nada tenho que ver com a ciência; mas se tantos homens em quem supomos juízo são reclusos por dementes, quem nos afirma que o alienado não é o alienista?
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Vossa Reverendíssima não se alistará entre os inimigos do governo? — disse-lhe o barbeiro dando à fisionomia um aspecto tenebroso. Ao que o padre Lopes respondeu, sem responder: — Como alistar-me, se o novo governo não tem inimigos?
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Tudo era loucura. Os cultores de enigmas, os fabricantes de charadas, de anagramas, os maldizentes, os curiosos da vida alheia, os que põem todo o seu cuidado na tafularia72, um ou outro almotacé enfunado, ninguém escapava aos emissários do alienista.
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Era um grande homem austero, Hipócrates forrado de Catão.
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que furta ladrão, tem cem anos de perdão; — adágio imoral, é verdade, mas grandemente útil.
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— A vereança — concluiu ele — não nos dá nenhum poder especial nem nos elimina do espírito humano.
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— Preso por ter cão, preso por não ter cão! — exclamou o infeliz.
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enfim restituída ao perfeito desequilíbrio das faculdades;
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A cabeleira cobria-lhe uma extensa e nobre calva adquirida nas cogitações quotidianas da ciência.
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as tempestades só aterram os fracos; os fortes enrijam-se contra elas e fitam o trovão.
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“Não há dúvida que uma literatura, sobretudo uma literatura nascente, deve principalmente alimentar-se dos assuntos que lhe oferece a sua região; mas não estabeleçamos doutrinas tão absolutas que a empobreçam.”
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Esta dupla perspectiva, o leitor que lê uma narrativa em que um personagem se dedica à leitura e fruição do mundo, talvez caracterize o realismo machadiano. Trata-se de um “realismo”, assim mesmo, com muitas aspas, dedicado ao miúdo das relações humanas e à ambiguidade do discurso.
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Uma primeira leitura sugere uma sátira ao cientificismo da época, aplicada ao estudo dos limites entre a razão e a loucura. O tom de sátira que torna a história tão divertida delineia um Simão Bacamarte rendido aos caprichos e desejos da ciência, um homem cujo método de pesquisa gera uma visão aparentemente sem nuances e empatia, levando a consequências tresloucadas.
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A dificuldade que Spock tem em apreender os sentimentos e a sociabilidade inerentes à raça humana deriva do fato de que ele compreende o mundo e reage a ele tomando como pressuposto que a Natureza é, ou deveria ser, regida pela “lógica”, não no sentido iluminista, eu diria, mas no sentido positivista do termo.
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A sátira não esconde que o considerado normal é o que se espera como conduta pública e aferida por autoridades, formas de sociabilidade já condicionadas e compartimentadas pela ciência, pelo poder político e jurídico. O problema reside naquele cuja conduta expõe a subjetividade que causa ruídos, o diferente, o estranho e o contestador. Destoar do padrão de estabilidade social é o sintoma-critério para que o indivíduo seja apartado do convívio social.
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Segundo Foucault, a medicina tem por função manter os grandes tabus morais que atravessam religião e governo.
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o combate à loucura poderia facilmente confundir-se com o combate ao louco, afinal, a loucura habitava o corpo do doente. Ou o corpo do doente habitava a loucura? Seria a loucura um lugar? Seria o asilo? Seria o município? Em O alienista, há um jogo entre dentro e fora, que traz o questionamento: a loucura estaria dentro do asilo ou fora dele? Ou ainda: a loucura seria algo a ser visto de fora, um objeto externo, ou habitaria também o corpo do alienista, dos moradores de Itaguaí, dos municípios vizinhos? Qual seria seu alcance? Todos carregariam uma forma adormecida, escondida, velada de ...more