Afetos ferozes

by Vivian Gornick

Depois a raiva vem de novo à tona, quente e nítida, erótica em seu poder de exigir atenção.

Minhas histórias tinham o propósito de mostrar que a vida era trágica. Estar “em estado de tragédia” era ser salvo do que eu via como as dores prosaicas da minha própria vida. Elas pareciam desprovidas de significado. Ser salva da ausência de significado, para mim, era tudo. A amplitude de significado era a redenção. Era o começo de uma escritora adolescente: eu começara a mitificar.

Descobri que as pessoas se transformavam graças a ideias, e que a conversa intelectual era imensamente erótica.

Para mim, a esposa de Joe era uma abstração. Eu não sentia culpa nem ciúme em relação a ela. Isso porque não sentia ciúme de Joe, cujos talentos para a vida (talentos de que ele se valia tanto na organização dos sindicatos como em seus casos amorosos) incluíam confiabilidade absoluta e humor de uma constância notável. Homem de imenso apetite, imensa energia, Joe passava tempo de qualidade com todos. Quando estava comigo, estava tão absolutamente ali, tão sem reservas, que eu não me sentia nem lesada nem possessiva quando ele não estava. Pela primeira vez, o que um amante fazia quando não estava comigo não me interessava particularmente; na verdade, não era da minha conta. E aquilo era uma experiência.