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Mas se alguma coisa haviam aprendido juntos era que a sabedoria nos chega quando já não serve para nada.
Tudo que era do esposo lhe atiçava o pranto: os chinelos de borlas, o pijama debaixo do travesseiro, o espaço sem ele no espelho da penteadeira, o cheiro pessoal dele em sua própria pele. Abalou-a um pensamento vago: “As pessoas que a gente ama deviam morrer com todas as suas coisas.”
a memória do coração elimina as más lembranças e enaltece as boas e que graças a esse artifício conseguimos suportar o passado.
Além disso, Hildebranda tinha uma concepção universal do amor, e achava que qualquer coisa que acontecesse com uma pessoa afetava todos os amores do mundo inteiro.
Ele lhe ensinara que nada do que se faça na cama é imoral se contribui para perpetuar o amor. E algo que havia de ser desde então a razão de sua vida: convenceu-a de que a gente vem ao mundo com as trepadas contadas, e as que não se usam por qualquer motivo, próprio ou alheio, voluntário ou forçado, se perdem para sempre.
os seres humanos não nascem para sempre no dia em que as mães os dão à luz, e sim que a vida os obriga outra vez e muitas vezes a se parirem a si mesmos.
Ninguém o definiu melhor do que ele próprio quando alguém o acusou de ser rico: — Rico não — disse. — Sou um pobre com dinheiro, o que não é o mesmo.
um homem sabe quando começa a envelhecer porque começa a parecer com o pai.
— Porra — disse aterrado —, tudo está fazendo trinta anos!
Bastava o tropeço de uma dúvida para que ele empurrasse o prato na mesa, dizendo: “Esta comida foi feita sem amor.” Nesse sentido chegava a rasgos fantásticos de inspiração. Certa vez, mal provou uma tisana de camomila devolveu-a com uma única frase: “Esta droga está com gosto de janela.” Tanto ela quanto as criadas se espantaram, pois ninguém sabia de alguém que tivesse bebido uma janela fervida, mas quando provaram a tisana procurando entender, entenderam: tinha gosto de janela.