Box Grandes Obras de Dostoiévski

by Fyodor Dostoevsky

Tais questões escapam em absoluto a uma inteligência feita para conceber apenas a ideia de três dimensões. Pois bem, admito a existência de Deus de boa vontade e, ainda mais, concedo a sua sabedoria, a sua providência, que está inteiramente fora do nosso alcance; creio na ordem sobrenatural e no sentido da vida; creio na harmonia eterna com que um dia temos de nos confundir. Creio no Verbo para que tende o Universo e que estava em Deus e que o mesmo era Deus, etc., etc., até ao infinito: porque isto pode expressar-se de mil maneiras. Parece que vou por bom caminho, não é verdade? Pois crê-me, em definitivo, não admito este mundo de Deus. Sei que existe, mas não o admito de maneira nenhuma. Não que contradiga a existência de Deus, entendamo-nos. O que não admito, nem posso admitir, é o mundo criado por Ele. Eu explico: estou convencido, como uma criança, de que os sofrimentos se acalmarão e desaparecerão, de que o humilhante absurdo das contradições humanas se desvanecerá como uma pobre ilusão, como uma vil invenção desse débil átomo de espírito euclidiano, que no fim do mundo, chegado o momento da harmonia infinita, se produzirá algo tão precioso que bastará para satisfazer todos os corações, para acalmar todas as indignações, para expiar todos os crimes da humanidade e todo o sangue por ela vertido; que será possível não só esquecer, mas sim justificar quanto sucedeu sobre a terra. Tudo isso pode ser, mas não o aceito. Não quero aceitá-lo. Ainda que duas linhas paralelas ...