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Kindle Notes & Highlights
todos aqueles que levam uma vida de trabalhos e sofrimentos podem, com razão, invejar as avezinhas do céu, que não conhecem nada disto!»
não se deixe dominar pela tristeza; as lágrimas nada remedeiam,
O que deveras confrange é não se saber nada, absolutamente nada, do que a sorte nos reserva; não nos pertence o futuro e nem podemos vislumbrar o que há de ser de nós!
«Quem para outro abre a cova... nela cai!»
E quando nos ataca a melancolia e a tristeza se apossa do nosso coração, quando aos sentimos lacerados e tristes, as recordações servem-nos de lenitivo e vivificam-nos, tal como o fresco orvalho que, após um dia de canícula, refrigera, na tarde húmida, as pobres flores murchas pelo ardor do sol, e lhes dá nova vida,
O que cada um quer é conservar o seu emprego e poder dizer: «Estou empregado aqui ou ali»; quanto a trabalho, cada qual procura fugir-lhe o mais que pode.
A desgraça é uma doença contagiosa, meu amigo! Os pobres e os desgraçados deviam viver longe uns dos outros, para que as suas misérias se não agravassem mutuamente.
O pobre é suscetível; não vê o mundo tal qual ele é, olha de soslaio quem passa, com receio, não perdendo uma só palavra que seja proferida à sua volta.
Toda a gente sabe que um homem pobre é pior do que um farrapo e que, digam o que disserem, ninguém tem por ele a mínima consideração. Por mais que escrevam esses rabiscadores, um pobre será sempre um pobre com todas as consequências de tal condição.
Contou-me há dias Emelia que uma vez fizeram uma subscrição a seu favor e que por cada pequena moeda que lhe davam, submetiam-no a uma espécie de investigação.
Hoje, minha boa amiga, a caridade é exercida de um modo muito estranho! Quem sabe se não terá sido sempre assim! Das duas, uma: ou as pessoas não sabem ministrá-la, ou então já são peritos na matéria...
Toma tudo muito a sério, sendo por isso o mais infeliz dos homens.
Há ocasiões em que o meu gosto é estar só para poder, livremente, abandonar-me aos meus sofrimentos e saborear sozinha a minha tortura; tais estados de espírito são cada vez mais frequentes.
Porque será que o homem de bem tem de viver pobre e miserável, enquanto a felicidade vai ter com os outros sem que a procurem?
É pecado, meu amor, bem sei que é pecado pensar assim; mas à força de tanto refletir, os pecados invadem-nos a alma, involuntariamente.
Na verdade, meu amor, a gente humilha-se até mais não poder ser, sem razão; julga-se valer menos que um kopek, menos que uma palha. Mas isso deve-se apenas ao facto de nos assustarmos e diminuirmos, exatamente como aquele pequeno que hoje me pediu esmola.
Por isso é que eu digo que não há motivo para nos humilharmos como eu fiz, só porque alguém murmurou qualquer coisa a nosso respeito.