O Peso do Pássaro Morto

by Aline Bei

imaginar o mundo deve ser mais bonito mesmo.

pensei que a carla voltaria quando cansasse de morrer e imitaria as borboletas no pátio pro meu medo passar. Fiquei esperando.

morrer é não poder mais escolher o que farão com a sua carne. quando estamos vivos, muitas vezes também não escolhemos.

mas tentamos.

– e você tá se sentindo como?

Sozinha.

ela só volta dentro de nós toda vez que alguém pensar nela.

no dia que eu descobri o que é Morrer.

quase tudo me lembrava Ela.

abria a boca com batom pra dizer umas coisas que eu não entendia mas pareciam boas, chorei de saudade da Carla minha menina

amassei o amor tentando esquecer.

– escrever é mais forte,

eu não tenho dinheiro como ele gostaria mas tenho um peito que dentro só cabe teu nome

espero que não estejam contando com a gente pra salvar o mundo.

seu amor por mim escorria virando Ódio, virando ímpeto.

o amor era um vento, logo passa e começa outro com tanta naturalidade que você nem percebe.

estavam timidamente alegres no amor deles de anos, era bonito ser sexta-feira e estar casado, espero que um dia faça sexta no meu amor.

as mulheres abusadas nas trincheiras e nos viadutos não estão nos livros de história.

chuva traz paz só pra quem mora no topo

tenho amigos que não morreram mas é como se eles tivessem morrido, ninguém se fala apesar de ser possível.

quanta gente triste dentro da TV. se for assim então eu bem que podia ser atriz de novela numa boa.

nunca imaginei que meus sábados fossem se transformar em dias solitários mais que segundas, dias longuíssimos, intermináveis.

falar cansa, ouvir então nem se fale.

em outro estado também de mim, apesar que isso já acontecia com a gente morando na mesma casa. às vezes

a pena de crescer é querer entender tanto.

entendendo que o tempo

sempre leva as nossas coisas preferidas no mundo e nos esquece aqui olhando pra vida sem elas.

– não me importo – eu disse pra ele – que seja breve o nosso encontro. porque no tempo da minha memória somos pra sempre. não existe morrer dentro, é como uma canção. as canções não morrem nunca porque elas moram dentro das pessoas que gostam delas.

o trabalho é por tantas vezes a maior tristeza da vida de uma pessoa e é só nisso que certos pais pensam, no filho crescendo e sendo alguém sendo que esse ser alguém envolve tudo menos Ser.

desde que estamos juntos, parece que alguém acelerou os relógios do mundo, penso que isso é Amor.

quase não sinto nada além de saudade,

conservo meu medo de borboletas pra carla não morrer em mim. ser adulto por vezes não deixa a beleza das coisas entrar tão facilmente, a gente começar a desconfiar.

sentir também é jeito de dizer a verdade,