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Eu esperava que num prédio imponente também morassem pessoas imponentes.
O prédio é cego.
Parecia muito mais voltada para o interior de seu corpo, abandonando-o a si mesmo e a um ritmo calmo, não perturbado por nenhuma deliberação mental, esquecendo o mundo exterior. O mesmo esquecimento do mundo encontrava-se nas atitudes e movimentos com os quais vestia as meias. Mas neste caso ela não tinha peso, sendo fluida, graciosa, sedutora — sedução que não se traduz em seios e nádegas e pernas, mas sim no convite para esquecer o mundo no interior do corpo.
O mundo exterior, o mundo do tempo livre, no pátio, no jardim ou na rua, apenas oprime com ruídos abafados o quarto de doente.
Nostalgias, lembranças, medos, prazeres constroem labirintos nos quais o doente se perde e se acha e se perde. São horas em que tudo se torna possível, bom ou ruim.
Não quero dizer que pensar e decidir não tenham nenhuma influência sobre a ação. Mas a ação não perfaz simplesmente o que foi pensado e decidido de antemão. Ela tem sua própria fonte e é da mesma maneira independente, como meu pensamento é meu pensamento, como minha decisão é minha decisão.
ela abertamente não vivia de uma promessa, mas sim do aqui-e-agora.
o que a minha geração deve e deveria fazer com as informações sobre as atrocidades do extermínio dos judeus?
Se o motivo de Hanna era o medo de ser desmascarada... como, então, em lugar do desmascaramento inofensivo de uma analfabeta, o terrível de uma criminosa?
Lutava sempre e sempre tinha lutado, não para mostrar do que era capaz, mas sim para esconder o que não sabia fazer.
Imagine alguém que corre só para sua perdição e você pode salvar a pessoa — você salva?
sobre o homem como sujeito e o fato de não se poder torná-lo um objeto.
para pôr uma coisa que outra pessoa acha bom para eles acima do que eles acham bom para si mesmos.
Certamente é preciso tomar uma atitude, quando a situação descrita por você é uma situação de responsabilidade inerente e assumida. Se sabemos o que é melhor para a outra pessoa e que ela fecha os olhos para isso, temos de tentar abrir-lhe os olhos. Temos de dar a ela a última palavra, mas é preciso falar com aquela pessoa, com ela, não pelas costas, com algum outro.
Sabia que as imagens fantasiadas eram pobres lugares-comuns.
Hoje
clichês.
Queria, ao mesmo tempo, compreender e julgar o crime de Hanna. Mas era algo terrível demais para isso. Quando tentava compreendê-lo, tinha a sensação de não julgá-lo como devia. Quando o julgava como cabia julgá-lo, não havia lugar para a compreensão. Mas, ao mesmo tempo, eu queria compreender Hanna; não compreendê-la significava traí-la novamente. Não consegui resolver isso. Queria me propor as duas tarefas: a compreensão e o julgamento. Mas era impossível conciliar as duas.
Na verdade eu tinha de apontar para Hanna. Mas o dedo que apontava para ela voltava-se em minha direção.
Como poderia ser um consolo o fato de meu sofrimento pelo amor a Hanna ser, de certa maneira, o destino de minha geração, o destino alemão, que era apenas mais difícil, no meu caso, de deixar para trás, mais difícil de lidar.
Eu sentia que não era só o seu desejo que lhe negávamos, mas algo a que ela tinha direito. Nós a privamos de uma coisa a que tinha direito ao decidirmos pelo divórcio, e o fato de termos tomado a decisão em conjunto não diminuiu a culpa.
Não é preciso contar, porque a verdade do que se conta está no modo como se é.
Só que fugir não é só correr de um lugar, mas também chegar a outro.
Fazer história significa construir pontes entre o passado e o presente, observando ambas as margens e agindo nas duas.
Ou não há “tarde demais”, apenas “tarde”, sendo “tarde” de qualquer modo melhor do que “nunca”? Não sei.
Tinha medo de que o mundo pequeno, leve e protegido dos bilhetes e fitas fosse artificial demais e vulnerável demais para resistir à proximidade real.
Mas pressentia como minha admiração e alegria eram pequenas, comparadas com o que devia ter custado a Hanna aprender a ler e escrever, como elas eram pobres, se nunca me levaram a responder às cartas, a visitá-la, a lhe falar.
E você sabe, quando ninguém entende, ninguém pode exigir que você preste contas. Nem a corte podia exigir que eu prestasse contas. Mas os mortos podem. Eles entendem. Para isso não precisam ter estado por perto; mas se estiveram, entendem especialmente bem. Aqui na prisão eram muitos em volta de mim. Vinham toda noite, querendo eu ou não. Antes do processo eu ainda podia afugentá-los quando eles queriam vir.