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Kindle Notes & Highlights
Por certo, os que não obtêm dentro de si os recursos necessários para viver na felicidade acharão execráveis todas as idades da vida.
A vida segue um curso muito preciso e a natureza dota cada idade de qualidades próprias. Por isso a fraqueza das crianças, o ímpeto dos jovens, a seriedade dos adultos, a maturidade da velhice são coisas naturais que devemos apreciar cada uma em seu tempo.
A velhice só é honrada na medida em que resiste, afirma seu direito, não deixa ninguém roubar-lhe seu poder e conserva sua ascendência sobre os familiares até o último suspiro. Gosto de descobrir o verdor num velho e sinais de velhice num adolescente. Aquele que compreender isso envelhecerá talvez em seu corpo, jamais em seu espírito.
Assim como o vinho, o caráter não azeda necessariamente com a idade. Agrada-me que a velhice seja grave, mas com moderação, como em relação a tudo. Não aceito que ela seja carrancuda.
Mas como é lastimável o velho que, após ter vivido tanto tempo, não aprendeu a olhar a morte de cima! Cumpre ou desprezá-la completamente, se pensamos que ela ocasiona o desaparecimento da alma, ou desejá-la, se ela confere a essa alma sua imortalidade. Não há outra alternativa. Por que eu temeria a morte se, depois dela, não sou mais infeliz, quem sabe até mais feliz?
Conclusão: os velhos não devem nem se apegar desesperadamente nem renunciar sem razão ao pouco de vida que lhes resta.
Pitágoras proíbe que abandonemos nosso posto – ou seja, a vida – sem a ordem formal do comandante-em-chefe que no-lo designou – ou seja, Deus.
Em geral, parece-me, perdemos o apetite de viver quando nossas paixões são saciadas. Devem os adolescentes lamentar a perda do que adoravam quando crianças? E poderiam os homens maduros ter saudade do que amavam quando adolescentes? Também eles têm seus gostos, que não são os dos velhos. A velhice, enfim, tem suas inclinações próprias. E estas por sua vez se desvanecem como desapareceram as das idades precedentes. Quando esse momento chega, a saciedade que sentimos nos prepara naturalmente para a proximidade da morte.
Pois a amizade torna mais maravilhosos os favores da vida, e mais leves, porque comunicados e partilhados, seus golpes duros.
É que não há nenhuma desculpa para as más ações, mesmo se é por amizade que agimos mal.
Em amizade, será portanto uma lei nada pedir de vergonhoso e não ceder a nenhuma súplica dessa espécie.