Velhos são os outros (Portuguese Edition)

by Andréa Pachá

Um filho não tem o direito de se apropriar da vida do pai. Em nenhuma circunstância.

O processo racional de compreensão e de diálogo, tão efetivo na infância e na juventude, também o é na velhice.

A doença do esquecimento tem uma lógica cruel. O paciente esquece e abstrai. Já a família acorda e dorme lembrando-se insistentemente do esquecimento.

Normalmente, a vida é indiferente à justiça e a velhice potencializa essa percepção.

O mar só assusta aqueles que com ele não convivem, como, aliás, tudo na vida. O medo tem o tamanho da nossa ignorância.

A parte boa da velhice? Acho que não tem parte boa. Eu tenho um monte de histórias para contar. Podia passar o resto da vida lembrando o tanto que vivi e experimentei. Mas não gosto de viver do passado. Isso é coisa de velho. E ficar velho é uma merda! Acho que só suporto a velhice porque quando penso que a alternativa é morrer acho divertido ficar por aqui, reclamando.

Mas a vida segue, com ou sem a nossa disposição. Ignorando as nossas dores ou o desejo de inércia no quarto escuro, o dia volta a amanhecer e o tempo continua a agir, apesar das nossas contrariedades.

“o mundo dos velhos, de todos os velhos, de modo mais ou menos intenso, é o mundo da memória. A dimensão para a qual se vive é o passado. Percorremos de novo o mesmo caminho com outros olhos e a melancolia é suavizada pela constância dos afetos que o tempo não consumiu”.

“É ao caráter de cada um, e não à velhice propriamente, que devemos imputar todas as lamentações. Os velhos inteligentes, agradáveis e divertidos suportam facilmente a velhice, ao passo que a

acrimônia, o temperamento triste e a rabugice são deploráveis em qualquer idade.”

É a brevidade da vida o que a torna encantadora.