More on this book
Community
Kindle Notes & Highlights
o corpo pede e pune, na mesma medida.
A moça pensou uma coisa egoísta: ele sofria mais que ela. Que bom ver alguém que sofre mais. Que bom. Aquela desgraça de destino, seja lá como tenha acontecido, tornava a sua sina um pouco mais leve. Ela sempre achou que nunca encontraria alguém que sofresse mais que ela. Encontrou, por segundos.
Mãe solteira e prostituta eram a mesma coisa. A sombra do pai era sua infelicidade.
Enquanto o pai era uma sombra, foi suportável. Agora o pai era a morte.
quero matar gente que é do meu ódio.
Era bonita, Madeinusa, sempre foi. Seu pai falava que coisa linda como ela haveria de ser importada, como o rádio que ele comprou. Na caixa estava escrito: “Made in USA”. — O nome da minha filha veio do estrangeiro, eu só fiz ajuntar as letras.
Nem Deus deve saber mais o que é pecado, homem, que dirá o padre.
esperança e desejo obram o impossível.
Isso de ter fé é o que desgraça gente pobre como eu.
— Tu mente tanto que nem adianta mais querer ser honesto.
É certo que a vida não lhe deu tantas chances de sonhar, mas ele teimava.
— Esse negócio da força estranha. Você sabe o que é? — O que é o quê? A força estranha? — Sim. — Saber eu sei, só não dá pra explicar. — Adiantou nada. — Assim, eu acho que é um negócio que a gente sabe quando vem, a força estranha chega e, pá!, a gente sente. Quando ela toma conta, a gente faz o que quer fazer por cima de pau e pedra, não tem cão que segure. Acho que vem de Deus.
“Coragem”, “perdão”, “amor”. Você entende o que é isso? Ele tomou as mãos da moça e sentiu a tal força estranha. As velas de Mariinha, a rota para Rosário.
As primeiras ideias deste romance foram escritas em 2006 para a oficina de criação e roteiro “Como contar um conto”, ministrada por Gabriel García Márquez na Escuela de Cine y TV de San Antonio de Los Baños, em Cuba, entre 2 e 5 de dezembro.