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Ele queria chegar lá, no lugar indicado por oito palavras e um número. Chegar lá era a única coisa que tinha na vida.
Tudo ficou pelo caminho: juventude, alegria, pedaços de pele, mililitros de suor, quilos do corpo, e os parcos e velhos fios de esperança de que houvesse alguma coisa invisível que ajudasse os homens sobre a Terra.
Naqueles anos de romaria vira de tudo no caminho e teve piedade, porque às vezes nem Deus livra o homem de enlouquecer. O demônio é artista. Poucos escapam dos enganos do Satanás.
A moça pensou uma coisa egoísta: ele sofria mais que ela. Que bom ver alguém que sofre mais. Que bom. Aquela desgraça de destino, seja lá como tenha acontecido, tornava a sua sina um pouco mais leve. Ela sempre achou que nunca encontraria alguém que sofresse mais que ela. Encontrou, por segundos.
Tinha muita coisa pra dizer e as palavras que não se dizem ao morto queimam na boca para sempre.
Samuel, o menino feliz da ladeira do Horto, agora tão triste e cheio de ódio daquele pai que só serviu para a maior desgraça de sua vida — essa vida que ele lhe deu.
Acreditava que os santos eram todos uma mera invenção dos desesperados e nada do que Mariinha dissera a vida toda o convenceu do contrário. Santos são pedras e só pedras. Era a lei de Samuel.
Francisco era ajudante habitual. Cresceu sabendo que até a morte faz falta quando demora a vir.
Os tímidos, na hora em que atacam, são das feras piores, e dr. Adriano beijou Madeinusa sem pedir licença. Não precisava.
Marcaram a entrevista para o quadro “A noiva da semana”, sucesso de público na região e muitas vezes cancelado por falta de noivas. Eram tempos difíceis para os românticos.
Era tudo tão lindo que nem coube nos seus pequenos sonhos. Ela precisou aprender a sonhar mais.
Se soubesses as coisas em que acredito, olharias para mim como se eu fosse, sozinha, um grande circo de monstros. José Eduardo Agualusa
A Voz falava de saudade e ele pensava em Mariinha — mas sem tristeza, porque nem toda saudade é triste.
… había necesitado muchos años de sufrimiento y miseria para conquistar los privilegios de la soledad. Gabriel García Márquez
Final, final mesmo, Samuel, é só quando eu baixar teu caixão na cova. Ainda dá tempo. — Tu sonha muito, Chico. — Foi a morte que me ensinou. O tempo de sonhar é em cima da terra.