More on this book
Community
Kindle Notes & Highlights
Não posso continuar pintando; meu espírito não se presta ao trabalho e à arte; ele voa para longe daqui e nutre-se de ideias dolorosas.
Mas supria as imprecisões de sua memória com a ênfase que punha nas palavras.
pessoas que agora não se podiam encontrar, que não se podiam tocar, e que mesmo que fossem encontradas e tocadas não eram porém as mesmas de quando eu as imaginava, e que, mesmo se ainda vivas, tinham sido contagiadas pela proximidade dos mortos, com os quais habitavam em meu espírito: tinham adquirido, dos mortos, o andar inalcançável e leve.
todos imaginavam que fosse possível e necessário antes fazer poesia de tudo, depois de tantos anos em que o mundo pareceu ter emudecido e petrificado, e a realidade fora olhada como que através de um vidro, numa vítrea, cristalina e muda imobilidade.
Era necessário voltar a escolher as palavras, a perscrutá-las para sentir se eram falsas ou verdadeiras, se tinham ou não raízes verdadeiras em nós, ou se tinham apenas as raízes efêmeras da ilusão comum.
Porque em sua natureza ingênua, terna, infantil, as opiniões e as ideias suas e dos outros germinavam e ramificavam-se como imensas árvores frondosas, ocultando e cobrindo a seus olhos o claro espelho de sua própria alma.
Ele, no entanto, não amava a vida, e aquele seu olhar para além da própria morte não era amor pela vida, mas um cálculo cuidadoso de circunstâncias para que nada, nem mesmo depois de morto, pudesse pegá-lo de surpresa.

