More on this book
Community
Kindle Notes & Highlights
Se você é intelijente você podi ter muitos amigos pra conversar e você nunca fica solitário sosinho o tempo todo.
Agora sei o significado de dizer “dar uma de Charlie Gordon”. Eu me sinto envergonhado.
– Quanto mais inteligente você se tornar, mais problemas você terá, Charlie. Seu crescimento intelectual vai ultrapassar seu crescimento emocional. E acho que você observará que, ao progredir, haverá muitas coisas sobre as quais você vai querer falar comigo. Eu só quero que se lembre de que este é o lugar para vir quando precisar de ajuda.
Ele me fez prometer que, quando eu começar a aprender matérias universitárias em algumas semanas, eu não vou ler nenhum livro sobre psicologia, quer dizer, até ele me dar permissão. Ele diz que vai me confundir e me fazer pensar sobre teorias psicológicas em vez de sobre meus próprios sentimentos e ideias.
Será que um dia ele aprenderia a ler o que estava nos balões? Se eles lhe dessem tempo suficiente, se não o apressassem ou fossem muito rápidos com ele, ele iria entender. Mas ninguém tem tempo.
Agora entendo que um dos motivos importantes para ir à universidade e obter uma educação é aprender que as coisas em que você acreditou a vida toda não são verdade, e nada é o que parece ser.
– Mas eu não sou um objeto inanimado – argumentei. – Sou uma pessoa. Ele pareceu confuso por um instante e então riu. – É claro que sim, Charlie. Mas não me referia a agora. Quis dizer antes da operação. Presunçoso, pomposo: quis bater nele também. – Eu era uma pessoa antes da operação, caso você tenha esquecido.
Estava tudo bem enquanto eles pudessem rir de mim e parecer inteligentes à minha custa, mas agora eles se sentiam inferiores ao imbecil. Comecei a ver que, por meio do meu surpreendente crescimento, eu os fiz encolher e enfatizei suas inadequações. Eu os havia traído, e eles me odiavam por isso.
– Não tem volta, Fanny. Eu não fiz nada de errado. Sou como um homem que nasceu cego e recebeu a oportunidade de ver a luz. Isso não pode ser pecaminoso. Logo haverá milhões como eu no mundo inteiro. A ciência é capaz de fazer isso, Fanny.
Essa inteligência tinha gerado uma cisão entre mim e todas as pessoas que conhecia e amava, me arrancando da padaria. Agora, estou mais sozinho que nunca. Eu me pergunto o que aconteceria se colocassem Algernon de volta na gaiola grande com alguns dos outros ratos. Eles se voltariam contra ele?
Eu me ressinto de Nemur constantemente se referir a mim como um espécime de laboratório. Ele faz com que eu sinta que, antes do experimento, eu não era realmente um ser humano.
Estou tão distante de Alice com um Q.I. de 185 quanto estava quando tinha um Q.I. de 70. E, dessa vez, nós dois sabemos.
Pode soar como ingratidão, mas essa é uma das coisas das quais me ressinto aqui – a atitude de que sou uma cobaia. As referências constantes de Nemur sobre ter me feito o que sou ou sobre algum dia haver outros como eu que se tornarão seres humanos reais. Como posso fazê-lo entender que ele não me criou? Ele comete o mesmo erro que os outros quando olham para uma pessoa de mente débil e riem porque não entendem que existem sentimentos humanos envolvidos. Ele não percebe que eu era uma pessoa antes de vir para cá.
– Ora, por favor, Charlie. Só porque um homem é o primeiro a propor uma teoria não quer dizer que ele é a palavra final no seu desenvolvimento experimental. Acho que todos aqui concordarão que a pesquisa feita nos Estados Unidos e no Reino Unido supera em muito os trabalhos feitos na Índia e no Japão. Nós ainda temos os melhores laboratórios e equipamentos no mundo.
Não consegui ficar na festa. Escapei para caminhar e pensar sobre isso. Fraudes – os dois. Haviam fingido ser gênios. No entanto, eram apenas homens comuns trabalhando cegamente, fingindo ser capazes de trazer luz à escuridão.
Eu estava ali como parte de uma apresentação científica e esperava ser posto em exibição, mas todos seguiram falando de mim como se fosse uma espécie de coisa recentemente criada que apresentavam ao mundo científico. Ninguém naquela sala me considerava um indivíduo – um ser humano. A constante justaposição de “Algernon e Charlie” e “Charlie e Algernon” deixava claro o que pensavam de nós dois, um par de animais experimentais que nunca existiram fora do laboratório.
– Eu sou um ser humano, uma pessoa, com pais e memórias e história, e eu era antes de vocês me levarem para aquela sala de cirurgia!
– Você não aprova? – Quem sou eu pra desaprovar? Mas, se você pega um rapaz em um salão de baile público, tem que esperar avanços. Ele tinha o direito de dar em cima de você. Ela balançou a cabeça. – Eu vou para o Stardust Ballroom porque gosto de dançar e não acho que, só porque trouxe um cara pra casa, eu tenho que ir pra cama com ele. Você não acha que fui pra cama com ele, acha?
Que estranho é o fato de pessoas de sensibilidade e sentimentos honestos, que não tirariam vantagem de um homem que nasceu sem braços ou pernas ou olhos, não verem problema em maltratar um homem com pouca inteligência. Enfureci-me ao lembrar que não fazia muito tempo que eu, como esse garoto, tinha sido o tolo que fazia o papel de palhaço. E eu quase me esquecera. Apenas pouco tempo atrás aprendi que as pessoas riam de mim. Agora consigo ver que inconscientemente me juntei a eles, rindo de mim mesmo. Isso dói mais que tudo.
As outras pessoas tinham algo que me faltava, alguma coisa que me era negada. Na minha cegueira mental, eu havia acreditado que o que me faltava estava, de alguma forma, conectado a saber ler e escrever, e tinha certeza de que, se dominasse essas habilidades, eu teria inteligência também.
Até um homem de mente fraca quer ser como os outros homens. Uma criança pode não saber como se alimentar, ou o que comer, mas ela conhece a fome.
– Se não ficarmos sabendo nada deles, ou se eles mesmos não aparecerem, assumimos que conseguiram se ajustar minimamente fora daqui. Você tem que entender, sr. Gordon, que isto não é uma prisão. Somos obrigados, pelo estado, a fazer todos os esforços razoáveis para recuperarmos nossos pacientes, mas não estamos equipados para supervisionar de perto 4 mil pessoas em todos os momentos. Os que conseguem sair são retardados de alto nível, não que ainda recebamos esses. Agora recebemos mais casos com dano neurológico, que requerem constante cuidado e custódia, mas os retardados de alto nível
  
  ...more
Crianças normais crescem muito rápido, param de precisar de você… vão embora sozinhas… esquecem-se de quem amou e cuidou delas. Mas essas crianças precisam de tudo que você pode dar durante toda a vida.
Ah – debochou Nemur. – Você está com pena de si mesmo. O que esperava? O experimento foi calculado para aumentar sua inteligência, não para deixá-lo popular. Nós não tínhamos controle sobre o que aconteceria com a sua personalidade, e você se transformou de um jovem amável e retardado para um filho da mãe arrogante, autocentrado e antissocial. – O problema, querido professor, é que você queria alguém que pudesse se tornar inteligente, mas continuasse numa jaula e fosse exibido, quando necessário, para colher as honras que você busca. O problema é que sou uma pessoa.
– Você se tornou cínico – disse Nemur. – É isso que essa oportunidade significou pra você. Sua genialidade destruiu a fé que tinha no mundo e nos outros homens.
– Isso não é completamente verdade – retruquei com suavidade. – Mas aprendi que apenas a inteligência não quer dizer porcaria nenhuma. Aqui na sua universidade, inteligência, educação, conhecimento, todas essas coisas viraram ídolos. Mas agora sei que existe algo que todos vocês negligenciaram: inteligência e educação sem doses de afeto humano não valem droga nenhuma.
Mas muito frequentemente a busca por conhecimento exclui a busca por amor. Isso é outra coisa que eu mesmo descobri recentemente. Apresento a vocês como uma hipótese: inteligência sem a habilidade de dar ou receber afeto leva a um colapso mental e moral, para neurose, e possivelmente até para psicose. E digo que a mente absorvida e envolvida em si mesma como um fim autocentrado, a ponto de excluir relações humanas, só pode levar à violência e à dor. Quando eu era retardado, tinha muitos amigos. Agora não tenho ninguém. Oh, conheço várias pessoas. Várias e várias pessoas. Mas não tenho nenhum
  
  ...more
Alice sabe tudo sobre mim agora e aceita o fato de que podemos ficar juntos por um curto período. Ela concordou em ir embora quando eu a mandar embora. É doloroso pensar assim, mas suspeito que o que temos é mais do que a maioria das pessoas encontra numa vida inteira.
Então fui à biblioteca e peguei muitos livros pra ler. Tenho lido muito agora. A maior parte dos livros é muito difícil pra mim, mas não me importo. Enquanto eu seguir lendo, vou aprender coisas novas e não vou esquecer como ler. Essa é a coisa mais importante. Se eu seguir lendo, talvez eu consiga me sustentar.
Por favor… por favor… não mim deixe esquecer como le e escreve…

