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Eu me dei conta, enquanto o menino sujo lambia os dedos lambuzados, do pouco que me importavam as pessoas, de como me pareciam naturais aquelas vidas desgraçadas.
A mãe estava no colchão. Como todos os viciados, não tinha noção da temperatura e vestia um moletom com capuz, como se estivesse chovendo. A barriga, enorme, estava de fora; o agasalho curto demais não conseguia cobri-la. O menino sujo a cumprimentou e se sentou no colchão. Não disse nada.
Ele não queria me matar, só queria me tratar mal e me perturbar para que eu odiasse minha vida e não me restasse nem vontade de mudá-la.
Todos caminhamos sobre ossos, é uma questão de fazer buracos profundos e alcançar os mortos encobertos. Tenho que cavar, com uma pá, com as mãos, como os cães, que sempre encontram os ossos, que sempre sabem onde os esconderam, onde os deixaram esquecidos.
casos em que o crime estava sempre misturado com o infortúnio.
acho que o sono e a morte são a mesma coisa.
Depois a estupram até matá-la. Está à venda o vídeo da tortura e também um arquivo de áudio
de seus gritos, que não se parecem com nada humano e são inesquecíveis.
mas prefiro esquecer aquela mulher triste que quis me levar para sua casa depois da aula, sabe-se lá para quê.
As queimas são feitas pelos homens, menina. Sempre nos queimaram. Agora nós mesmas nos queimamos. Mas não vamos morrer; vamos mostrar nossas cicatrizes.