História da menina perdida: Maturidade – Velhice (Napolitana, #4)
Rate it:
3%
Flag icon
Então o que fazer? Mais uma vez dar razão a ela? Aceitar que ser adulto é parar de se mostrar, é aprender a se esconder até se dissipar?
4%
Flag icon
Eu já tinha estado uma vez fora da Itália, em Paris, com Franco, e me sentira eletrizada por minha própria audácia. Mas então me pareceu que meu mundo era e continuaria sendo para sempre o bairro, Nápoles, ao passo que o resto era como uma breve escapada em cujo clima de exceção eu podia me imaginar como de fato nunca seria. Já Montpellier, que no entanto era bem menos excitante que Paris, me deu a sensação de que minhas barreiras tinham se rompido e que eu estava me expandindo. O puro e simples fato de me encontrar naquele lugar constituía a meus olhos a prova de que o bairro, Nápoles, Pisa, ...more
4%
Flag icon
Era maravilhoso ultrapassar fronteiras, deixar-se ir a outras culturas adentro, descobrir a provisoriedade do que eu tinha tomado por definitivo.
6%
Flag icon
No entanto descobri que eu não conseguia me entusiasmar. Era como se, a partir do momento em que eu amava Nino e ele me amava, aquele amor tornasse tudo o que de bom me acontecia ou viesse a acontecer em nada mais que um agradável efeito secundário.
13%
Flag icon
Depois me recuperei, me saltou aos olhos o aspecto positivo daquela confissão, e o abracei. Substancialmente não havia nenhum motivo para que ele me contasse aquele episódio, era uma má ação muito distante no tempo. No entanto ele acabara de fazê-lo, e sua necessidade de ser sincero para além de todo cálculo, mesmo se arriscando a mostrar-se sob uma péssima luz, acabou me comovendo. De repente, a partir daquele momento, senti que podia acreditar sempre nele.
22%
Flag icon
o amor só acabava quando era possível voltar a si mesmo sem temor ou desgosto,
35%
Flag icon
o terremoto de 23 de novembro de 1980, com sua devastação infinita — entrou nos nossos ossos. Afugentou o hábito da estabilidade e da solidez, a certeza de que cada instante seria idêntico ao sucessivo, a familiaridade dos sons e dos gestos, sua reconhecibilidade certa. Infiltrou-se a suspeita quanto a qualquer segurança, o pendor a acreditar em toda profecia de desgraça, uma atenção angustiada aos sinais de friabilidade do mundo, e foi difícil recuperar o controle. Segundos e segundos e segundos que não terminavam nunca.
48%
Flag icon
Certa noite, brigou com um amigo que ensinava na Faculdade de Arquitetura. Estava inflamado de paixão, todo desgrenhado, lindo. “Vocês não são capazes de distinguir entre um passo adiante, um passo atrás e ficar parado.” “O que é um passo adiante?”, perguntou o amigo. “Um presidente de conselho que não seja o democrata-cristão de sempre.” “E ficar parado?” “Uma manifestação de metalúrgicos.” “E um passo atrás?” “Perguntar quem são mais limpos, os socialistas ou os comunistas.” “Você está se tornando cínico.” “Já você sempre foi um imbecil.”
54%
Flag icon
Me senti forte, não mais vítima de minhas origens, mas capaz de dominá-las, de lhes dar uma forma, de resgatá-las para mim, para Lila, para qualquer um. O que antes me puxava para baixo, agora era a matéria que me levaria mais para o alto.