A Filha Perdida

by Elena Ferrante

eu nunca falei isso, é você que está dizendo, você inventou isso. Mas eu não invento nada, só escuto, o não dito fala mais do que o dito.

Que bobagem pensar que é possível falar de si mesmo aos filhos antes que eles tenham pelo menos cinquenta anos. Querer ser vista por eles como uma pessoa e não como uma função. Dizer: sou sua história, vocês começam comigo, escutem, pode ser útil.

Você espera, se cansa, volta a esperar. Alguma coisa vai acontecer e, nesse intervalo, você se torna mais impaciente, talvez perigosa. Eu não conseguia me acalmar, nem mesmo o cansaço me acalmava.

Os filhos são assim, às vezes amam com afagos, outras vezes tentam mudá-la totalmente, reinventando você, como se achassem que cresceu mal e que é dever deles ensinar a como estar no mundo, a música que você deve ouvir, os livros que deve ler, os filmes que deve assistir, as palavras que deve ou não usar porque são velhas, ninguém as usa mais.

No fim das contas, precisamos sobretudo de ternura, mesmo que seja fingida.

Entre as minhas fantasias mais temidas, estava a ideia de que eu podia encolher, voltar a ser adolescente, criança, ser condenada a reviver aquelas fases da minha vida. Eu só havia começado a gostar de mim depois dos dezoito anos,