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Obedeci, e mais uma vez fui espremida pelo vestido. Pensei em um soldado que se preparava para a guerra. A armadura era diferente, mas a ideia, a mesma. Naquela noite, eu ia derrotar um homem.
Porque a única opção de quem está por baixo é culpar quem está no topo.
— Uma garota corajosa seria de grande ajuda para nós.
— Mas essas ações não tiveram consequências? — Sim. — E você provavelmente sabia disso. Mas agiu mesmo assim, para ajudar quem não podia se defender. Isso é especial, America.
— Sei que às vezes pode não parecer, mas a família real é realmente importante para nós. Sem ela, os rebeldes do sul vão vencer. E se eles assumirem o poder… Bom, você ouviu o que August disse. — Georgia sacudiu a cabeça. — Em todo caso — continuou —, eu tinha certeza de que estava diante da minha futura rainha, então achei que você merecia ao menos uma reverência.
Georgia sorriu. — Não desejar a coroa talvez a torne a melhor pessoa para usá-la.
— Você me deixou orgulhoso, America. Às vezes fico surpreso com as coisas que você diz, mas não sei por quê. Você sempre foi mais forte do que se dava conta. Sua voz tinha um tom tão verdadeiro que fiquei emocionada. Nenhuma opinião me importava mais do que a dele.
— Só você mesmo para achar beleza numa coisa que acaba com o dia das pessoas.
Éramos amigos que tinham percebido que não queriam ficar longe um do outro. Éramos diferentes em diversos sentidos, mas, ao mesmo tempo, muito parecidos. Não dava para dizer que nossa relação era obra do destino, mas ela parecia mais forte do que qualquer coisa que eu já tinha vivido antes.
Depois de tantos meses tentando conciliar o que eu queria com o que esperava, percebi — naquele momento que Maxon criara só para nós — que nunca faria sentido. Tudo que eu podia fazer era seguir em frente e ter a esperança de que, sempre que desviássemos do caminho, ainda conseguiríamos voltar um para o outro.
Eu amava Maxon. Pela primeira vez, meu sentimento era sólido. Não tentava me distanciar, apegada a Aspen e a todas as dúvidas que vinham junto. Não estava me envolvendo com Maxon e, ao mesmo tempo, mantendo um pé na porta para o caso de ser rejeitada. Simplesmente deixei as coisas acontecerem. Eu o amava.
Era incapaz de apontar precisamente o motivo de tanta certeza, mas soube na hora, com a mesma certeza com que sabia meu nome ou a cor do céu ou qualquer coisa escrita em um livro.
— Você vale a pena. Acho que não tem noção disso. Para mim, você vale a pena.
“A senhorita America é igual à rainha: uma guerreira. Não só desejamos sua vitória; precisamos dela!”
— Em segundo lugar, a Celeste Newsome que eu conheço não precisa de um homem para ser famosa.
Era óbvio que ela estava tão ansiosa quanto a gente. Não consegui me conter e corri para abraçá-la. Ela me abraçou de volta, e fiquei feliz por descobrir que, inesperadamente, tinha feito uma amiga.
Senti vontade de chorar. Pela primeira vez em toda a Seleção, tinha feito uma coisa certa.
— Paige, quer vir comigo? — Para onde? — Prometo que terá emprego e comida de verdade, e ninguém vai bater em você. Seus olhos se encheram de lágrimas. — Então não me importa para onde. Eu vou.
— Provavelmente não vou. Escrever uma carta de amor, quero dizer. Procuro evitar constrangimentos sempre que possível.
— Como se sente? — Seus olhos parecem chocolate — balbuciei. Ele sorriu. — E os seus parecem o céu da manhã.
— Não se preocupe. As melhores pessoas sempre carregam alguma cicatriz. Pensei nas mãos de Marlee e nas costas de Maxon. Os dois possuíam marcas permanentes de sua coragem. Era uma honra me juntar a eles.
Celeste, a lutadora incansável, estava torcendo por mim.
Apertei sua mão e lhe assegurei: — Você sempre guardou meus segredos. Sempre guardarei os seus.
Percebi então que em breve teria de acabar de vez com aquilo. De verdade. Olhei nos olhos dele; podia sentir as lágrimas ameaçando sair. Como digo adeus para você?
Pensei naquele garoto frágil no canto da sala, na noite em que saímos do palácio. Ele tinha entrado na briga para nos defender com muito gosto. A coragem podia mesmo se esconder em lugares incríveis.
Olhamos um para o outro, e percebi o quanto ele já tinha feito por mim apenas por desejar. Trouxe calças quando eu não podia usá-las, uma pulseira do outro lado do mundo… Com certeza ele me amava. Certo? Por que não dizia logo?
Tirei um dos belos brincos que Maxon tinha me dado, depois o outro. Pus os dois nas mãos de Adam, que permaneceu ali, perplexo, enquanto eu fazia o mesmo com minha linda pulseira. E depois — se era para valer, eu precisava dar tudo — levei as mãos à nuca e soltei meu colar de passarinho, que meu pai me dera. Esperava que ele estivesse vendo tudo e não me odiasse por me desfazer de seu presente. Depois de colocá-lo junto com a pulseira e os brincos, fechei as mãos de Adam sobre aquele pequeno tesouro. Então dei um passo para o lado, de modo que ele ficasse de frente para o rei Clarkson. Apontei
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Celeste tinha sido criada para ser linda de uma maneira específica, que dependia de esconder certas coisas, buscar o melhor ângulo e a perfeição o tempo inteiro. Havia, porém, outro tipo de beleza, que vinha com a humildade e a honestidade, e era essa beleza que ela irradiava naquele momento.
— O que foi isso? — perguntei, apontando a cabeça para a porta. — Ah, Celeste quis deixar claro que, se eu machucar você, ela vai me fazer chorar — Maxon respondeu com um sorriso.
— Mas ninguém mais quer isso. As pessoas querem uma escolha. Você o deixa aterrorizado, mas ele não pode expulsá-la. O povo adora você, America.
— Vejo você fazer isso o tempo todo, America. Compara-se com a minha mãe, com as outras da Elite, com uma versão de si mesma que julga ser melhor, e agora está quase fazendo o mesmo com uma pessoa cuja existência você ignorava poucas horas atrás.
Mas, com ele ali olhando para mim daquele jeito, tão fixamente, era fácil deixar tudo aquilo de lado. Eu conseguia esquecer tudo ao nosso redor quando ele me olhava daquele jeito. Então me joguei em seus braços e o apertei bem forte. Não queria estar em nenhum outro lugar do mundo.
— Pode deixar, mãe — brinquei. Ela olhou para trás, o rosto parecendo uma pedra. — Quer dizer, pode deixar, Alteza. Seus olhos começaram a lacrimejar, e ela precisou piscar algumas vezes antes de se virar para a frente. — Se tudo isso acabar como imagino, acho que “mãe” estaria ótimo.
— Não sou ele, America. Não pretendo desistir de você.
— Você não percebe, Maxon. Ele pode ter me decepcionado, mas pelo menos eu o conhecia. Depois de todo esse tempo, ainda sinto que há um abismo entre nós. A Seleção o obrigou a entregar seu afeto em pedaços. Nunca terei você por completo. Nenhuma de nós terá.
E ali estávamos nós, nos bastidores, nos apoiando. A perfeccionista, a queridinha, a diva… e eu.
Toda a minha raiva fez sentido. Queria tudo dele, tudo para ele, porque queria cada parte dele. Estava furiosa porque tinha muita gente metida naquilo: as garotas, os pais de Maxon, até Aspen. Milhares de condições, opiniões e obrigações nos rodeavam e se colocavam entre nós, e eu odiava Maxon porque ele vinha acompanhado de todos esses problemas. E eu o amava mesmo assim.
— Com certeza — respondeu sem pestanejar. — Fotos artísticas ou até retratos de família. Faria fotos para publicidade. Tudo o que fosse possível. Sou apaixonado por isso. Acho que dá para notar. — Dá. Abri um sorriso, feliz por saber disso. — Por que a pergunta? — É que… — virei para ele — você seria Cinco. Maxon refletiu sobre minhas palavras. — Fico feliz.
— Quero você, America — ele sussurrou em meu ouvido. — Quero que você seja só minha. E quero dar tudo a você.
Me lembrei da nossa conversa na casa da árvore, quando ele insistiu para eu me inscrever na Seleção na esperança de que eu tivesse um futuro melhor. Ainda não sabia se tinha conquistado algo melhor para mim — era difícil dizer —, mas só de pensar na possibilidade de conseguir um futuro melhor para todos de Illéa… Isso significava mais do que eu podia expressar.
— Estou orgulhoso de você, America — Aspen disse, desviando os olhos para focar nas garotas em frente ao espelho. — Muito orgulhoso. Então ele voltou ao corredor para retomar sua patrulha. — E seu pai também estaria.
Você é boa, America. E ficaria surpresa de saber como isso é raro neste mundo. Não digo que seja perfeita; como já testemunhei seus acessos de raiva, sei que isso está longe de ser verdade! Mas você é bondosa, e sofre quando as coisas não são justas. Você tenta agir assim com seus irmãos às vezes, e não aceita o segundo lugar simplesmente por ser mais jovem. E luta para que May e Gerad fiquem bem quando poderia simplesmente não fazer nada. Você é boa. Suspeito que enxergue o mundo de um jeito que ninguém mais vê, nem mesmo eu.
lute, America. Você talvez não queira lutar pelas mesmas coisas que a maioria deseja, como dinheiro e sucesso. Ainda assim, lute. Não importa o que você deseja, America, vá atrás com todas as suas forças. Se for capaz disso, se for capaz de evitar uma segunda opção por medo, então não lhe peço mais nada como pai. Viva sua vida. Seja o mais feliz que puder, deixe de lado as coisas que não importam e lute.

