Olhos d'Água

by Conceição Evaristo

Às vezes, ficava dias e dias, meses até, foragido, e quando ela menos esperava dava com ele dentro de casa.

Amiga... foge.

ele gostava mesmo era de ver o medo, o temor, o pavor nas feições e modos das pessoas. Quanto mais forte o sujeito, melhor. Adorava ver os chefões, os mandachuvas se cagando de medo, feito aquele deputado que ele assaltou um dia. Foi a maior comédia.

Ok.

Ana sabia bem qual era a atividade de seu homem. Sabia dos riscos que corria ao lado dele. Mas achava também que qualquer vida era um risco e o risco maior era o de não tentar viver.

Justo.

Ele havia mandado matar Maria Agonia.

Red flag IMENSA, querida Ana.

Brincava gostoso quase todas as noites com o seu namoradinho e quando deu fé, o jogo prazeroso brincou de pique-esconde lá dentro de sua barriga.

Poético.

Os três estavam grávidos.

Agora teria um filho que seria só seu, sem ameaça de pai, de mãe, de Sá Praxedes, de companheiro algum ou de patrões. E haveria de ensinar para ele que a vida é viver e é morrer. É gerar e é matar.