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Não saber nada sobre um assunto muitas vezes é mais saudável do que saber o que não é verdadeiro, e saber pouco pode ser perigoso.
Tudo isso lembra bastante uma antiga definição do método de ensino em sala de aula: um processo em que o conteúdo do livro do professor é transferido para o caderno do estudante sem passar pela cabeça de nenhum dos dois.
O que um teste de QI se propõe a oferecer é uma amostragem do intelecto. Como qualquer outro produto do método de amostragem, o QI é um índice numérico com um erro estatístico, o qual expressa a precisão ou a confiabilidade desse índice.
Em geral, há muitas maneiras de expressar qualquer valor. Você pode, por exemplo, relatar exatamente o mesmo fato chamando-o de 1% de retorno das vendas, 15% de retorno do investimento, lucro de dez milhões de dólares, aumento de 40% no lucro (comparado à média de 1935-1939) ou redução de 60% em relação ao ano anterior. O método é escolher aquele que pareça melhor para o propósito no momento e confiar que poucos dos que lerem reconhecerão como isso reflete de maneira imperfeita a situação.
É interessante o fato de que a taxa de mortalidade ou a quantidade de mortes sejam, com frequência, uma medida melhor da incidência de uma doença do que os números diretos sobre a incidência — simplesmente porque a qualidade dos relatos e da manutenção dos registros é muito maior para casos fatais.
A falácia é um recurso bem antigo, mas tem forte tendência a surgir em materiais estatísticos, nos quais é disfarçada por uma confusão de números impressionantes. Corresponde a dizer que, se B acontece depois de A, então A causou B. Está sendo feita uma suposição injustificada de que, como o fumo e as notas baixas andam juntos, o fumo causa notas baixas. Não poderia ser exatamente o oposto? Talvez as notas baixas levem os estudantes não a beber, mas sim ao tabaco. No fim das contas, essa conclusão é mais ou menos tão provável e tão bem sustentada por evidências quanto a outra.
Para não se deixar seduzir pela falácia post hoc — segundo a qual um evento é causado por outro que o antecede — e acabar acreditando em muitas coisas que não são verdadeiras, é necessário submeter qualquer afirmativa de relação a uma análise cuidadosa. A correlação — aquele número convincentemente preciso que parece provar que algo é como é devido à influência de outro fator — pode, na verdade, ser de vários tipos.
Um tipo comum de covariância é aquele em que a relação é real, mas não é possível saber de fato qual das variáveis é a causa e qual delas é o efeito. Em algumas ocasiões, a causa e o efeito podem trocar de posição de tempos em tempos, ou talvez ambos possam ser a causa e o efeito simultaneamente.
Talvez o mais complicado de todos os tipos seja aquele muito comum em que nenhuma das variáveis tem qualquer efeito sobre a outra, mas, ainda assim, existe uma correlação real.
DAR INFORMAÇÕES erradas às pessoas usando material estatístico é algo que pode ser chamado de manipulação estatística; em uma palavra (mesmo que não muito boa), é a estatisticulação.
É mais ou menos como a história do vendedor de beira de estrada que foi chamado para explicar como conseguia vender sanduíches de coelho tão baratos. “Bem”, disse ele, “tenho que pôr um pouco de carne de cavalo também. Mas eu misturo meio a meio: um cavalo, um coelho”.
Outro campo fértil para ser enganado está na confusão entre percentual e pontos percentuais. Se seu lucro deve subir de 3% sobre um investimento, em um ano, para 6% no ano seguinte, você pode fazê-lo parecer bem modesto considerando-o um aumento de três pontos percentuais. Com igual validade, você pode descrevê-lo como um aumento de 100%.
O estranho nos percentis é que um estudante com percentil 99 é provavelmente um pouco superior àquele que tem noventa, enquanto aqueles com percentil quarenta e sessenta podem ter um desempenho praticamente igual. Isso se deve ao hábito que muitas características têm de se agruparem em torno de suas próprias médias, formando a curva de sino “normal” que mencionamos em um capítulo anterior.
O fato é que, apesar de sua base matemática, a estatística é tanto uma arte quanto uma ciência. Muitas manipulações e até mesmo distorções são possíveis dentro dos limites de sua propriedade.
Nem todas as informações estatísticas que você vai encontrar podem ser testadas com a segurança de uma análise química ou a precisão de um laboratório de testes. No entanto, é possível espicaçar o assunto com cinco perguntas básicas e, ao encontrar as respostas, evitar aprender um monte de coisas que não são verdadeiras.
A primeira característica a procurar é a parcialidade — o laboratório que tem um ponto a ser provado para estabelecer uma teoria, uma reputação ou uma remuneração; o jornal cujo objetivo é uma boa história; os trabalhadores ou gerentes com um nível salarial em jogo.