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Às vezes eu saía de um longo silêncio para extravasar minha frustração: “Não tem nada pra comer nesta porra de lugar!” Mas é claro que havia comida na montanha — havia carne, muita carne, e ao alcance da mão. Tão perto quanto os cadáveres enterrados do lado de fora da fuselagem, sob uma fina camada de gelo.
Talvez Roberto tivesse razão e a equipe de resgate acabasse nos encontrando... Mas eu sabia que não era assim. Estávamos quase sem comida. Quanto tempo levaria até que ela acabasse completamente e a terrível espera pela morte de alguém tivesse início? Quem morreria primeiro? Quanto tempo esperaríamos para cortá-lo? E como seria para o último sobrevivente? Olhei mais uma vez para a montanha e compreendi que nada que ela me fizesse seria pior do que aquilo que o futuro me reservava naquele lugar.
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A montanha me ensinava uma dura lição: a camaradagem é um sentimento nobre, mas, no fim das contas, a morte é um oponente que só podemos enfrentar sozinhos.
Eu tremia descontroladamente de frio e cansaço. Meu corpo estava à beira de um colapso total. Minha mente conseguia formar somente os pensamentos mais simples. Então, acima da minha cabeça, vi a silhueta de uma crista ascendente realçando-se contra o pano de fundo do límpido céu azul; e não havia mais montanha depois dela. O topo!
Antes da queda, eu não dava importância a quase nada, mas as montanhas mostraram-me que a vida, qualquer vida, é um milagre.