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Kindle Notes & Highlights
by
Laini Taylor
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July 26 - September 15, 2024
Era uma vez um anjo e um demônio segurando um osso da sorte, que, ao ser partido, dividiu o mundo em dois.
A infelicidade de Akiva o consumia. Ia lhe corroendo aos poucos, e ele sentia a dor a todo instante, como se dentes o dilacerassem — a tristeza que o devorava por dentro, a verdade sombria do que tinha feito, atormentando-o como um pesadelo do qual não conseguia acordar.
Nitid, a lua brilhante, era a deusa de quase tudo para os quimeras — menos dos assassinos e dos amantes secretos. Esses eram devotos de Ellai.
O que o amor tinha feito com ele? Seus ombros estavam caídos, suas espadas arranhavam o chão.
Enquanto tivesse vida, coisa que merecia tão pouco, ele a usaria, a empregaria, faria tudo o que pudesse em nome dessa vida, mesmo que não fosse, pois nunca era, suficiente.
Era um turíbulo — um recipiente para recolher as almas dos mortos e preservá-las para a ressurreição
— O que você tem de diferente? — perguntara ela um dia qualquer. — Eu quase nunca gosto de pessoas, mesmo em pequenas doses. Mas nunca me canso de ficar junto com você. — É o meu superpoder — respondera ele. — Uma incrível ficarjuntabilidade.
Era um daqueles sonhos que invadem o espaço entre um segundo e outro, provando que o sono tem sua própria física — em que o tempo se contrai e se expande, vidas inteiras se desenrolam em um piscar de olhos e cidades se reduzem a cinzas em um mero bater de cílios.
Há intimidade na dor. Qualquer um que já confortou alguém que estivesse sofrendo sabe disso: a ternura impotente de quem consola, o abraço, os gemidos e o lento embalar, quando dois se tornam um contra o mesmo inimigo, a dor.
Naquele ciclo de massacres, represália gerava represália, para sempre.
— Almas mortas sonham apenas com morte — disse o ressurreicionista ao imperador. — Sonhos pequenos para homens pequenos. É a vida a única capaz de crescer e preencher mundos. Ou temos a vida como mestre, ou a morte.
Desenhar sempre tinha sido sua forma de processar as coisas. Assim que passavam para o papel, tornavam-se propriedade sua, e assim Karou conseguia decidir que poder teriam sobre ela.
Levante uma arma e você se torna um instrumento, com um propósito tão claro quanto o da própria arma: encontrar artérias e cortá-las, encontrar membros e decepá-los; tomar o que está vivo e entregá-lo à morte. Não havia outra razão para se empunhar uma arma, nenhuma outra razão para ser uma.
É a vida a única capaz de crescer e preencher mundos. Ou temos a vida como mestre, ou a morte.
O silêncio, pensou ela, era incrível: algo perfeito e frágil. Assim como vidro, caso se quebrasse nunca mais voltaria a ser igual.
Eles não eram seu povo, mas... eram, e talvez isso significasse que qualquer um podia fazer parte de qualquer povo, o que era um bom pensamento a se ter no momento em que o mundo parecia desabar.
O que pode um soldado fazer quando compaixão é traição e quando está sozinho nisso?
— Ou temos a vida como mestre, ou a morte — dissera Brimstone, mas, nos dias banhados a sangue em que viviam, não havia o luxo da escolha. A morte regia a todos.

