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O belo é podre, e o podre, belo sabe ser; Ambos pairam na cerração e na imundície do ar. [Saem.]
Os temores do presente são menores que as horríveis figuras da imaginação. Meu pensamento, este que em si acolhe um assassínio não mais que fantasioso, sacode de tal maneira o reino de minha condição humana e única, que toda ação fica asfixiada em conjeturas, e nada mais existe, a não ser o que não existe. Banquo – Observai, como nosso parceiro está absorto em pensamentos, por eles arrebatado. Macbeth – Se a Sorte de mim fizer Rei, então a Sorte poderá coroar-me sem que em prol disso eu precise agir. Banquo – Novíssimas honras caem sobre ele, à semelhança de nossas roupas novas: aderem ao
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Aconteça o que acontecer, o tempo e as horas sempre chegam ao fim, mesmo do dia mais duro dentre todos os dias.
Não existe arte pela qual se possa adivinhar o caráter de um homem só em observando-lhe a fisionomia. Ele foi um cavalheiro, e nele depositava eu absoluta confiança.
Deixas que o teu “Não me atrevo” fique adiando
tua ação até que o teu “Eu quero” aconteça por milagre; como a gata, coitadinha, que queria comer o peixe mas não queria molhar a pata.
Encontro-me agora determinado, e tensionada está cada fibra de meu corpo, em prontidão para esse terrível feito. Vamos! Que se enganem os outros com nossa aparência mais serena. Aquilo que sabe o coração falso, a cara falsa deve esconder.
Desde que eu não perca a honra ao buscar aumentá-la, desde que continue o meu coração imune a sentimentos de culpa, desde que permaneça eu um súdito leal, receberei de bom grado o seu conselho.
Nada se ganha, e tudo se perde, quando nosso desejo fica satisfeito sem contentamento. Mais seguro é ser o objeto que destruímos, mais seguro do que habitar uma alegria duvidosa, construída pela destruição.
E, como vocês todas sabem, a excessiva confiança é o maior inimigo do homem.
Fugir assim é loucura. Quando não fazem de nós traidores as nossas ações, nossos medos disso encarregam-se.
Não me atrevo a dizer mais, mas cruel é esta nossa época, quando somos traidores antes mesmo de conhecermo-nos a nós mesmos;
quando o medo leva-nos a acreditar em rumores, sendo que não sabemos nem mesmo o que nos causa esse medo; pelo contrário, flutuamos em um mar selvagem e violento que nos carrega de um lado para outro.
Na pior das circunstâncias, as coisas interrompem-se. Quando não, melhoram em di...
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Lady Macduff – Senhor meu filho, seu pai está morto, e o que fará você agora? Como conseguirá viver? Filho – Como os passarinhos, Mãe. Lady Macduff – Mas, como? Alimentando-se de minhocas e moscas? Filho – Quis dizer alimentando-me com o que eu conseguir, que é o que fazem os passarinhos.
Lady Macduff – Sim, está morto. Como você vai fazer para arranjar um pai? Filho – A pergunta é: como a senhora vai fazer para arranjar um marido? Lady Macduff – Ora, eu posso comprar vinte deles em qualquer mercado. Filho – Só compra assim quem está pensando em revender.
Filho – Meu pai era um traidor, Mãe? Lady Macduff – Ah, isso ele era. Filho – O que é um traidor? Lady Macduff – Ora, um que está mentindo quando faz uma promessa. Filho – São todos traidores, os que assim procedem?
Lady Macduff – Todos e cada um que assim procede é um traidor e deve ser enforcado. Filho – E devem todos ser enforcados, os que mentem ao fazer uma promessa? Lady Macduff – Todos e cada um. Filho – E quem deve enforcá-los? Lady Macduff – Ora, os homens honestos. Filho – Então os mentirosos que fazem falsas promessas são uns bobalhões, pois há tantos mentirosos e falsos que eles poderiam
espancar e enforcar os homens honestos.
Lady Macduff – Para onde poderia eu fugir? Não fiz mal algum. Mas agora ocorre-me que estou neste mundo terreno, onde fazer o mal é muitas vezes louvável e fazer o bem algumas vezes foi considerado ato perpetrado por louco perigoso. Mas então, ai de mim, por que lançar mão dessa defesa feminina – alegar que não fiz mal algum? – Que rostos são esses?
Malcolm – Chorarei tão-somente por aquilo em que acredito; acreditarei tão-somente naquilo que sei ser fato; e tudo que eu puder remediar será feito à medida em que o tempo for se mostrando
companheiro.
Diz o bom senso que sacrifica-se um pobre e fraco cordeiro inocente para apaziguar um deus irado.
Mesmo que todas as sórdidas silhuetas vestissem os trajos da Benevolência, ainda assim a Benevolência preserva, sempre, sua aparência benévola.
Macduff – Sangra, sangra, pobre Pátria. E tu, poderosa Tirania, podes assentar com segurança tuas fundações,
pois o Bem não ousa contrariar-te. Podes desfilar com o teu saque, pois teu título recebeu confirmação. –
Quanto ao senhor, passar bem, milorde. Eu não poderia ser o vilão que o senhor imagina, nem por todas as terras que estão sob o jugo do Tirano, mesmo a...
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Malcolm – Se um homem assim é digno de governar, diga-me o senhor. Eu sou como me descrevi. Macduff – Digno de governar? Não, e nem de viver. Ó nação miserável, governada por um Tirano sem direito ao trono, Tirano que carrega na mão um cetro coberto de sangue, quando tu verás tuas áureas épocas novamente? Quando o herdeiro legítimo de teu Trono, por interdição por ele mesmo decretada, apresenta-se como um condenado e atira blasfêmias contra sua própria estirpe? – Seu Augusto Pai, senhor, foi um santo Rei. A Rainha
que o trouxe a este mundo, mulher que vivia mais de joelhos que de pé, para livrar-se das tentações, rezava todos os dias de sua vida. Adeus! Esses pecados de que o senhor acusa a si mesmo tiveram o poder de banir-me da Escócia. Ó meu coração, tuas esperanças encerram-se aqui.
Malcolm – Macduff, essa sua nobre emoção, filha da integridade, lavou de minha alma os sombrios escrúpulos, reconciliou os meus pensamentos com a sua saudável lealdade e sua honra. O diabólico Macbeth, por muitos desses ardis, tem
buscado colocar-me sob seu jugo. É um raciocínio cauteloso, o que me impede de confiar nos outros cedo demais. Mas Deus, lá de cima, faz a intermediação entre mim e sua pessoa. E neste exato momento coloco-me sob sua orientação e desminto minha própria detração. Repudio as máculas e culpas que infligi a mim mesmo, por estranhas à minha natureza. Não conheço mulher, jamais cometi perjúrio, mal cobicei o que era meu de direito, em nenhum momento perdi a fé, não denunciaria nem mesmo o Demônio aos seus companheiros,
e tenho tanto amor à verdade quanto à vida. Minhas primeiras palavras mentirosas foram as que lhe disse sobre mim mesmo. Na verdade, sou fielmente um comandado seu e de minha pobre Pátria, para onde estava indo, antes que o senhor aqui chegasse, o velho Siward com dez mil soldados prontos para a batalha, e prontos para partir. Agora partiremos todos juntos, e que se equ...
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Macduff – Tais boas-vindas... e coisas mal-vindas ao mesmo tempo... são difíceis de reconciliar.
A ninguém se vê sorrindo, nunca, à exceção daqueles que nada sabem.
Soluços e gemidos e gritos dilaceram o ar e passam despercebidos. A tristeza mais violenta parece uma emoção corriqueira. Quando dobram os sinos por algum finado, dificilmente alguém pergunta quem expirou. E expiram-se as vidas dos homens de bem antes de fenecerem as flores de seus chapéus. Morrem antes de adoecer.
Ross – Que os seus ouvidos não passem a desprezar para sempre minha voz, pois esta vai tomá-los de assalto com os sons mais pesados que já ouviram. Macduff – Hmm, já imagino o que seja. Ross – O seu Castelo foi assaltado, sua esposa e filhos brutalmente assassinados. Relatar-lhe em detalhes como tudo se deu seria o mesmo que acrescentar ao abate desses bichinhos amados e inocentes o seu próprio passamento, senhor.
Malcolm – Piedade, meu Deus! – Mas o que é isso, homem? Jamais cubra os olhos com seu chapéu. Ponha em palavras o seu sofrimento. A dor que não fala termina por sussurrar a um coração sobrecarregado, pedindo-lhe a explosão. Macduff – Meus filhos também? Ross – Esposa, filhos, criados, tudo que fosse encontrado pela frente. Macduff – E precisava eu estar longe? Minha esposa também, assassinada? Ross – Foi o que eu disse.
Malcolm – Console-se. Façamos para nós mesmos um grande remédio a partir de nossa grande vingança, e que esta venha curar tua irreconciliável dor. Macduff – Ele não tem filhos. – Todos os meus lindos rebentos? Disseste “todos”? – Ah, que abutre, que demônio, que ave de rapina! – Todos? Mas como pode ser? Todos os meus mimosos filhotinhos? E a fêmea-mãe, todos com uma única e cruel arremetida? Malcolm – Enfrente isso como um homem.
Macduff – Isso eu farei. Mas também devo sentir isso como o homem que sou. Não tenho como evitar a lembrança das pessoas que até há pouco eram, e eram o que de mais precioso havia para mim. Os Céus testemunharam uma tal atrocidade e não se dignaram a tomar partido? Pecador és tu, Macduff, e por teus erros eles foram assassinados. Embora eu seja nada, não foi por deméritos deles, e sim meus, que abateu-se sobre suas almas esse massacre. Que o Céu agora os faça descansar.
Malcolm – Que essa seja a pedra onde o senhor vai amolar a sua espada. Deixe a dor converter-se em raiva. Não deixe ficar brando o coração; antes, faça com que ele se enfureça! Não de uma fúria cega, mas que seja ela bem dirigida, bem afiada, cortante. Macduff – Ah, bem que eu podia agora fazer papel de mulher com meus olhos e, ao mesmo tempo, discursar como um valentão com minha língua. Ó Céu caridoso, fazei com que seja curto o intervalo. Colocai-nos face a face, a mim e a esse inimigo da Escócia. Posicionai-o
o ao alcance de minha espada e, se ele escapar, que Deus o perdoe também. Malcolm – Essa toada sim, soa-me varonil. Venha, vamos ter com o Rei. Nossas forças encontram-se prontas. Não nos falta nada, a não ser partir. Macbeth está maduro, e só falta quem sacuda o galho e o faça cair. Os poderes divinos têm em nossas armas os seus instrumentos. Console-se o senhor conosco o quanto lhe for possível.
Só será longa a noite que nunca enc...
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Os que estão sob seu comando movem-se por obediência, e não por amor. E agora ele começa a sentir que seu título pende, frouxo, sobre sua pessoa, como o manto de um gigante sobre um ladrão nanico.
Que o Diabo te amaldiçoe e vires negro, seu bobalhão, cara de mingau. De onde tiraste essa palidez insossa, esse olhar de pato?
Apaga-te, apaga-te, chama breve! A vida não passa de uma
sombra que caminha, um pobre ator que se pavoneia e se aflige sobre o palco – faz isso por uma hora e, depois, não se escuta mais sua voz. É uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria e vazia de significado.

