Otelo
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Read between July 19 - September 21, 2020
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O senhor com certeza não deixará de notar vários criados obsequiosos e submissos que, apaixonados por seu próprio vínculo de servidão, vão esgotando seu tempo de vida, igualzinho como fazem os asnos de seus amos, matando-se de trabalhar por nada além de forragem seca só para, quando ficarem velhos, serem despedidos. Pois quero mais é que sejam açoitados esses criados honestos. Outros há que, maquilados com as formas e fantasias do dever, mantêm no entanto seus corações a serviço de si mesmos e, cobrindo seus amos e senhores com não mais que demonstrações de servitude, prosperam por seu lado; ...more
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É, com a maior das certezas, o maior dos males: ela se foi. E, do meu tempo assim desprezado de vida, o que será? Nada, a não ser amargura.
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Brabâncio – Uma donzela que nunca se mostrou atrevida; de espírito tão acomodado e calmo que dela coravam os seus próprios impulsos; e ela ... apesar de sua natureza, de sua idade, de seu país de berço, de sua reputação, apesar de tudo ... apaixonar-se por essa coisa que lhe punha medo só de olhar!
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Sempre me perguntava sobre a história de minha vida, ano a ano ... as batalhas, os cercos, as venturas por que passei.
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Ela me amava pelos perigos por que eu havia passado, e eu a amava por ter ela se compadecido de mim. Essa a única feitiçaria que usei. Eis que chega a dama; deixai que ela dê seu testemunho.
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Lamentar um infortúnio que está morto e enterrado é dar o passo certo na direção de atrair para si novo infortúnio. Há sempre aquilo que não pode ser preservado quando o Destino tem as rédeas na mão, mas a Paciência encarrega-se de fazer do prejuízo uma zombaria. Aquele que foi roubado, quando sorri, furta algo do ladrão, e rouba a si mesmo quem se consome em mágoa inútil.
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Tolo seria viver quando viver é um tormento. Temos, além disso, uma prescrição para morrer quando a morte é nosso médico.
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“Não está dentro de minha capacidade”, uma ova! Está em nós ser isso ou aquilo outro. Nossos corpos são jardins, dos quais nossas vontades são os jardineiros. Portanto, se plantamos urtiga ou semeamos alface, se plantamos hissopo ou capinamos ervas daninhas, se suprimos esse jardim com um único gênero de ervas ou o distraímos com muitos, seja para esterilizá-lo com ócio ou adubá-lo com trabalho diligente... ora, o poder e a autoridade reguladora disso encontra-se em nossas vontades.
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Há muitos eventos na barriga prenhe das horas, e eles têm de ser paridos. Em frente! Marcha! Arranje o seu dinheiro! Continuaremos esta conversa amanhã. Adieu.
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O Mouro é de natureza aberta e generosa: acredita ser honesto todo homem com aparência de honesto, e deixa-se levar docilmente pelo nariz, assim como o são os asnos. Está concebido! Foi gerado! O inferno e o breu da noite deverão dar à luz do mundo esse monstro.
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Otelo – Minha alma encanta-se tanto quanto eu fico satisfeito em ver-te aqui, diante de meus olhos. Alegria da minha vida! Se depois de cada tempestade a bonança é esta, que soprem os ventos, e que eles soprem sem medo de despertar a morte! Que a nau balouçante escale montes de mares da altura do Olimpo, só para depois mergulhar mais uma vez, tão profundo como a distância entre céu e inferno! Se agora fosse o momento de morrer, não posso imaginar momento mais propício, pois minha alma inunda-se de uma satisfação tão absoluta que, receio, nenhum prazer igual tem chance de suceder-se nesse ...more
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Iago – Abençoadas, uma ova! O vinho que ela bebe é feito de uvas. Fosse ela abençoada, jamais teria se apaixonado pelo Mouro. É um belo pastel de vento abençoado, isso sim!
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Preferia eu em glorioso combate ter perdido essas pernas que aqui me trouxeram para tomar parte nessa cena!
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Não sei de absolutamente nada de minha parte, dito ou feito incorretamente esta noite ... a não ser que o amor-próprio seja por vezes um vício, e defender-nos seja um pecado quando a violência investe contra nós.
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Reputação é uma imposição tremendamente falsa e inútil, muitas vezes angariada sem mérito e perdida sem um real motivo. Você não perdeu reputação nenhuma, a menos que se repute a si mesmo um perdedor.
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Ah, tu, espírito invisível do vinho, se não tens um nome pelo qual podes te tornar conhecido, vamos chamar-te de demônio!
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Aprouve ao demônio embriaguez ceder seu lugar ao demônio ira. As imperfeições de um abriram-me o caminho para o outro, tudo para que eu chegasse a verdadeiramente desprezar-me.
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Sim, mas, minha senhora, essa política de distanciar-se pode durar tempo demais, ou pode mal sobreviver com uma dieta aguada e magra, ou pode ainda reproduzir-se em suas próprias circunstâncias, de tal modo que, eu estando ausente e meu posto por outrem ocupado, meu general venha a esquecer-se de minha amizade e de meus serviços.
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Embora esteja eu obrigado a todos os atos de meu dever, não sou obrigado a fazer aquilo que não se exige de um escravo. Revelar meus pensamentos! Ora, e se porventura eles forem vis e falsos? ... Diga-me: qual é o palácio onde não se intrometem às vezes coisas fétidas? Quem tem o peito tão impoluto que jamais tenha deixado uma apreensão impura conduzir registros e julgamentos, que tenha presidido sessões no tribunal com meditações tão-somente legítimas?
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Mas aquele que vem me lesar em meu bom nome estará subtraindo de mim aquilo que não faz dele pessoa rica mas que me torna verdadeiramente pobre.
Monique
Roubar a desdemona
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Vive feliz o corno que, certo de seu destino, não ama a quem o ofende. Mas, ah, que minutos desgraçados passa aquele que adora, porém duvida, suspeita, porém ama com intensidade!
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E, uma vez fornecida a prova, não há nada além disto: o fim simultâneo do amor e do ciúme.
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Se provas eu tiver de que ela é pássaro selvagem, embora fossem as barras de sua gaiola as cordas de meu coração, eu a soltaria em pleno ar, deixaria que planasse a favor do vento, para pegar sua presa, o destino.
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Ah, a praga do casamento, podermos chamar essas delicadas criaturinhas de nossas, mas não serem nossos os seus apetites! Mil vezes ser eu um sapo, vivendo dos vapores de uma masmorra, do que manter um cantinho reservado no objeto de meu amor para o uso de outros.
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Esse é um destino inescapável, como a morte. Essa praga de chifrudos é a sorte que nos cabe desde quando nos dão à luz. Olhem que ela chega!
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Detalhes insignificantes, tênues como o ar, apresentam-se aos enciumados sob a forma de confirmações, tão poderosas como as Sagradas Escrituras.
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Otelo – Que noção tinha eu de suas horas roubadas de luxúria? Eu não enxergava, não pensava sobre isso, e isso não me doía. Eu dormia bem a cada noite, alimentava-me bem, era feliz. Eu não encontrava nos lábios dela os beijos de Cássio. Digo isto de quem foi roubado e não deu por falta da coisa subtraída: deixe-o ignorante do roubo, e ele nem terá sido roubado.
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Faze com que eu veja; ou, pelo menos, prova o que insinuas, de modo que a evidência não traga em si nem presilha nem gancho por onde se possa pendurar uma única dúvida. Do contrário, que a desgraça caia sobre tua vida!
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Emília – Não é em um ano, nem em dois, que se conhece um homem. Tudo que eles são é estômago, e nós não passamos de comida. Eles nos comem com sofreguidão e, quando se sentem empanturrados, eles nos arrotam.
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Desdêmona – Nesse dia, ai de mim, que nunca lhe dei motivos para ciúme! Emília – Mas almas ciumentas não funcionam assim. Elas nunca são ciumentas porque há uma causa, mas sim porque são ciumentas. Este é um monstro gerado em si mesmo e de si mesmo nascido.
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Tem essa criatura um fraco por Cássio, como sói ser a praga das prostitutas: sabem lograr muitos e acabam sendo logradas por um só. Ele, quando ouve falar dela, não consegue conter a risada.
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Otelo – Que seja enforcada! Digo apenas o que ela é: tão delicada nos trabalhos de agulha, admirável ao praticar sua música ... oh, com seu canto ela encanta um urso selvagem ..., e consegue ser erudita e inteligente, e imaginativa e original...
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Otelo – Não, estás certo. Mas, ainda assim, que pena isso tudo, Iago! Oh, Iago, que pena isso tudo, Iago!
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Mas, ai de mim, fazer de minha pessoa uma figura fixa para, em cima dela, marcar o tempo do menosprezo com um ponteiro lento e igualmente fixo!
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Mas logo ali, onde havia eu armazenado o meu coração, onde preciso eu ou viver ou não ter vida, logo ali, na fonte de onde brota o rio de minha existência, rio este que seca se não for por sua fonte alimentado ... logo dali, ser removido! Ou devo eu contentar-me em ser cisterna, onde sapos obscenos vêm enlaçar-se e procriar? Vira tua face para o outro lado, paciência, tu, querubim novinho e de lábios rosados, sim, para o outro lado, e mostra-te sinistro como o próprio inferno!
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Não consigo chorar e, respostas, eu não as tenho, a não ser aquelas que devem com lágrimas ser lavadas.
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Emília – Teria ela rejeitado tantos bons e nobres partidos, o próprio pai, seu país natal e seus amigos para ser chamada de meretriz? No lugar dela, tu não chorarias?
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Emília – Um homem muito bonito. Desdêmona – Ele sabe falar muito bem. Emília – Sei de uma dama em Veneza que teria andado de pés descalços até a Palestina por um roçar dos lábios dele.
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Mas eu penso que é culpa dos maridos quando as esposas caem em tentação. Digamos que eles negligenciam seus deveres e colocam nossos tesouros em colos estranhos, ou irrompem em mal-humoradas crises de ciúmes, atando-nos numa série de restrições. Digamos ainda que nos batem, ou fazem minguar nossa mesada anterior por despeito... Ora, nossos corpos secretam fel e, embora possamos ser graciosas, também temos sede de vingança.
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O que estão fazendo eles quando nos trocam por outras? Praticando um esporte? Acredito que sim. Um esporte gerado por afeição? Acredito que sim. É a fragilidade de cada um que peca dessa maneira? Também acredito que sim. E não temos nós, esposas, afeições? Desejo de praticar um esporte? E não somos igualmente frágeis? Tanto quanto os homens? Então, que eles façam de nós bom uso; do contrário, que saibam que os males que fazemos foram eles que nos ensinaram.
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Emília – Cometeste, senhor, o pior dos teus atos. És agora indigno de merecer o céu, assim como indigno foste de tua esposa.
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Depois os senhores devem mencionar este que amou demais, com sabedoria de menos; este que não se deixava levar por sentimentos de ciúme, mas, deixando-se levar por artimanhas alheias, chegou aos extremos de uma mente desnorteada; este cuja mão, como faz o índio mais abjeto, jogou fora uma pérola mais preciosa que toda a sua tribo; este que, de olhos baixos, apesar de não ser de seu feitio mostrar-se comovido, agora derrama lágrimas de maneira pródiga, como as árvores das Arábias derramam sua goma medicinal.
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Graciano – Tudo o que foi falado arruinou-se. Otelo – Beijei-te antes de te matar. Nenhuma outra saída era possível, mas esta: matando-me, morro depois de te beijar.