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January 28, 2023 - January 23, 2024
Dói-me por detrás das costas da minha consciência de sentir...
Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.
Cárcere do Ser, não há libertação de ti?
Cárcere de pensar, não há libertação de ti?
Há saudades nas pernas e nos braços.
Há saudades no cérebro por fora.
Há grandes raivas feitas de cansaços.
A vida ali deve ser feliz, só porque não é a minha.
Começo a conhecer-me. Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
ou metade desse intervalo, porque também há vida ...
Sou isso, enfim ...
Quando é que despertarei de estar acordado?
E chorei como todas as mães do mundo sobre o horror da vida.
Tenho vontade de vomitar, e de me vomitar a mim...
Tenho uma náusea que, se pudesse comer o universo para o despejar na pia, comia-o.
E a vida sempre me doeu, sempre foi pouco, e eu infeliz.
A certos momentos do dia recordo tudo isto e apavoro-me,
Queria comer, beber, esfolar e arranhar o mundo,
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

