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Tu me perguntaste recentemente por que afirmo ter medo de ti. Eu não soube, como de costume, o que te responder, em parte justamente pelo medo que tenho de ti, em parte porque existem tantos detalhes na justificativa desse medo, que eu não poderia reuni-los no ato de falar de modo mais ou menos coerente.
Seja como for, éramos tão diferentes e nessa diferença tão perigosos um para o outro,
Isso foi apenas um pequeno começo na época, mas esse sentimento de nulidade que me domina com frequência (um sentimento que, aliás, visto por outro ângulo pode bem ser nobre e produtivo) surgiu em boa parte por causa da tua influência.
E é significativo que até hoje tu apenas me encorajes de fato naquilo que te afeta pessoalmente, quando se trata do teu amor-próprio, que eu firo (por exemplo, com meu propósito de casamento) ou que é ferido em mim
Da tua poltrona, tu regias o mundo. Tua opinião era certa, qualquer outra era disparatada, extravagante, meschugge, anormal.
Bastava a gente estar feliz com alguma coisa, sentir-se realizado com ela, chegar em casa e expressá-la, para que a resposta fosse um suspiro irônico, um sacudir negativamente a cabeça, um tamborilar de dedos sobre a mesa:
Sem conhecê-lo, tu o comparaste, de um modo terrível, do qual já me esqueci, com insetos daninhos
Tu, porém, golpeavas com tuas palavras, sem mais nem menos, não tinhas pena de ninguém, nem durante nem depois; contra ti a gente estava sempre completamente indefeso.
Ouve-se então apenas o seguinte: “Faze o que quiseres; por mim, és livre; já és maior de idade; eu não tenho nenhum conselho a te dar” e tudo isso no quase sussurro, terrível e rouco, da ira e da condenação completa, diante do qual eu hoje só tremo menos do que na infância porque o sentimento de culpa exclusivo da criança em parte foi substituído pela compreensão do nosso desamparo comum.
Felizmente também