Beloved (Beloved Trilogy, #1) in Read the Movie

Dec 31, 2012 Beto rated it liked it · review of another edition

Não para o gosto de todos, mas a investir por todos. Isto porque é uma leitura muito particular, muito autêntica e concentrada.

Com uma boa escrita, de forma clara e evidente, este é um livro que apresenta um estudo intenso acerca do esclavagismo nos EUA por parte de Toni Morrison. As características e descrições relatadas deste período da História dos EUA (e do mundo, claro está) são de uma minúcia tal que gradualmente nos fazem ir sabendo da cultura, da política e da espiritualidade que marcav Não para o gosto de todos, mas a investir por todos. Isto porque é uma leitura muito particular, muito autêntica e concentrada.

Com uma boa escrita, de forma clara e evidente, este é um livro que apresenta um estudo intenso acerca do esclavagismo nos EUA por parte de Toni Morrison. As características e descrições relatadas deste período da História dos EUA (e do mundo, claro está) são de uma minúcia tal que gradualmente nos fazem ir sabendo da cultura, da política e da espiritualidade que marcava essencialmente os negros residentes nesse país (ou melhor pensando, negros que eram propriedade dos cidadãos desse país: “os brancos” - conforme é referido ao longo do livro).

Sendo este o grande tema da obra, o esclavagismo marca o seu tempo presente com várias narrativas sobre um passado sofrido e de horror. Parece-me que a intenção é demonstrar de um modo romanceado as cicatrizes deste período da História da Humanidade - e isso é conseguido de forma constante, cheia de analogismos e descrições contextualizadas ao tempo, ao lugar e às pessoas. É neste sentido de grande tema que surge o romance que se lê, incidindo especialmente na relação mãe-filha quando influenciada pela escravatura – a meu ver esta relação mãe-filha faz deste um livro com um retrato muito sensível, não dentro, mas por vezes a roçar o que se chama de «Romance Feminino», o que, apesar do seu sentido muito humanista, não preenche os meus anseios literários. “É um amor desgastante para todos” que se apresenta sob várias facetas: amor-amor, amor=loucura, amor=perigo, amor-ódio, e amor=vingança. Este é o amor entre uma mãe-escrava e uma filha que já nasce escrava.

Neste ciclo de anseios literários, um aspecto que influencia esta revisão e classificação é o facto de este livro assentar no Realismo Mágico. Enquanto género literário, para se gostar desta obra, têm-se que inevitavelmente gostar dele, caso contrário a obra pode revelar-se um tanto enfadonha: pelo seu conteúdo fantasista e sobrenatural; e pela sua estrutura textual, pois a narrativa é marcada por um jogo de espaço-tempo que pode confundir ou deixar lapsos numa leitura que seja menos sequencial e atenta – das experiências que tive com este género literário começo a perceber de que é algo que não me chama muito à atenção, aborrece-me (talvez a próxima investida, e aquela que de facto valha a pena neste estilo, será mesmo Gabriel Garcia Marques).

Um aspecto que aqui é interessante, neste livro, é que mais do que o impacto da dimensão física da escravatura nas pessoas, a dimensão psicológica é muito superior. O paralelismo homem-animal e animal-homem são profundos, são bem trabalhados na narrativa. Sobretudo a partir deste paralelismo é que rebentam os momentos agoniantes, carregados de suspense e horror, sendo estes momentos um dos fascínios desta leitura. São esses momentos - poucos e pequenos momentos -, que auferem energia para se dar continuidade à leitura (pelo menos assim foi no meu caso).

Quer-me até parecer que “A Ilha Debaixo do Mar”, de Isabel Allende, assume esta obra como referência pois, directa e indirectamente, existem muitos pontos em comum, sendo os mais perceptíveis o grande tema do esclavagismo, a consequente relação mãe-filha, e também o sabor e significado da liberdade.

Esta é uma leitura que não se perde nada por fazê-la. Conhece mais, de outra forma, romantizada.
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