Pedro Cipriano's Blog, page 2

October 10, 2016

Ebooks: A Faca

O Fantasy and Co acaba de ganhar um novo autor residente.


Autor: André Alves
Sinopse: Rui, um jovem residente na ilha turística, que serve de paragem para quem parte para as estações espaciais, vê-se a ter visões demasiado realistas da morte do seu melhor amigo Gonçalo. Morte essa causada por si, num ato de fúria. Mas tal como vê a morte do amigo, vê-lo a passear vivo como se nada se passasse...
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É sempre um prazer conhecer um novo autor, para mais quando ele ainda está a dar os primeiros passos. A trama é um pouco confusa, mas acabamos por perceber que é intencional. Quanto mais nos aproximamos do final, mas vai crescendo um nervoso miudinho de não sabermos ao certo o que está a acontecer. Gostava que o autor tivesse desenvolvido mais as personagens. O mundo criado não tem grande relevância na história, mas a temática de universos paralelos torna tudo muito mais interessante. Nada a apontar às descrições. Em suma, é um bom conto se tivermos em conta que são os primeiros passos deste autor.Recomendo a quem quiser conhecer e apoiar um promissor e jovem escritor.
Classificação: 3 estrelas
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Published on October 10, 2016 04:00

October 9, 2016

Chá de Domingo #95: Ainda Sobre o Cyberpunk - Parte 4/5

Nesta série de artigos estou a explorar a essência e a origem do cyberpunk. Podem ler a primeira parte aqui, a segunda aqui e a terceira aqui.


"O que muita gente se esquece... é que o futuro de gancho de açougue sombrio não é um pós-apocalipse ao estilo de Mad Max, em que todos andam aos tiros uns aos outros protegidos em armaduras feitas de pneu de tractor e roupas Wilson's Leather que sobrarem. Esse futuro - imaginado por muitos como um antídoto para os espetaculares futuros cromados do Star Trek e da ficção cientifica inflexível dos anos 50 - é, de facto, inteiramente ridículo e bastante improvável assim como qualquer palermice em forma de fetiche tecnológico que os transhumanistas se lembrarem. É uma fantasia machista pelos libertários que secretamente rezam para que os pobres se revoltem e iniciem uma guerra para que os seus amigos que se parem de rir do facto de terem um arsenal de armas automáticas ao lado do seu Lexus na garagem do enclave dos subúrbios."
- Jushua Ellis
"Bem-vindo ao futuro J.G. Ballard - que rapidamente se torna um consenso pelo seu próprio mérito - onde o futuro é essencialmente banal. De momento, é a opinião mais sensata a ter. Um escritor chamado Venkatesh Rao usou recentemente o termo 'normalidade em série' para descrever isto. Tudo está pensado para activar a disposição psicológica para acreditar que nós vivemos num presente estático e aborrecido. Intemporalidade é a condição (dominante) do início do século XXI... Através da normalidade em série ninguém vence porque todos ficam adormecidos e a realidade nunca será melhorada. Mas vou sugeri-vos algo. Todas as teorias de normalidade em série e história zero podem ser destruídas por uma única coisa: olhar em volta."- Warren Ellis
"Se o futuro está morto, então temos de o invocar e aprender como vê-lo correctamente. Não se pode ver o presente em condições através do retrovisor porque ele está à frente. Hoje há seis pessoas a viver no espaço. Há pessoas a imprimir protótipos de órgãos humanos e pessoas a imprimir nanofio biológico que se ligará ao tecido humano. Já fotografamos a sombra de um único átomo. Temos pernas robóticas controladas por ondas cerebrais. Exploradores já estiveram no local insubmerso mais fundo da terra - uma cave a mais de dois quilómetros de profundidade abaixo de Abkhazia. A NASA está a preparar-se para lançar três satélites do tamanho de uma chávena de café que serão controlados por uma aplicação de smartphone. Voyager One está a mais de onze mil milhões de milhas de distância e o seu computador de 64K com fitas magnéticas de oito pistas ainda está funcional."- Warren Ellis
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Published on October 09, 2016 09:00

October 7, 2016

Rios de Sangue - Parte 1/2

O dia estava calmo e o sol perto do Zénite. Para além do bombardeamento matinal e alguns tiros de aviso, não acontecera nada digno de nota. Para Roberto, fulcral era manter a cabeça abaixo da linha do solo. Tudo o resto eram detalhes.Não havia muito para fazer, por isso, dedicou-se a desmontar e limpar a arma. O maior inimigo tinha duas armas: a morte e o aborrecimento. A transição entre uma e outra era brusca e nefasta. Tanto passavam dias aninhados naquelas poças de lama a morrer de doenças tratáveis, como em semanas de combates intensos. Uns e outros vinham e iam sem qualquer aviso. A fome e o sono eram como a paisagem, contribuíam só para o desconforto geral e já ninguém se queixava deles.O som da metralhadora quebrou a monotonia e não anunciava nada de bom. Voltou a montar a arma e a carregá-la o mais rápido que pôde. Tinham sido eles a disparar, o que significava que o inimigo estava de novo a tentar atravessar o rio.― E aqui vamos de novo ― comentou Igor, que se aninhara a seu lado.Mais disparos. Ambos sabiam que não era boa ideia espreitar. Ao contrário de alguns, eles tinham tido miolos suficientes para não perderem a cabeça desse modo.― O que se passa? ― gritou para os colegas da trincheira ao lado.― Mais um ataque, nada de especial ― respondera-lhe de imediato.O morteiro caiu a uns passos deles. A onda de choque derrubou-o, fazendo-o cair na lama. Um zumbido persistente apoderou-se-lhe dos ouvidos. Uma inspecção rápida mostrou-lhe que não estava ferido. Umas quantas assim e ficaria surdo. Igor já se havia recomposto. O Zé vinha da latrina e o Fábio do abrigo.― Onde é que vocês estavam? Já perderam o início do fogo-de-artifício ― gozou Igor, atirando um murro no ombro do Zé.Estes vinte metros estavam por conta deles. À frente ficava a terra de ninguém. Vinte metros de desolação até ao rio. As ordem eram simples: acontecesse o que acontecesse, nenhum inimigo podia jamais desembarcar.As munições de artilharia continuavam a chover por ali. Umas mais perto que outras. Se tivesse escolha, preferia ficar nos abrigos individuais, onde o risco de ser atingido era mínimo. Eles separaram-se, indo cada um para o posto, uma saliência na vala. Por esta altura, já Igor estaria a usar o seu espelho para ver quem lá vinha. Olhou para arma. Esta lata podia ser do tempo da União Europeia, mas ainda funcionava bem. A primeira vez que encravasse podia ser o último dia da sua vida.― Más notícias, pessoal. Eles estão a levar barcos até à praia. Não tarda que tentem atravessar ― gritou Igor, fazendo-se ouvir por cima do barulho dos disparos.Ao longo dos anos, tinham havido centenas de investidas de ambos os lados, todas com o mesmo resultado: nenhum. Não fazia diferença quantos homens e recursos usavam. Ser destacado para um ataque era uma sentença de morte. Tanto que a expressão, que te escolham para a próxima investida, já se tornara um dos piores insultos. O pior eram os bandos de corvos que se banqueteavam nos corpos abandonados na terra de ninguém. O croquitar constante afectava até mesmo os que tinham nervos de aço.Apesar de estarem no meio de uma ofensiva, a maior parte do tempo só podiam esperar. Uns segundos de acção e estava tudo acabado, de uma maneira ou de outra.Outro salvo de artilharia atingiu as posições. Um dos projécteis caiu tão perto que sentiu a onda de choque nos ossos. O zumbido nos ouvidos parara por completo. Não ouvia nada. Apercebeu-se que aquilo explodira na borda da trincheira. Era raro acontecer e nada bonito de ver. O coração falhou uma batida. Caíra perto do Igor. A terra desabara naquele ponto, misturada com pedras. Viu Fábio do outro lado. Onde estava o Zé? Distinguiu um braço mutilado no meio do solo. Aproximou-se, percebendo que o resto do dono já não estava presente. A pouco foi encontrando outros pedaços ali perto. Igor não tinha salvação. O Fábio estava tentar desenterrar algo. Foi ajudá-lo. O Zé estava bastante maltratado, mas vivo. Trocou um olhar com Fábio. Ambas as alternativas eram arriscadas.― Eu levo-o ― ofereceu-se Roberto.


Podem encontrar a segunda parte deste conto aqui.

Este conto foi publicado originalmente no Fantasy & Co.
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Published on October 07, 2016 04:00

October 5, 2016

Ebooks: Dispersão

E vou-me aventurar uma vez mais pela poesia!


Autor: Mário de Sá-Carneiro
Sinopse: Um pouco mais de sol — eu era brasa,
Um pouco mais de azul — eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe d’asa…
Se ao menos eu permanecesse aquém…

Assombro ou paz? Em vão… Tudo esvaído
Num baixo mar enganador d’espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho — ó dor! — quasi vivido…

Quasi o amor, quasi o triunfo e a chama,
Quasi o princípio e o fim — quasi a expansão…
Mas na minh’alma tudo se derrama…
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo… e tudo errou…
— Ai a dor de ser-quasi, dor sem fim… —
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou…

Momentos d’alma que desbaratei…
Templos aonde nunca pus um altar…
Rios que perdi sem os levar ao mar…
Ânsias que foram mas que não fixei…

Se me vagueio, encontro só indícios…
Ogivas para o sol — vejo-as cerradas;
E mãos d’herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios…

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí…
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi…

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Um pouco mais de sol — e fora brasa,
Um pouco mais de azul — e fora além.
Para atingir, faltou-me um golpe d’asa…

Se ao menos eu permanecesse aquém…
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Ao longo das curtas páginas deste livro, que foi, na maioria, escrito no espaço de uma semana, fica-nos o desespero do poeta. Procura-se e não se encontra e volta-se a perder em si mesmo. Mário de Sá-Carneiro escreveu-o com 22 anos, uns meros 3 anos antes de suicidar. Estes versos já mostravam os dilemas e o estado de profunda depressão do poeta. Por isso, não é uma leitura leve. A poesia não se mostra com grandes artifícios, no entanto a cadência transmite parte do desespero ao leitor.Recomendo a quem quiser conhecer um dos autores mais influentes do início do século XX, da geração d'Orpheu, assim como como Almada Negreiros e Fernando Pessoa.
Classificação: 4 estrelas
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Published on October 05, 2016 04:00

October 3, 2016

Ebooks: Dá-me o Nome

Para quem gosta de contos de visita ao Outro Lado...


Autora: Inês Montenegro
Sinopse: A paisagem do Gêres pouco tem de desconhecido a Denise. Mas após tantos anos, o nome dele ainda lhe é vedado, e o crime dela pouco esquecido.

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Apesar do início estar um pouco murcho, depressa a história impõe um bom ritmo. A ligação à  personagem principal é fácil. Uma das personagens secundárias deveria ter sido mais explorada para que o final fizesse um pouco mais sentido. As descrições estão boas, mas gostava que a autora tivesse mostrado um pouco mais do Outro Lado. A trama mantêm o leitor agarrado até à última página, culminando num final previsível mas recompensante. Em suma, um conto que irá entreter a  maioria dos leitores, incluindo os mais exigentes.Recomendo vivamente a quem gostar desta temática e/ou quero conhecer melhor o trabalho desta jovem promessa nacional.
Classificação: 4 estrelas
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Published on October 03, 2016 04:00

October 2, 2016

Chá de Domingo #94: Ainda Sobre o Cyberpunk - Parte 3/5

Vou continuar a explorar a génese e essência do cyberpunk. Podem ler a primeira parte do artigo aqui e a segunda aqui.

"Há muita frieza no cyberpunk, mas é uma frieza honesta. Há êxtase, mas também terror... Esta geração terá de assistir a um século de desperdício e de descuido chegar aos limites, e todos sabemos disso. Nós teremos sorte em não sofrer a maioria das consequências devidas às atrocidade ecológicas cometidas; nós teremos imensa sorte em não ver milhões de humanos morrerem atrozmente na televisão enquanto nós, os ocidentais, ficamos sentados nas nossas salas de estar mastigando os nossos cheeseburgers. E isto não é uma excêntrica lamentação Boêmia; isto é uma afirmação objectiva acerca da condição do mundo, facilmente confirmada por quem tiver coragem para olhar para os factos. Esta prospectivas devem e tem que afectar os nosso pensamentos e expressões e, sim, as nossas acções; e se os escritores fecham os olhas a isto, então podem ser animadores, mas não estão aptos a serem chamarem-se a eles mesmos escritores de ficção científica."- Bruce Sterling, Cyberpunk in the Nineties
"Cyberpunk foi atropelado na super auto-estrada da informação dos anos 90. Nem mais, nem menos. Bruce Sterling declarou-o mais ou menos morto em 1985, e estava certo; como movimento dentro a ficção cientifica o seu trabalho estava terminado. O mundo em que vivemos é o futuro do cyberpunk dos anos oitenta. Não é necessariamente uma coisa boa."- Charles Stross
"Os meus amigos que trabalham na aeroespacial dizem-me que os veteranos que construíram a industria cresceram a ler Heinlein e Clarke, e foram para a aeroespacial para tornar essas coisas malucas que leram enquanto garotos em realidade como adultos. Bem, eu trabalho em supercomputação, e posso assegurar que esta industria está cheia de génios jovens que cresceram a ler Gibson, Vinge e Rucker - e sim, a mim - e vieram para este ramo pela mesma razão. Nós não vivemos no mundo que a ficção cyberpunk previu. Mas, vivemos num mundo que as crianças que cresceram a ler cyberpunk construíram, e isso é algo sem dúvida espectacular."
- Bruce Bethke
"Para mim, enquanto criança, ler cyberpunk era como ver o mundo pela primeira vez. O Neuromancer de Gibson não era só estonteante em termos estilísticos; parecia uma molde para o futuro que estávamos a construir. Eu lembro-me de ler Islands de Sterling na internet e, de súbito, perceber o potencial disruptivo da tecnologia assim que o acesso a ela se torna comum. O ciberpunk estava à porta. Não é o futuro a um quarto de hora daqui - é um futuro que te arrasta e te deixa num molde de corpo inteiro à sua passagem. Há uma necessidade enorme de corrigir a sua trajectória. A ficção cientifica perdeu a ligação à realidade. Os seres humanos não vão para a Lua, estamos a tornar-nos digitais. Alguém precisa de agarrar o género pelos colarinhos e puxa-lo - forçar os escritores a olharem para o presente e decifrar as suas implicações."
- Paolo Bacigalupi
"O futuro encontra-se dividido; o futuro adorável e isolado que Joi Ito, Cory Doctorow, eu e tu habitamos, e o futuro gancho de açougue sombrio que a maior parte do mundo enfrenta, no qual eles veem os seus campos ocupados e sub-desenvolvidos tornarem-se num jogo gigante de Counterstrike entre filhos da puta jihadistas malucos religiosos e filhos da puta rednecks malucos religiosos Americanos, ambos fazendo o seu melhor para tornar o mundo inteiro num tipo de pesadelo fascista ou noutro. Claro que ninguém quer falar sobre o futuro, porque é deprimente e não é divertido quando não tens Fischerspooner a fazer a banda sonora."- Joshua Ellis


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Published on October 02, 2016 09:00

Chá de Domingo #94: Ainda Sobre o Cyberpunk - Parte 3/4

Vou continuar a explorar a génese e essência do cyberpunk. Podem ler a primeira parte do artigo aqui e a segunda aqui.

"Há muita frieza no cyberpunk, mas é uma frieza honesta. Há êxtase, mas também terror... Esta geração terá de assistir a um século de desperdício e de descuido chegar aos limites, e todos sabemos disso. Nós teremos sorte em não sofrer a maioria das consequências devidas às atrocidade ecológicas cometidas; nós teremos imensa sorte em não ver milhões de humanos morrerem atrozmente na televisão enquanto nós, os ocidentais, ficamos sentados nas nossas salas de estar mastigando os nossos cheeseburgers. E isto não é uma excêntrica lamentação Boêmia; isto é uma afirmação objectiva acerca da condição do mundo, facilmente confirmada por quem tiver coragem para olhar para os factos. Esta prospectivas devem e tem que afectar os nosso pensamentos e expressões e, sim, as nossas acções; e se os escritores fecham os olhas a isto, então podem ser animadores, mas não estão aptos a serem chamarem-se a eles mesmos escritores de ficção científica."- Bruce Sterling, Cyberpunk in the Nineties
"Cyberpunk foi atropelado na super auto-estrada da informação dos anos 90. Nem mais, nem menos. Bruce Sterling declarou-o mais ou menos morto em 1985, e estava certo; como movimento dentro a ficção cientifica o seu trabalho estava terminado. O mundo em que vivemos é o futuro do cyberpunk dos anos oitenta. Não é necessariamente uma coisa boa."- Charles Stross
"Os meus amigos que trabalham na aeroespacial dizem-me que os veteranos que construíram a industria cresceram a ler Heinlein e Clarke, e foram para a aeroespacial para tornar essas coisas malucas que leram enquanto garotos em realidade como adultos. Bem, eu trabalho em supercomputação, e posso assegurar que esta industria está cheia de génios jovens que cresceram a ler Gibson, Vinge e Rucker - e sim, a mim - e vieram para este ramo pela mesma razão. Nós não vivemos no mundo que a ficção cyberpunk previu. Mas, vivemos num mundo que as crianças que cresceram a ler cyberpunk construíram, e isso é algo sem dúvida espectacular."
- Bruce Bethke
"Para mim, enquanto criança, ler cyberpunk era como ver o mundo pela primeira vez. O Neuromancer de Gibson não era só estonteante em termos estilísticos; parecia uma molde para o futuro que estávamos a construir. Eu lembro-me de ler Islands de Sterling na internet e, de súbito, perceber o potencial disruptivo da tecnologia assim que o acesso a ela se torna comum. O ciberpunk estava à porta. Não é o futuro a um quarto de hora daqui - é um futuro que te arrasta e te deixa num molde de corpo inteiro à sua passagem. Há uma necessidade enorme de corrigir a sua trajectória. A ficção cientifica perdeu a ligação à realidade. Os seres humanos não vão para a Lua, estamos a tornar-nos digitais. Alguém precisa de agarrar o género pelos colarinhos e puxa-lo - forçar os escritores a olharem para o presente e decifrar as suas implicações."
- Paolo Bacigalupi
"O futuro encontra-se dividido; o futuro adorável e isolado que Joi Ito, Cory Doctorow, eu e tu habitamos, e o futuro gancho de açougue sombrio que a maior parte do mundo enfrenta, no qual eles veem os seus campos ocupados e sub-desenvolvidos tornarem-se num jogo gigante de Counterstrike entre filhos da puta jihadistas malucos religiosos e filhos da puta rednecks malucos religiosos Americanos, ambos fazendo o seu melhor para tornar o mundo inteiro num tipo de pesadelo fascista ou noutro. Claro que ninguém quer falar sobre o futuro, porque é deprimente e não é divertido quando não tens Fischerspooner a fazer a banda sonora."- Joshua Ellis


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Published on October 02, 2016 09:00

September 30, 2016

Ebooks: A Ruiva

Este é uma daquelas novelas que deixou uma impressão forte através das imagens sórdicas.


Autor: Fialho de Almeida
Sinopse: Não tinha a menor ideia do que fosse ter mãe ou ter amigas. No seu contacto com a gente, entrevira apenas o tenebroso fundo de bestialidade que referve em cada homem, com um fragor de luxúria cruel. Vivera sempre em si própria, sem a reminiscência dum carinho que alma piedosa lhe houvesse prodigalizado. Quantos beijos deixara roubar aos moços do cemitério e quantas palavras tinha merecido aos gatos-pingados, todas vinham ervadas da mesma ideia e do mesmo intento. E assim crescera naquela incultura de espírito sem guia, sentindo dentro avigorar-se-lhe apenas uma tendência — a da cadela fértil, que vai entregar-se. Através da sensação rudemente nascida olhara o mundo, esfaimada e torpe como se fora um verme descomunal das sepulturas, incapaz, pelos desolados cenários que tinha contemplado nos seus dias de criança, de dar acesso na sua alma às multíplices emoções e susceptibilidades histéricas que fazem da mulher o precioso receptor das coisas mais subtis que a língua não exprime e os olhos mal sabem formular. (…) Foi o tio Farrusco quem cobriu de terra, sem comoção nem saudade, o corpo, espedaçado pelo seu escalpelo, da rapariga corroída de podridões sinistras, abandonada do berço ao túmulo, e pasto unicamente de desejos infames e de desvairamentos vis.
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Infelizmente, a novela não começa logo na acção, mas dá-nos antes um detour para que nos preparemos ao que ai vem. As personagens centrais: Carolina e João são-nos bem descritas e contêm uma profundidade realista. As descrições são um pouco exaustivas e algumas redundantes, no entanto, é também nas descrições que está o melhor do livro: as imagens de miséria e tristeza estão de tal modo bem escritas que vão ficar na memória durante muito tempo. A trama desenvolve-se, embora sem grande surpresas visto que conhecemos o final de antemão. A leitura não é fácil devido aos blocos de descrição. Mas, se tivermos em conta o estilo da época, esta novela estava sem dúvida bem escrita para os parâmetros do realismo.
Recomendo a quem quiser um sentir como era a vida dos pobres de Lisboa no final do século XIX, contada por um contemporâneo.
Classificação: 3 estrelas
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Published on September 30, 2016 04:00

September 28, 2016

Ebooks: Diabos Levem a Musa!

Dragões levem a Musa!


Autora: Inês Montenegro
Sinopse: Em véspera de data limite para entregar a sua mais recente obra, a Musa foge ao Escrivão para um jantar romântico com um Dragão.

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Esta história está escrita num tom humorístico bem conseguido. Engraçamos com facilidade com a personagem principal e somos levados numa viagem por uma sopa de referências. Houve um bom jogo de estereótipos. Em suma, um conto com um bom potencial para entreter.Recomendo a quem desejar um conto para matar o tempo.

Classificação: 3 estrelas
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Published on September 28, 2016 04:00

September 26, 2016

Ebooks: O Sabre e o Corvo

Cinco contos contam uma história, cada um com o seu estilo próprio.


Autores: Carlos Silva, Sara Farinha, Vitor Frazão, Inês Montenegro e Pedro Pereira
Sinopse: Um antiquário onde reina o peculiar e o mágico. Um corvo de determinação sobrenatural. Um sabre cuja honra foi manchada pelo sangue de inocentes. Cinco escritores, cinco contos, interligados pelo desejo de justiça e pela vingança, onde o que parece pode não ser, e até uma alma se pode vender.
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Como é normal em antologias, irei comentar cada um dos contos em separado e a classificação final  será derivada da média dos contos.
A Loja - Carlos Silva
Esta história é mais uma vinheta. Não há grande desenvolvimento e acaba por ser apenas o relatar de uma situação.
3 estrelas

Uma Herança Familiar - Sara Farinha
Acho que esta vinheta não foi bem conseguida. Relata muita coisa, mas não acontece nada.
2 estrelas

Último Desejo - Vitor Frazão
Gostei mais deste conto do que do anterior: há uma história com início, meio e fim; e há desenvolvimento da personagem.
3 estrelas

O Bom Negociante - Inês Montenegro
Outro fragmento. Esperava mais.
2 estrelas

Vingança - Pedro Pereira
Lavar uma espada com água e secá-la com um pano? Isto não é maneira de tratar uma espada: um pouco de pesquisa teria ajudado neste conto. Pelo menos este conto sempre encerra a história.
3 estrelas

Teria sido mais interessante se cada conto funcionasse isoladamente e não apenas como parte da história maior.

Classificação: 3 estrelas

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Published on September 26, 2016 04:00