"La mano e il guanto" (A Mão e a Luva) è il secondo romanzo di Machado de Assis, pubblicato del 1874. Racconta la storia di Guiomar, una giovane donna, bella e determinata, cresciuta sotto la protezione di un’anziana baronessa. La sua intelligenza e il suo carattere deciso la rendono diversa dalle donne del suo non è disposta a lasciarsi trascinare solo dall’istinto, ma neanche a piegarsi alle scelte che le sono imposte dalla società. Quando degli uomini, molto diversi tra loro, iniziano a corteggiarla, la sua vita prende una svolta inaspettata. In un gioco sottile di sguardi, parole e gesti "La mano e il guanto" esplora il conflitto tra ragione e sentimento, aspettative sociali e libertà di scelta femminile, in un'epoca in cui il matrimonio era spesso considerato un destino obbligato. Con la sua prosa elegante e la finezza psicologica dei suoi personaggi, Machado de Assis ci regala un ritratto sofisticato dell’animo umano, in un romanzo che ancora oggi affascina per la sua modernità e profondità.
Joaquim Maria Machado de Assis, often known as Machado de Assis, Machado, or Bruxo do Cosme Velho, (June 21, 1839, Rio de Janeiro—September 29, 1908, Rio de Janeiro) was a Brazilian novelist, poet, playwright and short story writer. He is widely regarded as the most important writer of Brazilian literature. However, he did not gain widespread popularity outside Brazil in his own lifetime. Machado's works had a great influence on Brazilian literary schools of the late 19th century and 20th century. José Saramago, Carlos Fuentes, Susan Sontag and Harold Bloom are among his admirers and Bloom calls him "the supreme black literary artist to date."
Guiomar, a protagonista, não tem os olhos de ressaca de Capitu de «D. Casmurro», mas aqueles castanhos que sabem juntar o útil ao agradável.
Órfã de mãe e pai vive com a sua madrinha, uma baronesa, que a trata como uma filha. Tem três pretendentes. Um pertence à falange dos tíbios, outro à tribo dos incapazes, o parente da madrinha, duas classes de homens que não tinham com ela nenhuma afinidade electiva, e um terceiro, que, como ela não aceita a obscuridade e a mediania. Guiomar tem a sagacidade de lidar com as situações adversas, uma tranquilidade simulada e aprendera desde criança a disfarçar as suas contrariedades; sabia manter-se superior às esperanças de uns e às suspeitas de outros. O amor entre madrinha e afilhada é recíproco e verdadeiro, mas Guiomar sabe o que fazer sem contrariar a baronesa. Obra do período romântico de Machado, não encontrei nela vestígios de um sentimentalismo exacerbado.
O título assenta-lhe como uma luva.
«Guiomar, que estava de pé defronte dele, com as mãos presas nas suas, deixou-se cair lentamente sobre os joelhos do marido, e as duas ambições trocaram o ósculo fraternal. Ajustavam-se ambas, como se aquela luva tivesse sido feita para aquela mão.»
Este livro, uma edição linda, foi-me oferecido por uma amiga do Goodreads. Obrigada, Paula!
Em ressaca literária desde 24 de Dezembro, voltei às leituras com Machado de Assis. Machado, caríssimo Machado!
Ler Machado de Assis é um consolo para quem gosta de boa escrita.
Esta obra não é excepção, mesmo sendo o enredo (que me fez lembrar Jane Austen) bastante fraco. Os personagens resumem-se a meia dúzia e nenhum deles me cativou.
Mas o que me fascina é a forma como o autor conta os sucedidos e os sentires, o vocabulário e os recursos expressivos que usa, sem esquecer alguns toques de humor (aspectos que surgem, bastante mais refinados, em obras posteriores, mais elaboradas do ponto de vista narrativo).
Um Machado de Assis por ano, para manter o cérebro sano!
Luiz alves , Estêvão e Jorge ,estão todos apaixonados por Guiomar uma moça elegante , inteligente e apaixonante. Luiz Alves é tranquilo , comedido. Estêvão é sensível ,é todo coração.Jorge é frio mas tem o apoio da Condessa com quem Guiomar mora. Contando assim parece uma historinha de amor qualquer, mas não. Senhoras e senhores essa história foi escrita pelo Gênio machado de Assis com todo seu charme e requinte o que torna a história muito agradável. ! Amei deveras.
A história é simples e previsível, mas a linguagem de Machado, já era, neste seu segundo livro, uma maravilha. A prova de como com ingredientes sofríveis se pode fazer um prato requintado.
“Ambition is not a defect,” claims Luís Alves. In a Machado de Assis novel, this is a positive trait.
Guiomar has a problem. Young Estêvão has a lot of passion, but not much else. He is desperately in love with her. Jorge, the nephew of the Baroness, Guiomar’s godmother, wants to marry her for the money. A social climber who wears it on his sleeve. The English maid, Mrs. Oswald doesn’t help. The baroness only wants what’s best for her.
Enter in Dr. Alves, who happens to be a lawyer and asked for some advice. The good doctor is patient, kind and most of all, has neither of the faults of the young men. He treats her with respect. How odd?
What a crisis? Three men to choose from!
Machado de Assis, a beloved Brazilian writer, always deals with ethics, morals and of course, a good love story, in his own manner. His women characters need to deal within their cultural boundaries of the time, but they have a good fight within.
Maybe that ambition is not just directed at the man.
A special thanks to a Celeste for her recent review that just drew the curiosity out of me. And Susana for steering me to this fine writer. I do love the books of Machado.
Produced by Laura N.R. and Marc D'Hooghe at Free Literature (online soon in an extended version, also linking to free sources for education worldwide ... MOOC's, educational materials,...) Images generously made available by the Bodleian Library, Oxford.
—-Morrer? Que ideia! Deixa-te disso, Estevão. Não se morre por tão pouco....
—-Morre-se. Quem não padece estas dores não as póde avaliar. O golpe foi profundo, e o meu coração é pusillanime; por mais aborrecivel que pareça a ideia da morte, peior, muito, peior do que ella, é a de viver. Ah! tu não sabes o que isto é?
Page 10: —-O amor é uma carta, mais ou menos longa, escripta em papel velino, córte-dourado, muito cheiroso e catita; carta de parabens quando se lê, carta de pezames quando se acabou de ler. Tu que chegaste ao fim, põe a epistola no fundo da gaveta, e não te lembres de ir ver se ella tem um « post-scriptum »...
Machado de Assis não apenas parecia deter os dons de um bom enxadrista, como também de um dramaturgo, uma vez que suas novelas carregam certa dramaticidade que muito seria bem-vinda ao teatro, é assim em Ressureição, e também em A Mão e a Luva.
A novela que se inicia, aparentemente seria igual a muitas outras do período, lembrando bastante o conto Primeiro Amor de Turguêniev, entretanto, diferentemente do esperado, os protagonistas não são como Helena ou Lucíola, meras (e exuberantes) protagonistas. Aqui há um pouco de Estella Havisham, de Dickens, já que Guiomar nem de longe é a dócil jovem tão comumente retratada no período, havendo de ser a protagonista de seu próprio destino, brincando com os pretendentes e jogando com os sentimentos daqueles que lhe quer bem.
É, assim, uma novela atípica, onde sendo cortejada por diversos rapazes, a protagonista consegue fugir de situações, tramar outras e agindo com sinceridade para com todos. Há também uma espécie de plot twist da obra, um final que eu não esperava, imaginando um final completamente ao oposto do inicial, de modo que veio a ser uma ótima leitura. Não se sabe o que pode ocorrer com os personagens até a última palavra, que, por sinal, é quando o título do ensaio se faz compreensível. Um prazer a leitura, fica a recomendação.
Narrado de maneira rápida e sem embromações no estilo, Machado de Assis conseguiu, graças ao humor e à casualidade que permeiam a obra, transformar a mais batida e manjada história de amor em um texto instigante e de prazeirosa leitura. Se por um lado o enredo é extremamente previsível - tão previsível que você se assusta quando constata que realmente não haverá nenhuma surpresa no percurso - a estilística machadiana brilha, por outro lado, impressionando a capacidade que o autor de dois séculos atrás teve em modernizar a prosa, contemporanizando-a ao pensamento pós-Romântico ainda incipiente.
Reli depois de quase 16 anos, e se na adolescência eu gostei, agora adulta eu amei e só fico triste que não tem o triplo do tamanho.
Eu já fui chamada de "muito racional" e até de "fria" porque não caio de cabeça nos relacionamentos. Num dia bom eu sei que eu sou a pessoa normal e sensata e os outros é que são desvairados, mas num dia ruim isso me abala.
A mão e a luva é um primor porque mostra uma protagonista que é sensível e amorosa, mas tem a cabeça no lugar e acima de tudo ambição. Ela não vai perseguir um amoreco que não tem condições de dar pra ela o padrão de vida que ela deseja, mas ela também tem a necessidade de ser vista e compreendida.
Machado De Assis não mente à ninguém. Conhecedor da(s) natureza(s) humana(s), deixa claro o que é a vontade e a potência dessa mesma vontade. Nem sempre é vencedor o sentimento. Há horas em que a razão prevalece. E quem sai ganhando, quase sempre, é a vaidade. Embora os personagens não arrebatem o leitor e sejam poucos carismáticos, a prosa é sempre genial. E porque é genial, a gente não pára de ler. E não pára de ler porque quer um final feliz. E um final feliz nem sempre é o encaixe perfeito da mão com a luva.
Publicado primeiramente em folhetim, A Mão e a Luva (1874), segundo romance de Machado de Assis, traz elementos novos à literatura do autor, aos poucos se distanciando da obra precedente, Ressurreição (1872), e passando a delinear o estilo que virá a se consolidar na fase realista – momento de produção de seus mais repercutidos romances.
A obra conta com uma trama minimalista, cujo enfoque está principalmente na análise psicológica dos personagens. O cenário é uma efervescente Rio de Janeiro, então capital do império, à época do Segundo Reinado; neste momento, a importância da Corte como um espaço cultural e social é notável, e este aspecto é trazido por Machado para as páginas do romance, assim como outras noções sociais e espaciais que contribuem para a concepção e desenvolvimento dos personagens – especialmente na figura de Guiomar.
A protagonista é construída a partir do que, nas palavras de Bosi, foi definido como o “tipo comum da mocinha bonita e viva, que o “equívoco da fortuna” fizera nascer em berço modesto”, e sua maior ambição é enriquecer e ascender socialmente. Sua idealização se baseia claramente no conceito de arrivismo social, tema recorrente nas produções do século XIX, e especialmente nas francesas, das quais, sabe-se, Machado de Assis bebeu na fonte.
A organização em romance, embora publicada de forma muito semelhante à primeira publicação, em folhetim, não deixa nada a desejar: o resultado é uma história completa, coerente do início ao fim, na qual os recursos narrativos conversam.
Certamente uma das obras mais fracas de Machado de Assis, sua juventude é inegável na composição. Vê-se já estratégias que ele usaria com maestria em obras primas como Dom Casmurro e Brás Cubas, mas ainda muito cruas e com uma aparente tentativa de imitação dos clássicos românticos folhetinescos da época. O próprio autor pontua em seus dois prefácios que a limitação do folhetim lhe impediu um desenvolvimento melhor da obra, que realmente lha falta. Os problemas principais estão, principalmente, na monotonia do enredo e no parco desenvolvimento de personagens secundários, como Estêvão (descartado da narrativa de maneira surpreendente), Luís Alves e Jorge; isso acontece a contrapelo da excelente personagem Guiomar, a protagonista, e sua companheira inglesa Mrs. Oswald, que valem a leitura da obra por si.
An early work from old friend Machado de Assis, one of my favorite authors on the strength of two books: Epitath for a Small Winner (intro by Susan Sontag, natch!), & the mind-boggling masterpiece Dom Casmurro. This one is relatively lightweight, a romantic triangle set in mid-nineteenth century Rio, but it is elevated by the supreme intelligence & knowledge of human characteristics & behavior brought to it by the author, whose analogies, descriptions & observations are always economical, enlightening & funny. It is also amusing that he, as the nameless narrator, more than once addresses "the female reader," believing women to be the main audience for this sort of story! Highly entertaining, if not completely representative of the high level of brilliance de Assis is capable of reaching.
Uma faceta diferente da que estamos acostumados quando pensamos em Machado de Assis. Elementos do seu realismo já se ensaiam, mas ainda está longe do que posteriormente viríamos a conhecer em sua "fase realista". Esse livro ainda se encontra na "Fase romântica" do autor, a trama é bastante enxuta, os personagens se encontram em número reduzido e o desenvolvimento da psicologia destes também é bastante limitada, com exceção da Guiomar, personagem principal. O fato de ter sido escrito em forma de "folhetim" e lançado em capítulos semanais certamente influenciaram nesse aspecto, como já admite o autor antes do inicio do livro. A linguagem já se apresenta desde aqui muito elegante.
Mesmo com um bom final, irônico no estilo Jane Austen, ainda assim não foi o suficiente para que eu gostasse dessa novela, acho que esperava o Machado de Dom Casmurro, então fiquei aguardando algo que não apareceu.
This had a very interesting and original, multi-layered main character for a romance.
The prose of this original romance doesn't has the precision and tightness of later Assis works, but this early work still carries the special flair a story by him has.
It is a book to read without hurry and a certain patience is needed with the classic way of writing, late 1800's language and slow pacing.
Even tough, this is Machado de Assis we are talking about, and everything by him deserves to be read, being reflected upon and discussed.
This entire review has been hidden because of spoilers.
Em qualquer livro de Machado de Assis há uma certeza: a elegância da escrita que, por si só, é um deleite.
Em "A mão e a luva", o gênio literário, em seu segundo romance e o primeiro editado em formato de folhetim, traz uma trama simples, se comparada ao habitual do romantismo da época. Apesar da simplicidade na trama, a personagem central preenche o romance e nos prende em suas angústias contidas e comportamento medido, exigido nos padrões sociais da época.
Se a distância do tempo nos permite essa visita a tais padrões, o leitor contemporâneo da obra pôde ter percebido as sutis reflexões que Machado de Assis convidava a fazer nas exigências de aparências e circunstâncias em que se vivia a aristocracia carioca de 1870.
A heroína é protagonista de sua história. Esse é um romance real.
A desconstrução do Romantismo em “A mão e a Luva” , por Taynara Teixeira Luiz
Em “Notícia da atual literatura brasileira – Instinto de nacionalidade” (1873), Machado de Assis reitera que o problema da literatura brasileira é a falta de análise e traça o que deveria ser (ou será) da literatura brasileira. Em “A mão e a Luva'' (1874), ele concretiza esse intento ao compor uma narrativa na qual a ambição é valorada, enquanto o romantismo (na figura de Estevão) toma um papel secundário. Exibindo, dessa forma, seu caráter original e - pode-se dizer - vanguardista. “Machado defende o interesse bem compreendido da sociedade brasileira: é preciso promover uma gente moderna, com iniciativa, dura se necessário, para constituir família segundo princípios positivos, da conveniência dos ricos e dos pobres mais dotados.”1 Feito este breve prelúdio, este trabalho tem como objetivo analisar a desconstrução do romance romântico em Machado de Assis, a partir da obra A Mão e a Luva. Trata-se de uma análise de composição de narrativa, caracteres, cenário e demais elementos que evidenciam o rompimento com os padrões românticos estabelecidos.
Em sua primeira advertência, no lançamento da obra (1874), Machado de Assis adverte o leitor sobre possíveis incongruências no desenvolvimento, arranjo de caracteres e método de composição do livro, pois foi publicado em folhetins. O seu desprendimento foi tão notável que concluiu da seguinte maneira: “O que aí vai são umas poucas páginas que o leitor esgotará de um trago, se elas lhe aguçarem a curiosidade, ou se lhe sobrar alguma hora que absolutamente não possa empregar em outra coisa, — mais bela ou mais útil.”2 . Na data de publicação, M. de Assis era conhecido na Corte como Machadinho, todavia, o apelido diminutivo não alcançava em nada a magnitude de seu trabalho, ele já era um grande escritor e crítico literário. À época, Machado frequentava os círculos literários do Rio de Janeiro e tinha como um de seus admiradores José de Alencar, escritor que, com ressalvas, influenciou em grande parte sua obra.
Dois anos antes, publicou Ressurreição (1872) e já apresentava sinais de disruptura com o romance tradicional. Fruto de uma herança Flaubertiana, desmistificou a ideia maniqueísta de certo x errado, bem ou mal. Somado a isso, na obra, esvaziando paradigmas românticos, ele não dignificou o herói, pelo contrário, o desmoralizou: compôs um retrato do herói de maneira dúbia e rebaixada. “Em Machado [...] a exposição das qualidades em confluência com a revelação dos defeitos aproxima o personagem daquilo que se poderia adjetivar como herói problemático ou ainda moderno” (HILÁRIO, 2012). Essa construção distinta do herói romântico é continuada em A Mão e a Luva, pois, de forma explícita e irônica, o narrador zomba de Estevão, um personagem que é romântico por natureza. O livro pode ser considerado um romance anti-romanesco, uma vez que os elementos oriundos de tal forma literária são distorcidos ironicamente. “O amor romântico, indiferente às vantagens materiais, aparece na figura de Estevão, mas para ser posto de lado.”4 Dessa maneira, é possível afirmar que esta primeira fase machadiana é pré-realista.
A escolha da protagonista por um pretendente é o cerne do enredo. Há três candidatos: o romântico por natureza Estevão, o ambicioso Luís Alves e o preguiçoso e interesseiro Jorge. O drama da narrativa se dá na dualidade que a heroína se encontra, pois sua madrinha, a Baronesa, deseja casar a afilhada com seu sobrinho, Jorge, entretanto, o desejo real de Guiomar é casar-se com Luís Alves. Desse modo, surge a dúvida: ela deve acatar passivamente a vontade da baronesa ou seguir sua vontade própria? Conclusivamente, ela se casa com Luís, sem magoar sua segunda mãe, exibindo sagacidade e tino por parte da protagonista. Ademais, a dualidade e, sobretudo, a liberdade de escolha da heroína expõe uma posição revolucionária por parte do autor: “Machado opõe ao paternalismo autoritário e tradicionalista um paternalismo esclarecido, que aproveita os dons naturais e a iniciativa do beneficiado, em lugar de sacrificá-Ios.
Machado delineou de maneira minuciosa seu caracter: ao mesmo tempo que é graciosa, delicada e grata por tudo que sua madrinha fez, é uma mulher misteriosa, que exala frieza e cálculo. O leitor, ávido de encontrar respostas ao longo da narrativa, busca entender o que se passa na mente da heroína, mas sem sucesso. Apenas nos últimos parágrafos é possível delinear seu gosto e sua ambição.
Retomando um dos pontos centrais da narrativa, a desconstrução do romântico, voltemos a falar sobre Estevão, o típico romântico que, ao contrário de Luís Alves, desprendido, calculista e ambicioso, é sensível à poesia e à natureza. Os caracteres em contraste se revelam na própria estrutura da narração, amparada pelo narrador machadiano onisciente que, com seu estatuto irônico, permite a elaboração de uma caricatura dos romances românticos. A escolha de Guiomar é a chave da narrativa, todavia, o que a direciona é, certamente, o narrador. Este, aponta as distorções do romantismo, que aparece como sinônimo de afetação e frivolidade.
Ao longo do livro, há diversas menções, entretanto, duas em especial são essenciais ao sentido que desejo expressar: Byron e Goethe, dois expoentes da estética ultra romântica.
A intensidade de Estevão se assemelha a de Werther. Com a recusa de Guiomar, o seu casamento com Luís Alves, ou em instantes de ressentimento e dor, seu ímpeto era de morrer ou fugir da cidade (escapismo). “Desde a primeira página o sentimento romântico de Estevão é cômico, apresentado que está como byronismo [...] em contraste com a inteligência do real, muito valorizada em Guiomar e Luís Alves”. Em relação à Jorge, personagem interesseiro e preguiçoso, mesmo aparentando certo desprendimento, em sua carta à Guiomar, fica evidente um reflexo romântico: “falo porque morreria talvez se me calasse, do mesmo modo que morrerei de desespero, se além do perdão que lhe peço, me não der uma esperança mais segura do que esta, que me faz viver e consumir. Jorge."
Em Machado, a natureza é real. De início, pode parecer reflexo dos românticos, porém, M. de Assis expõe que a natureza não muda em nada a realidade. Prova disso é que no capítulo III, o narrador descreve “um céu claro e límpido, um ar puro, o sol a coar por entre as folhas uma luz ainda frouxa e tépida, a vegetação em derredor, todo aquele reviver das coisas parecia estar pedindo uma igual aurora nas almas.”10 Entretanto, Guiomar não demonstra nenhum sinal de interesse por Estevão, pelo contrário, “Guiomar falava com certa graça, um pouco hirta e pausada, sem viveza, nem calor.”11 Já a natureza em Lucíola (1862), por exemplo, faz transparecer o caráter e a bondade da heroína. Machado, na verdade, critica os críticos que julgam ser necessário retratar a natureza e os elementos afins, ele deseja falar, acima de tudo, da natureza humana. Desse modo, o que há, sobretudo, em A Mão e a Luva, é a exploração da linguagem corporal em suas múltiplas facetas. O corpo pode ser lido em uma força gestual. M. de Assis enriquece a obra descrevendo de maneira minuciosa, principalmente, as feições e gestos de Guiomar, o que traz o leitor ainda mais para perto da história, pois há passagens em que apenas o leitor tem conhecimento do gesto/emoção da heroína, traçando, dessa maneira, uma narrativa envolvente.
A única vez que aparece no texto o adjetivo “ambiciosa” referindo-se à Guiomar é após a elucubração de Luís: “não há dúvida; é uma ambiciosa”. Talvez, seja desse ponto em diante que o interesse de Luiz por Guiomar começa a tomar forma, não de maneira incipiente, visto que já tiveram um instante no passado, mas agora de maneira robusta. Tornou-se claro a preferência de Guiomar por Luís nos últimos capítulos, todavia, sua recusa a Estevão e Jorge já era conhecida: “Dos dois homens que lhe queriam, nenhum lhe falava à alma; ela sentia que Estevão pertencia à falange dos tíbios, Jorge à tribo dos incapazes, duas classes de homens que não tinham com ela nenhuma afinidade eletiva.”
Pode-se dizer que a união entre Guiomar e Luís se deu a partir da conformidade e o idêntico desejo de ambos de ambição. Apenas ao final da obra é que se tem a explicação do título do livro. Sim, foram feitos um para o outro, pois tinham em comum a ambição: “— Mas que me dá você em paga? um lugar na Câmara? uma pasta de ministro? — O lustre do meu nome, respondeu ele.”
Eu esperava muitas coisas de “A Mão e a Luva”, mas jamais imaginei que seria minha obra favorita do Machado de Assis até então.
Guiomar é uma jovem que precisa escolher um entre seus pretendentes para se casar. A jovem fica em dúvida sobre qual escolher, já que parece que quem a agrada não agrada a madrinha e quem agrada a madrinha não a agrada de jeito nenhum.
A protagonista desse livro é, na minha opinião, uma das melhores que eu já li. Guiomar é forte e a cada corte que ela dava em algum dos homens durante a história eu ganhava mais uns dois anos de vida. A personalidade dela é TUDO e eu poderia passar horas e horas só vendo ela dar o fora em quem ela não quer saber de casar.
Também posso dizer que esse é um dos fundadores do queerbait, já que nada me tira da cabeça que Estevão e Luís Alves tinham uma relação romântica (igual Bentinho e Escobar) antes de tudo ir pro ar e se encerrar como um bom romance romântico: com desgraça pra uns e felicidade para outros.
“A Mão e a Luva” possui o humor ácido e as críticas à sociedade da época em um ponto que só o Machado consegue e, nesse caso, ainda possui uma trama romântica que me deixou genuinamente vidrado e chocado com alguns plots, embora já desconfiasse desde o início.
Temos ainda um Machado de Assis germinal aqui. Não obstante, é uma obra interessante do ponto de vista histórico. Fico pensando se o perfil psicológico traçado de Guiomar, uma jovem de 19 anos, era comum naquela época. Hoje, encontrar criaturas ambiciosas não é difícil; raro é, porém, localizar nelas o controle sentimental - o domínio próprio do desejo e da expressividade. O espírito da nossa época tem sido pródigo em gerar indivíduos entregues completamente as paixões mais vis e, do ponto de vista biológico, animalescas.
acho que foi o machado que menos gostei de ler (embora tenha uma memória muito vaga das demais leituras de adolescência). há uma discussão interessante sobre os sentimentos que motivam a aderência a certas instituições — a ambição de Guiomar e Luís Alves não parece ser contraditória com seu amor. fora isso, as descrições são vagarosas, o que talvez faça diminuir o efeito novelesco. é uma novela de ritmo entendiante, com as ações muito concentradas nos capítulos finais.
Guiomar é fascinante! Personalidade forte, esperta, uma heroína nada sentimental. Alguém segura de si que sabe onde quer chegar: unir o útil ao agradável. Adoro como o “destino” funciona nas obras de Machado.
4.5 estrelas. Luís Alves é um belo de um talarico. Adorei a construção de Guiomar, uma personagem intrigante e resoluta. Coitado de Estêvão, só fez sofrer. Incrível como mesmo sendo um tema característico do Romantismo, Machado dá seu estilo único à história.