A obra ícone do modernismo brasileiro foi publicada inicial e parcialmente nas páginas do jornal Correio da Manhã, em março de 1924, sob o título de Manifesto da Poesia Pau-Brasil. Um resumo do manifesto virou o capítulo "Falação" do livro Pau Brasil, o pioneiro na poesia de exportação, quando foi lançado, em 1925, em Paris (França), pela editora Sans Pareil. No prefácio, o escritor Paulo Prado explica e exalta a importância da obra ao dizer que Pau Brasil é um "ovo de Colombo". Prado afirma que Oswald reabilita o falar nacional, sem o "pedantismo dos grandes gramáticos" passado para a escrita". Oswald de Andrade, numa viagem a Paris, "do alto de um atelier da Place Clichy - umbigo do mundo - descobriu, deslumbrado, a sua própria terra. A volta à pátria confirmou, no encantamento das descobertas manuelinas, a revelação surpreendente de que o Brasil existia. Esse fato, de que alguns já desconfiavam, abriu seus olhos à visão radiosa de um mundo novo, inexplorado e misterioso. Estava criada a poesia pau-brasil". Pau Brasil é um manifesto contra a cópia e que defende a invenção e o resgate da cultura brasileira, principalmente da língua brasileira. Essa atualização estética passa pelo processo de redescoberta da língua, através do documento escrito. A obra fora amplamente elogiada, mas também fora alvo de críticas como a do grupo Verde-Amarelo, liderado por Plínio Salgado, Cândido Mota Filho, Menotti del Picchia e Cassiano Ricardo. Para eles, Oswald defendia um "nacionalismo afrancesado".
José Oswald de Andrade Souza (January 11, 1890 – October 22, 1954) was a Brazilian poet and polemicist. He was born and spent most of his life in São Paulo. Andrade was one of the founders of Brazilian modernism and a member of the Group of Five, along with Mário de Andrade, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral and Menotti del Picchia. He participated in the Week of Modern Art (Semana de Arte Moderna). Andrade is best known for his manifesto of Brazilian nationalism, Manifesto Antropófago (Cannibal Manifesto), published in 1928. Its argument is that Brazil's history of "cannibalizing" other cultures is its greatest strength, while playing on the modernists' primitivist interest in cannibalism as an alleged tribal rite. Cannibalism becomes a way for Brazil to assert itself against European postcolonial cultural domination. The Manifesto's iconic line is "Tupi or not Tupi: that is the question." The line is simultaneously a celebration of the Tupi, who had been at times accused of cannibalism (most notoriously by Hans Staden), and an instance of cannibalism: it eats Shakespeare. Born into a wealthy family, Andrade used his money and connections to support numerous modernist artists and projects. He sponsored the publication of several major novels of the period, produced a number of experimental plays, and supported several painters, including Tarsila do Amaral, with whom he had a long affair, and Lasar Segall. His role in the modernist community was made somewhat awkward, however, by his feud with Mário de Andrade, which lasted from 1929 (after Oswald de Andrade published a pseudonymous essay mocking Mário for effeminacy) until Mário de Andrade's untimely death in 1945.
Confesso que fui ler Pau Brasil já sabendo que não ia gostar muito. Que o Oswald é uma figura controversa não é preciso que eu o diga. Nunca fui muito com a cara dele, ainda assim sinto que na poesia dele resta algo a ser desvendado pra mim. A maioria dos poemas não me agradaram, ou pior, não me deram impressão alguma que não a de uma salada de palavras dispostas de um jeito engraçado. Não estou fazendo pouco caso do valor do Oswald pra nossa literatura, qualquer um que lê e sabe um pouco dela, enxerga isso. A questão principal é que Oswald não me comove, não mexe comigo num geral. Dito tudo isso, Pau Brasil tem seus momentos e é aí que vejo com meus próprios olhos tudo aquilo que atribuem de genial e inventivo e transgressor ao Osvaldo. O primeiro poema da coletânea, “escapulário” já é prova disso, mais adiante “vício na fala” com seu recorte-colagem e toda a seção “Poemas da colonização” é muito bem realizada. É o frame cotidiano, o humor moleque, o inusitado da imagem, a síntese. Nesses poemas e em mais alguns outros, vejo tudo isso na sua melhor realização. No fim, acho que é essa a verdade que procuro já a tendo encontrado e que reencontrarei pelo caminho conforme leio mais dele: a magia está nos momentos, de um poeta-relance, de um encanto que está no tropeço como nos melhores momentos de Miramar e do Primeiro caderno. Coisas simples como os versos “A noite cai/como um swing”. Esse é ele, nem mais nem menos, esse é o Oswáld. Talvez não mereça as 3 estrelas, mas depois de escrever tudo isso, sorrindo carinho, por que não?
Olha, aqui o Oswald mandou super bem hein! O meu pé atrás por causa do "perfeito cozinheiro" agora está normalizado depois desse aqui!
Em geral o tema de todos os poemas tem um cheiro MUITO forte de Baudelaire : discutindo a modernização enquanto ainda preserva-se aspectos tradicionais da comunidade. Mas o Oswald tem a malandragem poética que um francês jamais conseguiria ter.
Esse livro é uma leitura fundamental pra estudar formação cultural brasileira!!
Mais um “Porque hoje é Sábado” com um modernista brasileiro. Escolhi, para este Sábado, Oswald de Andrade, o grande agitador cultural do modernismo e, para muitos, o seu mais radical representante. Era uma figura única. Sua vida foi intensa e extremamente interessante. Conheceu algumas das principais figuras das vanguardas europeias do início do século XX. Foi amigo de um presidente da República, casou-se inúmeras vezes, sempre com mulheres incrivelmente interessantes. Tinha uma visão muito clara sobre o seu projeto artístico o que (somado à uma personalidade, no mínimo, difícil) fez com que rompesse com praticamente todos aqueles com quem veio a colaborar em algum momento.
Sua poesia tem muito dessa atitude visceral. Quem lê “Pau Brasil” pode até achar, num primeiro momento, que seus poemas são simplórios. Mas há nessa simplicidade uma bem pensada e executada desconstrução da linguagem, na busca daquilo que de mais básico existe na comunicação. Por isso, passados quase cem anos da publicação, o livro não se transformou em apenas um documento histórico sobre o Movimento Modernista (o que, acho, foi o destino de Macunaíma, por exemplo). Para quem tiver dúvidas, basta lembrar que Caetano Veloso gravou Escapulário num disco de 1975 (e repetiu na turnê de 2012/13).
Escapulário
No pão de açúcar
De cada dia
Dai-nos senhor
A poesia
De cada dia
Já comentara isso no meu post sobre “Alguma Poesia” de Drummond, mas vale repetir. Esse esforço de desconstrução do discurso formal não era mero exercício estilístico. Era uma maneira de dar voz às transformações econômicas e sociais por que passava o país. Haroldo de Campos (em estudo datado de 1965 constante da edição de Pau Brasil que tenho) lembra que
“O Brasil intelectual das primeiras décadas deste século, em torno à Semana de 22, era ainda um Brasil trabalhado ‘pelos mitos do bem dizer’ (...) da retórica tribúnica, contraparte de um regime oligárquico-patriarcal, que persiste República adentro”.
Ainda que ache a análise de Campos um tanto marxista, é inegável que a vanguarda paulista se opõe à República dos Bacharéis sediada no Rio de Janeiro. São Paulo era tão oposto do Rio, quanto Oswald o era de Olavo Bilac. Era libertar-se do que Paulo Prado, no prefácio ao livro, chama de “renovar o modo de expressão e fontes inspiradora do sentimento poético brasileiro, há mais de um século soterrado sob o peso livresco das ideias de importação”. Ser Pau Brasil não era enclausurar-se num orgulhoso regionalismo brucutu, mas sim absorver as vanguardas sem servilismos.
Mais ainda, Oswald entendeu como poucos a radicalidade da mudança que novas tecnologias (em especial o cinema) implicavam. Oswald escrevia poemas que “jogavam” imagens, devendo o leitor completar ou construir o sentido, como n’o capoeira, quase um haikai:
o capoeira
- Qué apanhá sordado?
- O quê?
- Qué apanhá?
Pernas e cabeças na calçada.
Bebia na fonte do Dadá e do Surrealismo, via que esse novo mundo tinha tanto produção quanto reprodução. Todos podiam se tornar artistas, já que aumentava (ou seria banalizava?) o acesso à informação, às tecnologias, à fotografia, ao cinema. Incrível ressonância com este início de século XXI, tempo em que qualquer boboca com uma conexão de internet pode escrever um blog sobre literatura, assim como toda pessoa é um cinegrafista em potencial com seu telefone nas mãos.
Pois bem... Para o Sábado escolhi dois dos poemas mais famosos do volume. Escolhi “3 de maio” e “pronominais” por razões estritamente sentimentais. São poemas que conheci ainda no colégio, em aulas de literatura fundamentais para a minha formação. Tenho por pronominais um carinho especial, pois, mais que desconstrução de linguagem, é um manifesto da libertação do português brasileiro. Em tempos desse acordo ortográfico que quer acabar com a beleza que é a diferença das diversas formas de se falar o português, pronominais soa terrivelmente atual.
Então, Porque hoje é Sábado, o beneditino (do Colégio de São Bento de São Paulo) Oswald de Andrade.
Um grande marco na arte moderna brasileira, o Pau Brasil de Oswáld, Oswáldo (como dizia A. Candido) é certamente o experimento máximo da poética da radicalidade. Constituído de nove partes desiguais, cujo interior é igualmente desigual e irregular, o poeta parece não somente tentar redescobrir a forma poética em si, mas o próprio elemento nacional, por vias de um olhar para o desenvolvimento desde o descobrimento e as ressonâncias que soam em seus poemas, desde a carta de Pero Vaz de Caminha, o romance de Bernardim Ribeiro Menina e Moça, a poesia de Ungaretti e, sem dúvida nenhuma, o épico. E este elemento épico transgressivo, cuja incerteza e irregularidade é marca, pega os cacos da poesia de língua portuguesa para reordená-lo no caos aparente do Pau Brasil. Muito já foi dito acertadamente sobre a poesia de Oswáldo: suas marcas telegráficas, o poema piada, seu tom cinematográfico e fotográfico; contudo, o que mais me chama a atenção é como, na sua versificação irregular encontra-se um ritmo muito bem delineado, como se vê na ginga do capoeiro no poema que leva este nome: "-Qué apanhá sordado?" Contudo, acredito que tenha sido uma poesia que, além de não ter sobrevivido bem o séc. XX, ainda passa um tanto desapercebida e pouco lida, por seu hermetismo atraído pela destruição. O transgressor é bom, mas ainda assim é difícil de apreciar com uma boa profundidade.
La traducción de Rafael Toriz para Alias respeta bastante los modismos de Andrade, y trata de buscarles equivalencias justas que reflejen el espíritu del poeta. Un gran documento de las vanguardias iberoamericanas.