Ísis Rossetti é uma bruxa. Seu trabalho é monitorar crimes envolvendo forças sobrenaturais na cidade de São Paulo. Apenas esses. As regras são claras: se não houver magia envolvida, ela não pode intervir. Mas em meio ao caos sufocante da cidade, a vida dos comuns está constantemente em perigo. Não há como não ajudar. Tudo se complica quando, em meio a duas investigações extraoficiais, Ísis recebe uma missão de uma divindade. Ela precisa então reviver questões pessoais que preferiria manter enterradas no passado, guardadas a sete chaves por seus amigos, enquanto tenta lidar com os vigilantes olhos do Corregedor.
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Numa das maiores cidades do mundo, uma única bruxa tem o dever de monitorar as atividades mágicas e cuidar para que nenhuma entidade ou força sobrenatural transpasse os limites da materialidade. Apesar de todas as restrições quanto ao uso de magia, Ísis vive recorrendo à sua intuição para ajudar uma amiga da Delegacia da Mulher a solucionar alguns casos, o que pode acarretar em séria punição se seu superior descobrir. Num intervalo de algumas horas, uma mulher e uma menina em circunstâncias muito diferentes desaparecem sem deixar rastros. Além disso, ela precisa desvendar o sentido de uma misteriosa imagem mostrada por uma entidade de outro plano. Agora ela precisa correr contra o tempo para salvar uma menina e uma mulher, e descobrir o que raios quer dizer o artefato de madeira em forma de onça.
Carol Chiovatto nasceu em 1989 em Niterói - RJ, mas mora em São Paulo desde os quatro meses de idade. Escritora e tradutora, é doutora em Letras com pesquisa sobre a imagem da bruxa enquanto estereótipo do feminino transgressor em seu doutorado (USP/FAPESP). Integrante do grupo de pesquisa Nós do Insólito (UERJ). Seu romance de estreia, a fantasia urbana PORÉM BRUXA (AVEC, 2019) venceu o Prêmio Odisseia de Literatura Fantástica, e sua novela space opera SENCIENTE NÍVEL 5 foi finalista do Prêmio Jabuti 2021.
Nota: 2,5/5 Saudades de uma fantasia urbana assim. "Porém Bruxa" é ambientado em São Paulo e busca mostrar na história a diversidade e o quadro social local. Apesar de ter vários bons pontos, bastante coisa não funcionou.
Primeiro de tudo: a protagonista, Ísis. Ela é uma mulher adulta, mas frequentemente seus pensamentos e falas soam adolescentes ou infantis demais, e o livro parece ser uma fantasia urbana com adolescentes. E então você lembra que não é não e todo mundo ali é adulto, e tudo soa um pouco esquisito. A bússola moral de Ísis é um tanto genérica e uma reprodução de valores básicos de mulheres revoltadas com sexismo, não parece haver um toque pessoal dela de fato, apenas um catálogo de citações da Quebrando o Tabu.
A força policial se faz bastante presente na história e é o clássico: existem policiais bons, existem policiais maus e acabou. É difícil acreditar que Ísis é realmente antirracista (como ela tenta se mostrar algumas vezes) e anti-injustiça com um retrato raso assim de uma questão tão complexa no Brasil. Principalmente considerando que uma das integrantes da turma dela é delegada.
É perceptível que a autora teve um extenso cuidado para não ofender certos grupos, então teria sido bom se ela tivesse também procurado evitar o termo capacitista (r-) que foi usado mais de uma vez e que poderia ter facilmente sido substituído por insultos mais aceitáveis em uma revisão.
Sobre a história em si: o livro não parece saber o próprio foco. Existe uma história principal sim, mas ela forma um emaranhado de coisas e mesmo contendo acontecimentos bastante tristes quando você para pra pensar sobre, não existe aprofundamento a respeito, não existe emoção o suficiente a respeito para refletir a tragédia dos fatos, e cada passo dado por Ísis para resolver a situação fica jogado na história, que é mais um amontoado de coisas acontecendo do que uma linha narrativa principal com outras linhas menores se desenrolando ao redor. Não existe nenhum mistério ou plot-twist porque a busca de Ísis só revela coisas possíveis de adivinhar no começo.
Todos o elenco de personagens é muito fraco e todos com exceção de Victor parecem cumprir exatamente o mesmo papel de entrar em cena quando são necessários para a protagonista e sumir quando não são mais. Victor foi meu favorito, mas isso aconteceu por uma preferência pessoal minha e não por qualquer qualidade positiva dele, que precisava de um pouco mais de carisma para compensar o fato de que ele não é um galã-herói com o papel de salvar a mocinha Ísis. (Isso é bom! Mas como disse: ele precisava de mais carisma pra compensar). Gosto que há em certos elementos uma inversão de papéis herói x mocinha aqui, onde Victor apesar de ocupar um cargo superior, não conduz a história. Além de tudo isso, é bastante difícil imaginar os personagens porque não há boas descrições físicas. A autora precisa trabalhar mais neste aspecto.
Concluindo... aguardo uma sequência porque quero mais do sistema político bruxo e do desenrolar de Ísis/Victor, mas as chances de eu me decepcionar parecem grandes. O livro não é muito grande ou pesado, mas me encontrei sem muita motivação para continuar. Pode ser uma boa pegada para quem gosta de fantasia urbana simples.
Ísis Rossetti é uma bruxa. Encarregada de monitorar forças sobrenaturais em São Paulo, ela às vezes aproveita para dar uma mãozinha em investigações da Delegacia da Mulher (apesar de ser proibida pelos seus superiores). Em "Porém bruxa", ela recebe três casos para investigar: o desaparecimento de uma criança rica, o desaparecimento da esposa do motorista dessa criança rica, e uma depredação num terreiro feita por religiosos. De algum modo, todos esses casos estão ligados, ela só precisa descobrir como... e precisa fazer isso logo.
Eu estaria mentindo se dissesse que esse livro foi uma total surpresa para mim, minhas expectativas já eram bem altas. Ainda assim, me impressionei a cada capítulo. A começar pela escrita da autora: fluída, perspicaz, irônica e bem-humorada na medida certa. A narrativa conduz o leitor de forma magistral, sem perder o ritmo em nenhum momento — tanto que terminei de ler em um dia. Os personagens, todos eles, são complexos, inteligentes, diversos, representativos e formam o melhor grupo de amigos que qualquer pessoa poderia desejar.
Esse livro toca em temas importantes e urgentes sem precisar dar uma aula sobre eles. A própria história se encarrega de fazer as ligações. Machismo, racismo, LGBTQfobia, intolerância religiosa, extremismo religioso... tudo se apresenta na narrativa com muita naturalidade. Outro destaque vai para o cuidado da autora em representar cada personagem e religião, sempre com muito respeito.
Ísis Rossetti é uma bruxa, sim, mas isso não significa que ela tenha poderes sobrehumanos que a tornem incansável. Um dos pontos altos do livro é mostrar a humanidade da personagem: ela tem os próprios traumas, enxaquecas, crises de rinite, sente fome, cansaço, precisa de banhos e nem sempre vê sua grandeza. Apesar de todos os feitiços, ela ainda sofre com o engarrafamento no trânsito, o machismo e a burocracia estatal.
"Porém bruxa" tem um mistério central que precisa ser desvendado, mas essa não é a coisa mais interessante sobre o livro, apesar de ser o que mantém o ritmo. O que se destaca aqui é o sistema de magia sobrenatural ligado ao sistema judiciário brasileiro, a união desses elementos é eletrizante porque um não deveria interferir diretamente no outro. A cada acontecimento, eu ficava ainda mais intrigado para observar quais seriam os desdobramentos, as consequências.
Carol Chiovatto escreveu um dos melhores livros de 2019, com certeza meu novo livro favorito. Pelo ritmo, pela criatividade, pela originalidade, pela escrita, pelos personagens, pelo tema, pela magia, pelo respeito, pela inteligência, pela representatividade... são muitas as razões que justificam o título. "Porém bruxa" não vai sair da minha cabeça nem tão cedo.
IM FREEEEEE!!!!!!!! WORST EXPERIENCE OF MY FUCKING LIFE 🗣🗣🗣🗣
2,5 ⭐️
Gente, não gostei nadinha desse livro, mas tô dando 3 estrelas pois eu sinto que a autora pesquisou muito sobre religiões e crenças pra poder escrever kkkkkk e sei lá, ela parece ter se esforçado bastante e eu até achei que a leitura fluiu. Só achei a história muito desorganizada, a personagem Ísis tem umas falas e pensamentos forçados e parece a adm do quebrando o tabu e a frase "somos as netas das bruxas que vocês não conseguiram queimar" sendo citada 3 vezes KKKKK não preciso dizer mais nada né bjs
Passei meses namorando esse livro até que ENFIM, BRUXA!! HAHAHAHAHAHAH
Aff valeu a pena cada segundo de espera, esse livro é absolutamente TUDO na minha carreira de leitora!! Além de ser uma história maravilhosa que prende e tem ótimos plots, ainda aborta a diversidade religiosa de um jeito LINDOOOO.
ME SENTI EXALTADA (e de certa forma, vingada kkkkkkkk)
Terminei o livro há uns 20 minutos e não sei nem por onde começar. Bom, posso dizer três coisas:
1 - Li no Kindle Unlimited, mas vou adquirir o físico porque NECESSITO tê-lo em minha estante; 2 - Com toda certeza foi um dos melhores livros que li em 2020; 3 - Estou morta de vontade de comer pizza.
Minha resenha não é para falar sobre o livro em si, mas como me senti lendo.
A Carol deve ter tido um trabalho danado de pesquisa. Duas coisas que me admirei no trabalho dela: o cuidado e o respeito. Jamais imaginei uma história em que tantas culturas e religiões se misturariam e coexistiriam em harmonia e respeitabilidade (porque convenhamos, qual é a chance de isso acontecer no mundo real e ainda nos dias de hoje? O preconceito, o medo e a ignorância não permitem). É a primeira vez que leio qualquer coisa desse tipo. E foi TÃO lindo de ler. Utópico até, eu arriscaria dizer.
Mais para o finalzinho, eu estava de fone ouvindo uma playlist que se chama “Reading Adventure”. Coincidentemente foi quando as coisas começaram a escalar indo em direção ao confronto final - a playlist foi um complemento perfeito! E daí, minha querida autora: eu chorei. E Carol, tenho que te agradecer por isso. Mas Dalila, você chorou? Porque? Chorei de emoção. Não sou uma pessoa religiosa, mas respeito quem o é. Meu irmão, por exemplo, é da umbanda, então vira e mexe, ele comenta algo à respeito comigo. Quando menos espero, a Carol me apresenta algo que me tirou o chão: a aparição de Exu. Senti o famoso “quentinho no coração”. Sabe aquela sensação de o coração não caber dentro do peito? Essa mesma. Não sei dizer o porque, mas achei de uma sensibilidade e ternura tão grande que ainda agora, escrevendo essa resenha, continuo sentindo.
Fora isso, especificamente, não tenho NADA de ruim a dizer sobre o livro. Ele é bem amarrado, não é enrolado e não tem nenhuma cena que penso que não deveria estar na história. E aprendi algumas coisas sobre relacionamentos abusivos também. E feminismo. E a representatividade nele!?!?! (eu, suspirando aqui) GENTE! PORQUE VOCÊS AINDA NÃO LERAM PORÉM BRUXA???
Só tem um defeito: que acaba e não é uma série. Pois fica aí a minha dica, querida Carol: você pode, por favor, considerar explorar mais o universo de Ísis, o Corregedor e seus amigos? Eu te imploro!
eu achava que eu ia gostar desse livro, mas não imaginava que eu ia gostar TANTO como eu gostei. primeiramente queria falar que eu amei demais a isis, eu acho que foi fundamental ter uma protagonista tão boa de ler sobre como ela sabe? era impossível não se divertir, não querer saber mais sobre a vida dela, não querer ser amiga dela. assim como seu grupo de amigos que também foi muito importante para a história!!! e deixou ela muito mais rica e gostosa de se ler.
eu vivi num eterno impasse nesses dias de leitura não sabendo se lia tudo logo, pois queria saber como tudo se resolveria ou se eu deveria prolongar o máximo para curtir muito a experiência, acabou que eu li tudo logo de uma vez, e me arrependo um pouco, porém foi uma experiência pra lá de boa.
é uma história que trata de assuntos tão importantes como intolerância religiosa, abuso psicológico, preconceito, machismo de uma forma muito bem feita... a autora soube criar um mundo muito incrível dentro da cidade de são paulo e eu gostei tanto disso, espero que eu possa ler mais histórias da isis por aí, pois eu gostaria TANTO.
[aviso de gatilhos: descrições de abuso psicológico e violência]
Por Sensciente nível 5, eu já sabia que não ia gostar de "Porém Bruxa" (e também vi outras resenhas e etc que consolidaram a posição: "duvido que vou gostar"). E li simplesmente porque eu queria entender O QUE me faz desgostar. Enfim, em breve, nos Rascunhos Abertos, um texto mais elaborado sobre isso, já que nesta leitura fui mais atento, fiz várias marcações e anotações.
Aqui vai as impressões preliminares:
Esta história tem potencial para ser legal, mas no final, não é. Achei o prólogo funcional e fiquei com esperanças de ela ser, pelo menos, bem escrita. Porém, também não é bem escrita. Tem umas coisas estranhas que soam muito "estou cansado de escrever, preguiçaaa" (nada de errado na primeira versão, mas a edição serve para mexer nessas coisas com mais calma). Exemplos:
A narração é em primeira pessoa, usando conjugação no passado. Não é documental e também não é uma conversa com o leitor, como se fosse alguém contando um "causo". É aquela coisa que a gente já está bem acostumado a ver na literatura comercial contemporânea: não precisa ter uma lógica específica para a voz do narrador, é só a forma como somos expostos à história. Vemos a história através de um personagem que a narra, tendo suas subjetividade e etc. E é isso.
A Carol Chiovatto, em momentos elatórios, muda o estilo da narração sem querer. Do nada quebra a quarta parede, como se a narração fosse daquele estilo "tô te contando um causo" (geralmente faz isso para dar algum infodump ou tentar fazer alguma piada. Falando nisso, quase nenhuma piada funcionou para mim. Pareciam mal colocadas). E existe um determinado ponto em que a Ísis diz algo como "Não vou colocar o endereço para não por em risco um eventual leitor superaventureiro do presente relato". Mas a história também não foi escrita como relato! Além do mais, a Ísis já revelou ao longo da narrativa várias informações íntimas e outras confidenciais para não-bruxos. Se fosse um relato para muitas pessoas lerem, teria suprimido todas essas outras informações, não só o endereço da batalha final do livro.
Outra coisa que incomoda na escrita é o uso exagerado da narração indireta das cenas. É tipo aquele negócio do "Mostre, não conte" (que não é uma regra absoluta, deve ser questionada e blábláblá). A Carol abusou do "contar" neste livro, o que dá uma impressão de que a maioria das cenas são irrelevantes. Está rolando uma investigação e quase todos os passos investigativos da Ísis são só "contados", não "mostrados", daí parece que não é para focar nisso.
Aproveitando este gancho, devo dizer que a mairoia das cenas "mostradas" envolvem algum tipo de assédio/violência contra minoria. E aqui é um tópico bem polêmico, porque essas situações são DE FATO cotidianas, e dá para entender o apelo de querer retratar esta pedra no nosso sapato. Estamos vivendo nossas vidas, e aí DO NADA, alguém é violento (racismo, lgbtqfobia, misoginia...). Só que me incomoda... Parece muito aquela coisa do torture porn quando é recorrente demais. Além disso, isso fica quase como elemento de cenário. Tá ali, deixa a protagonista PUTA, mas ela mesma não faz nada sobre (porque individualmente não há o que fazer... tem até um trecho em que ela demonstra esta frustração e foi tenso, porque é poucos passinhos para o pensamento fascista. Poxa, você não pensou que é possível UNIR as pessoas para lidar com os problemas sistêmicos? Falta certo estudo de história aí, hein... Dá para começar com os eventos de 1848, tá?). Enfim... É tenso, e a escolha de dar destaque de "mostrar" praticamente só para estas cenas faz parecer que é isso o que importa no livro. "Porém Bruxa" é para chocar com a realidade difícil. Livro pesado.
Outras coisas que me incomodam: a protagonista é UM PORRE. Nossa, a Ísis é muito chata, cara. Tudo é sobre ela. Uma protagonista com "síndrome de protagonismo" (haha que irônico). É, basicamente tô dizendo, ela é mulher branca demais, com todo o estereótipo racial da branquitude (aquele lugar de se impor como o principal, o universal). Eu ODEIO as cenas aleatórias colocadas lá para a Ísis lacrar. Tipo quando a Helena (uma mulher negra) resolve usar pejorativamente a palavra "macumba" e a Ísis vai lá dar um sabão nela. Este detalhe foi inútil para a construção da cena e para a construção da personagem Helena, só serviu para mostrar que a Ísis é "fada sensata", mas... Porra, a branca lutando contra o racismo da negra? Não colou, sabe? Nesse nível superficial, a Ísis até parece ter mais consciência e etc, mas ela ainda tem todos os comportamentos da socialização branca. Acho difícil por em palavras, mas acho que pessoas racializadas devem entender o que tô falando. Gente branca se porta como se estivesse acima da gente, mesmo sem perceber. É a vida, acontece, a autora branca (e o editor branco) iam reproduzir isso mesmo, só que... Porraaaa não coloca a personagem pra ficar "lacrando" em cima dos outros então! Isso pegou mal demais, me incomodou real.
Também achei engraçado que o círculo de amigos da Ísis é composto de: um bissexual (que, no início da história, ela trata quase como brinquedo sexual, o que me deixou com muito ranço da Ísis logo no capítulo 1); uma mulher negra; uma mulher negra de candomblé; e uma mulher trans. Daí aparece o interesse romântico (óbvio) dela: Victor SPENCER, um homem branco dos olhos azuis. Tá bom que ele também é bruxo e tal, mas que discrepância. Parece que as políticas afirmativas eram só para cotas de amizade com a Ísis, para o amor não tem ainda não. Ah, por mais que o Victor seja um personagem bem legal, isso ficou uma porcaria (em minha humilde opinião).
O fator White Savior foi tão presente que me lembrei de Indiana Jones diversas vezes. Me lembrar de Indiana Jones não é bom. Indiana Jones é a personificação do White Savior para mim.
Vamos lá: um terreiro de candomblé foi atacado por neopentecostais radicalizados em racismo religioso. Este terreiro com certeza é frequentado por uma comunidade maior do que apenas DUAS pessoas (a mãe-de=santo e a filha dela, Fernanda, já citada como amiga da Ísis). Com certeza esta comunidade se reuniria para um mutirão, se apoiaria, ou algo do tipo, né? E, se as divindades tem existência comprovada, Exu ou qualquer outro orixá se manifestaria para ESTA comunidade, não?
NÃO! Aqui a comunidade simplesmente nem é citada e a mãe-de-santo incorpora o Exu para falar com a ísis. A ÍSIS! Parece que a comunidade fragilizada não é capaz de se defender, precisa contar com a Bruxa Branca.
E isso vai outro incômodo: por que tratar de religiosidades reais se elas vão ser tratadas de uma maneira tão superficial? Parece que mirou no relativismo cultural e acertou no etnocentrismo. Tipo assim... Ela usa o conceito "as divindades existem desde que tenha a crença das pessoas para sustentar suas existências" (acho que Deuses Americanos segue essa premissa, né? tem algo no riordanverso também, não é um conceito estranho). Até aí tudo bem... Mas me joga o lance de que isso não vale para a Terra (Gaia ou como quiser chamar), que alimenta as bruxas. Isso tirou as bruxas da categoria "religião" e as colocou na categoria "algo mais do que só uma religião". E putz... a maioria das bruxas/bruxos são brancos. O livro tá cheio de crítica ao cristianismo, mas a bruxaria foi colocada sabe onde? No lugar em que o cristianismo ocupou no projeto colonial. Não é porque eles estão "protegendo e preservando" que isso aí não soa menos ofensivo.
Destaque para o "Todas as religiões se preocupam com o destino da alma porque sabem que o corpo é da Terra". Acho que esta fala da Ísis exemplifica essa superioridade colocada na bruxaria branca dela. (Fora que existem religiões que não fazem essa separação corpo/alma, e nem precisa ir longe. Tem ramificações de judaísmo e cristianismo que pensam só em termos de "morte e ressurreição", e não de "morte e pós-vida"... e tem religiões que nem "pós-vida" tem).
Outro comentário de worldbuilding religioso: o mundo cristão era identificado pelos bruxos como O Verbo e seus Príncipes. Cara, eu tenho estudado bastante cristianismo (porque cresci e ainda vivo neste ambiente), mas esse conceito aí foi totalmente novo para mim. Eu lido bem com Trindade, por exemplo, e anjos sendo mensageiros. Para mim, o "Verbo" de João 1 tem outra conotação que não significa "o nome de Deus", daí faria mais sentido usar Jeová ou qualquer outra variação de YHWH. E na boa... Eu nunca tinha ouvido falar de Samael. Sei que o sufixo "el" significa Deus em hebraico, daí a maioria dos nomes de anjos terminam em "el" porque eles vieram da parte de Deus. Mas não lembro de Samael na Bíblia. Esse veio de um apócrifo? É da cabala judaica? Não sei. E o livro tratar como se os leitores soubessem do que eles estavam falando foi mais irritante ainda.
Bom, daí nem quero imaginar como deve ser para quem entende de religiões de matriz africana e matriz indígena a experiência de ver Ísis falando sobre as entidades.
Voltando ao incômodo: White Savior e superioridade das bruxas. Demônios ficaram sendo algo muito misterioso, não entendi direito o que são, mas ficou parecendo que o Inferno e os Demônios são aquilo lá da tradição católica romana mesmo. Sendo assim, bruxo por pacto com demônio não é uma visão cristianizada demais? E aí o bruxo em questão ser um falso pastor cristão, o demônio do pacto ser também cristão, sendo preso por um selo indígena, e daí incomodando os orixás... A única parte que toca nos bruxos aí é o "bruxo por pacto". De resto, porque todo mundo depende da Ísis?
E vamos lá, outra coisa ruim: a Ísis é muito ruim no que faz. Ela recebe três casos no início da história e logo no início da "investigação" (mal escrita demais, Carol Chiovatto precisava ler e estudar mais thriller e romances policiais) aparecem ligações óbvias entre os casos. Jorge Silveira, marido da mulher desaparecida, e ex-motorista dos pais da menina desaparecida, é crente igual os que atacaram o terreiro. Quando a Helena diz que ele estava transportando bichinhos de madeira para Paraty, eu já saquei que era a símile de onça. Mas levou umas 50 páginas para a Ísis perceber.
Tá, talvez investigação não seja o foco de uma monitora, mas monitorar com certeza é. O Marcos Dimas é um bruxo mequetrefe, segundo descrições reiteradas da Ísis. A batalha final mostrou lá a diferença de poder entre eles, foi muito fácil. Então POR QUE DIABOS ELA DEIXOU A SITUAÇÃO CHEGAR ÀQUELA ESCALA? A tal intuição dela demorou muito a funcionar, hein!
E indo mais a fundo na sociedade bruxa... Sério? Uma megalópole tipo São Paulo e vocês colocam uma ÚNICA bruxa para monitorar?
E eu de início achava que era serviço público, tipo Ministério da Magia. O que é essa Cidade dos Nobres? De onde vêm tantos recursos financeiros? Isso ficou disfuncional demais, e não da forma como a ísis via e criticava, mas na forma de criação de mundo mesmo. Por que outras religiões não tinham organizações parecidas? Ah, é, deve ser porque bruxos são "mais que uma religião". Polícia do sobrenatural.
E ah... me irritou a Ísis tentando resolver as coisas sozinha e os amigos tendo que se intrometer para ajudar no caso. Todos eles foram bem mais úteis que a própria Ísis na resolução do caso.
Sobre o trauma pessoal da Ísis e como o Victor ajudou... Isso eu não sei dizer ao certo, mas também não achei legal. Me lembrou muito Lore Olympus, só que em Lore Olympus teve um tratamento super legal. Aqui não. Ah, me lembrou também os livros da Victoria Gomes... Só que nos livros da Victoria Gomes o tratamento é bom. Aqui faltou alguma coisa, só que preciso pensar melhor para identificar o que é.
Enfim, as impressões gerais são essas. Algum dia desses eu organizo tudo e monto um texto mais inteligível.
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Devorei em uma manhã de tão bom que é! Uma fantasia maravilhosa, toca nos pontos certos com a delicadeza necessária, uma mitologia sensacional. Amei demais!!
Existem livros que usam a fantasia para falar de coisas do mundo real. Uma grande quantidade deles têm boas intenções, mas acaba usando a fantasia como um escudo para diluir o debate sobre o mundo real de maneira que o autor se sinta confortável de falar sobre uma coisa que normalmente não se sentiria. (Por exemplo: as inúmeras histórias que usam preconceito com 'raças' fantásticas para falar do preconceito real, que com raríssimas exceções usam criaturas monstruosas para significar a raça oprimida.) Este não é o caso de Porém, Bruxa. Pelo contrário, as situações reais denunciadas no livro não são fantásticas; são o sexismo e o preconceito do mundo real, e o fato de que eles também afetam Ísis - uma bruxa poderosa que poderia estar vivendo em um mundo mágico, mas decide viver em São Paulo como uma 'monitora', garantindo que outros bruxos não abusem seus poderes - mostra como é impossível estar acima dessas coisas, como elas afetam qualquer um independente das suas capacidades individuais. O livro consegue ser incisivo sem deixar de ser leve e bem-humorado.
Ísis, a personagem principal, é uma personagem fantástica - ativa, inteligente e extremamente capaz. Mas ela tem um grupo de amigos 'mundanos' que a ajudam a resolver os problemas mágicos que ela encontra (aproveitando-se do fato de que é proibido fazer magia na frente de mundanos, mas não é tecnicamente proibido falar para eles sobre isso) e em troca usando sua magia para resolver problemas deles (o que é absolutamente proibido e ela vai se dar mal se o mundo mágico descobrir). O círculo de amizades dela eleva o que seria um livro ótimo a um livro fantástico; faz com que seja uma história sobre as amizades que cultivamos e sobre como somos mais fortes junto com elas, uma mensagem que parece pertencer a uma série infantojuvenil estadunidense dos anos oitenta mas que é mostrada aqui de forma adulta e realista, sem sentimentalismos. Não existem musiquinhas sobre o poder da amizade, existem pessoas confiando umas nas outras nos seus piores momentos porque sabem que o outro vai estar lá por elas.
Fora isso, o livro é muito bem escrito, com uma fluidez fora do normal. No começo do livro, quando Ísis pega três casos ao mesmo tempo e sofre para priorizá-los, a narrativa e rápida e fugaz, nos fazendo sentir a urgência dela. Essa rapidez nunca chega a diminuir, estamos sempre sentindo a pressão sobre Ísis, mas conforme ela aprende mais sobre o que está acontecendo e desenvolve um plano de ação, também nos sentimos mais capazes com as intenções delas - e sofremos com os percalços inesperados que ela sofre. Carol Chiovatto tem a rara e benvinda capacidade de unir personagens redondinhos e bem construídos com uma narrativa cheia de ação (no sentido de que ela não é sobre personagens pensando sobre a vida deles, e sim sobre pessoas agindo e alterando o mundo. Não é um livro cheio de perseguições e tiroteios - apesar de que tem perseguições e tiroteios, sim.)
No final, este é um ótimo livro de fantasia urbana em um cenário nacional. Suspeito que fãs de Harry Potter vão gostar particularmente dela; mas eu não sou fã e também gostei, já que apesar de existir um 'mundo mágico' a narrativa e centrada na nossa terrinha. Não vou dizer que é um livro perfeito; em particular, a narrativa da Ísis com o Corregedor fica meio estranha, porque apesar dela dizer que os dois se odeiam, nós não chegamos a ver isso na história, e uma ação dela no meio da história que causa muitos problemas pra ela parece ser um erro de cálculo fenomenal que eu não esperava da bruxa genial das outras páginas. Mas não foi nada que me fez jogar o livro na parede. Pelo contrário, li tão rápido quanto consegui. Recomendo a todos.
Esse livro é sensacional ???? Eu tô chocada porque realmente não esperava tudo isso dele mas ele é SENSACIONAL e escrito por uma brasileira. TUDO PRA MIM.
Amei o livro, a forma como a Carol descreve São Paulo e como ela criou essa história centrada na existência de bruxas, demônios e toda sorte de poderes sobrenaturais. Recomendadíssimo!
Pare tudo o que você estiver fazendo e leia esse livro! Sério.
É muito bom ler uma fantasia urbana tão bem escrita, tão rápida, vibrante e com personagens tão bem criados, que nos fazem crer que são mesmo reais.
Ísis é uma monitora em São Paulo e é responsável por se certificar que a vida dos comuns não sofra interferências vindas de outros planos, ela só deve usar seus poderes em casos que envolvam bruxaria, mas não é bem assim que ela faz, e ainda bem.
O livro é cheio de referencias a diversas crenças e tem um foco em religiões afro brasileiras e dos povos indígenas de uma forma que eu achei bem respeitosa, didática e esclarecedora. Também fala sobre fanatismo religioso, passa por questões sobre violência física e psicológica contra mulheres e pra contra balancear fala sobre diversidade.
Como moradora de São Paulo eu adorei saber por onde a Ísis estava indo e queria ter um saldo bancário como o dela pra bancar tanto táxi e tanta pizza.
Terminei de ler esse livro já querendo ler a continuação e outras coisas da autora.
é o primeiro livro da autora então claro que não estava esperando nenhuma obra prima, mas não funcionou de jeito nenhum pra mim... na minha opinião alguns elementos não tinham motivo para ter sido postos na narrativa, assim como vários momentos em que a autora aproveitava a deixa para "lacrar" e soltar frases de efeito. Meio irritante. Além disso, A protagonista em tese tem 30 anos de idade mas se comporta como uma adolescente, com maneiras muitas vezes antipáticas e arrogantes típicas dessa faixa etária. Sem contar na desorganização quanto aos casos em que trabalhava, que me deu agonia. Ainda dei duas estrelas pelo esforço da autora, que claramente fez um vasto trabalho de pesquisa sobre religião para construir a história, só lamento que não soube desenvolvê-la melhor.
A construção de mundo em Porém Bruxa é excelente! A ambientação em São Paulo é maravilhosa e a maneira como a autora traz a de magica e religião (com um twist) pra esse universo é muito bem feita.
É muuuuito fácil se perder nessa história e no ponto de vista da personagem principal. Só fiquei meio assim com o desenvolvimento de personagem da Ísis: algumas coisas sobre a vida dela são apresentadas pro leitor como um ponto de tensão e conflito, mas não são explicadas mais.
Recomendado pra todo mundo em busca de uma história magica com representatividade e uma personagem principal forte.
Que coisa maravilhosa ver uma fantasia urbana nacional!
Amei como a Carol mistura elementos de diversas religiões para criar uma ambientação extremamente rica e diversificada. Gostei muito também da forma como ela vai soltando algumas informações ao longo do texto sem precisar parar para explicar muita coisa da criação do mundo (infodump).
Outro ponto que gostei muito foi a crítica social que permeia todo o texto sem ser aquela coisa descarada apenas para "lacrar". As críticas fazem parte da história e contribuem para o avanço da narrativa.
Apesar de gostar muito do livro, dois pontos me incomodaram um pouco: o primeiro, o jeito que a Ísis narra a história é muito formal quando comparado com a forma como ela se comunica, isso causou um afastamento para mim; não parecia a mesma pessoa. O segundo ponto, foi a resolução do conflito principal. Durante o livro inteiro, é acumulado um suspense muito grande em um acontecimento e, quando chega o momento, ele é resolvido muito rapidamente.
Ainda assim, amei a experiência. Gostei do mundo criado pela Carol e certamente vou querer ler os próximos livros dela.
"Somos netas das bruxas que vocês não conseguiram queimar."
Porém Bruxa foi uma surpresa incrível. Talvez porque eu nunca tivesse lido uma fantasia urbana, ou talvez porque eu nunca tivesse lido um livro que falasse de coisas em que eu acredito de uma maneira tão natural, como se - pasmem - fosse um retrato da vida real.
Ísis é uma bruxa em meio aos comuns, com uma empatia que não a permite fazer seu trabalho sem quebrar as regras. Tenta equilibrar isso enquanto precisa lidar com as injustiças dos dois mundos que habita e com os traumas que carrega. Gostei muito da ambientação da história - apesar de me dar nervoso financeiro todas as vezes que a Ísis pegava um táxi em São Paulo -, porque não precisou dizer muito sobre a organização para que conseguíssemos ficar imersos na história, e trouxe uma riqueza cultural que eu humildemente devorei.
Os personagens são todos envolventes e diferentes, e eu gostei de logo no primeiro capítulo termos um relacionamento aberto e uma amizade com benefícios com naturalidade. Uma das coisas de que mais gostei foi a forma como a autora escreveu sobre coisas pelas quais mulheres passam, dando o peso que precisava - o peso que sentimos o tempo todo - ao mesmo tempo em que não deixava que isso definisse a narrativa. Às vezes pode ser perigoso ser como Ísis no mundo em que vivemos, mas me senti defendida pelas suas respostas desaforadas.
Também gostei muito da sutileza da caracterização de Victor. Enquanto a gente sempre sabia muito de Ísis, ele era um pouco misterioso, mas ainda evocava um conforto e um carinho no leitor.
Adorei a narrativa, a trama, a construção de tudo, o livro inteiro. E fiquei com vontade de mais!
Não é o primeiro livro que leio em português, mas é o primeiro em português original. O resto foram traduções de inglês para português. É uma fantasia urbana que se passa em São Paulo estrelada por Ísis Rosetti, uma bruxa encarregada de monitorar a atividade sobrenatural. Ísis é uma mulher forte que não hesita em ajudar e intervir quando necessário, seja na busca de crianças, vítimas de violência de gênero, ... mesmo que seja proibido. Eu amo os personagens secundários, todos eles contribuem para a história. O nível de dificuldade de leitura em português é médio-alto.
Uma delicinha de livro! Uma leitura gostosa com uma narrativa que flui muito bem e uma história maravilhosa. Basicamente um thriller com magia! Adorei a forma com a autora abordou as diversas religiões, bem respeitosa e criativa. Recomendo muito!
Tudo que eu precisa ler mas não sabia! uma história bem escrita, interessante, que mistura bruxaria, divindades africanas e indígenas, crime e investigação, na cidade de São Paulo. Zero meu tipo de leitura, mas feliz de ter lido e adorado.
Carol Chiovatto sempre foi uma inspiração pra mim, desde que a encontrei em uma Odisseia da Literatura Fantástica há alguns anos. Ela é, afinal, um bom exemplo: tradutora, preparadora, pesquisadora, escritora e cheia de desenvoltura para falar em público - tudo que eu almejo pra mim. Li alguns de seus contos, mas estes não me prepararam para o impacto de seu primeiro romance. "Porém Bruxa" conta a história de Ísis, uma bruxa que usa de sua intuição extra-aguçada para resolver os problemas mágicos da cidade de São Paulo. A propósito, as bruxas e bruxos da Carol existem em segredo da humanidade, mas (alguns) habitam as cidades dos "comuns", cuidando de (e encobrindo) seus próprios problemas pra que não exponham sua existência. (É sempre um risco de forca e fogueira ser exposto, não é?) Ísis, ao contrário de seus pares, não consegue ficar tão na sua assim, o que a leva a interagir com maravilhosos "comuns" que dão vida ao livro e à rotina da bruxa: uma delegada, um linguista, uma coordenadora de ONG, uma filha-de-santo (sua amiga de infância, aliás). Pessoalmente, acho que tão importante quanto a própria trama, cheia de investigações sobre os misteriosos casos ligados à Ísis, são esses amigos da nossa bruxa protagonista. Eles nos mostram, além da sua personalidade, o esforço da Carol em trazer para sua história pessoas e experiências de variados grupos minoritários: tem LGBTQIA+, tem relacionamentos fora do padrão monogâmico, tem mulheres fortes (não só no sentido "pé na porta e soco na cara"), tem seguidores do Candomblé, tem feminismo, tem vítimas de abuso. E, mais que tudo, tem respeito. Pra mim, essa diversidade é um dos pontos altos do livro. E tudo isso torna quase impossível escolher um "amigo comum" favorito. (Tentem, eu os desafio!) Do lado dos bruxos, temos apenas Victor, o Corregedor, o responsável por coordenar os monitores da região de Ísis. Vou apenas dizer que Corregedor e monitora não têm a melhor das relações logo de cara, mas ele é um fofo. É isso. Como a sinopse já conta o suficiente sobre o enredo, vou falar é da escrita da Carol. E que escrita! Sou uma leitora até que bem experiente, especialmente em se tratando de fantasia urbana, e fiquei maravilhada com a maneira que ela distorce, subverte e utiliza os clichês do gênero, além de acrescentar seu próprio estilo - o que considero um mérito invejável. Mais que isso, ela escreve diálogos como poucos: naturais, precisos, relevantes - tudo o que diálogos deveriam ser. As descrições são sucintas e bem inseridas no texto, e os personagens são bem utilizados: todos têm suas próprias vozes e sua importância na trama e na vida de Ísis. O ritmo! O ritmo é uma delícia, com boas doses de ação, feitiços e calmaria. Como preparadora desse livro (não me roguem pragas se encontrarem algum erro, tá?), foi um prazer ajudar a aparar as poucas arestas que ainda existiam no original. Foram 180 páginas de Word que voaram - tive, inclusive, que voltar e reler trechos porque percebia que tinha me empolgado e só estava lendo como leitora, e não como preparadora/revisora. Enfim, como fã do gênero fantástico e da fantasia urbana, posso dizer que "Porém Bruxa" atingiu todos os pontos que me fazem, como leitora, dar cinco estrelas e favoritar um livro; como preparadora, me maravilhou com a qualidade do texto; e, como autora, me deu aquela sensação, aquela comichão na alma por ter encontrado um livro que eu gostaria de ter escrito. Preciso dizer que recomendo esse livro? Tá, eu digo: recomendo MUITO esse livro pra todos que gostam ou querem entrar para o magnífico universo da fantasia urbana nacional! P.S.: Essa capa é um deslumbre à parte! AVEC manda muito bem <3
Te prenda do começo ao fim? Tenha um ótimo suspense? Tenha uma trama com uma certa complexidade e intrincada? Tenha personagens carismáticos? Faça você querer prestar atenção às pistas deixadas sutilmente pela autora? Não te faça ter vergonha da nova literatura brasileira?
Pois seus problemas acabaram.
Comecei achando que era um livro de literária fantástica, mas, para mim, foi a cria entre um romance policial e literatura fantástica.
Isis é uma bruxa. Ela tem poderes, lança feitiços (gostei da autora ter me dado apenas o que eu precisava para aceitar a fantasia, sem perder tempo com explicações excessivas e correndo o risco de não me deixar inferir nada - O que ocorre constantemente nos livros mais atuais de um modo geral, como se o leitor tivesse preguiça de pensar, então tem que ser tudo muito mastigado). Há um universo mágico paralelo, mas tudo se passa em São Paulo.
Refrescante a Carol não ter se valido de elementos mágicos estrangeiros, tudo abraça o sincretismo religioso brasileiro. Há valorização do que é nosso sem aquela sensação de ser forçado, pois a gente vê elementos de crenças e religiões de matriz africana, indígena e outras. Foi tudo tão natural e bem trabalhado.
Gostei de tudo não ser óbvio demais e de a Isis não ser retratada como uma bruxa fodona, a escolhida, invencível, the chosen one. Ela tem os limites dela, que têm que ser respeitados.
Outro aspecto que eu achei super legal é a mescla entre um cotidiano mundano e a magia.
"Ai, senti uma parada bruxosa na zona sul, mas tô na zona norte. Fazer o que né, vou lá. Bem que esse ônibus podia passar ligeiro, porque tô atrasada. Só espero que o trânsito não me atrapalhe muito. Olha, que ser bruxa pelos anos 2020 deveria ser mais fácil, viu?!"
A única coisa que faltou pra mim (e isso é uma preferência muito minha e não interferiu na avaliação geral do livro) foi um casal pra eu shippar. Minha vida NÃO está completa sem um casal pra eu shippar gente. Give mama some sugar.
Quero a continuação pra ontem pelo amor de deus????? Uma fantasia urbana incrível, com uma escrita que me fez querer continuar lendo só pra saber o que ia acontecer. Tocou em temas muito importantes e super atuais, como intolerância religiosa, preconceito, dentre outros. Gostei muito da descrição dos personagens e das dinâmicas entre eles. Recomendo muito!
Aviso de gatilho: descrições de abuso psicológico e violência física Nota: 4,5
A quantidade de vezes que a Ísis pede pizza nesse livro fez o meu nível de identificação se elevar demais. E meu sonho é ter o salário de bruxa dela pra poder tomar café na padaria, almoçar fora e andar de taxi todo dia.
Ísis é uma bruxa, responsável por manter a cidade de São Paulo sob controle, enquanto tem medo do corregedor Victor. Ela ajuda a delegada Helena e conta com o apoio de Dulce, Fernanda e Murilo para resolver três casos misteriosos: um atentado a um terreiro; o desaparecimento da mãe do menino Pedro; e o sequestro da criança Valentina. Estarão esses casos relacionados?
Minha reclamação sobre o livro é que ele parece no meio do caminho entre YA e uma fantasia mais adulta. A protagonista é adulta, há vários personagens bem resolvidos sexualmente e esse assunto é abordado com muita naturalidade. Mas fora isso, a obra é escrita como se fosse juvenil, com pistas encaixadinhas e uma sequência de eventos bem linear até a resolução do mistério, mais ou menos como a estrutura dos livros de Harry Potter. O tom é exatamente o mesmo, inclusive. E isso fica ainda mais evidente ao ler nos agradecimentos que a Carol começou a pensar neste cenário na época do colégio.
Mas o worldbuilding é interessante e fiquei curioso para conhecer mais detalhes do funcionamento. Também gostei de como a trama é amarradinha, bem trabalhada e estruturada desde o princípio para todas as peças se encaixarem. E acho Ísis uma ótima personagem, bem como todo o núcleo que a envolve. Os vilões são caricatos, algo também mais típico de histórias juvenis. A prosa da Carol é fluida e a história é envolvente o bastante para me deixar com vontade de saber logo o que vai acontecer. Também é meio didático demais o livro ter, ao mesmo tempo, uma travesti, personagens negros e pobres, bissexuais, relação aberta, indígenas, religiões africanas, prisão por porte de drogas, assédio no transporte público e pastor corrupto. Só faltou a delegada Helena ser PCD ou alguém ser autista para completar o bingo. Achei ótimo toda a diversidade, mas corrobora com o livro ser muito certinho.
Apesar das ressalvas, Porém, Bruxa é uma leitura muito divertida e que me deixou com vontade de ler uma continuação, especialmente se detalhar mais a tal Cidade dos Nobres.