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Hardcover
First published January 1, 1938
Semana após semana, dia após dia, a ansiosa mãe tinha comparado os predicados da Menina Elmswood com os de Virginia. No que dizia respeito ao cabelo e à pele, não podia haver dúvidas, Virginia, toda ela pérola, com as suas madeixas de cabelos louros empilhadas sobre a testa baixa, era tão pura e luminosa como uma flor de macieira. Mas a cintura de Lizzy era, indubitavelmente, pelo menos dois centímetros e meio mais fina (havia quem dissesse cinco centímetros), as sobrancelhas escuras de Lizzy tinham uma curvatura mais ousada, e o andar de Lizzy... onde teria uma nova-rica como aquela Elmsworth ido buscar aquele andar tão arrogante? Sim, mas reconfortava-a notar que a pele de Lizzy era opaca e desprovida de vida, em comparação com a de Virginia, e que os seus belos olhos revelavam génio, o que por certo assustaria os jovens. Todavia, ela possuía, num grau alarmante, aquilo a que se chamava «estilo», e a Sra. St. George suspeitava de que, nos círculos onde pretendia introduzir as suas filhas, o estilo era muito mas apreciado do que a beleza.
- Oh, Guy Thwarte(...). É um dos mais fascinantes maus-partidos de Inglaterra.
- Mau-partido porquê?
- É um rapaz por quem todas as mulheres ficam loucas, mas que é pobre de mais para se casarem com ele. O único tipo que resta às mulheres casadas, na realidade... por isso, não lhe toque, minha querida. Não que eu queira Guy para mim - acrescentou Conchita com um sorriso preguiçoso. Dick já foi suficientemente mau-partido para mim. Aquilo que eu procuro é um amigo com um rendimento que ele não saiba como gastar.
(...)agora, que ele se tomara um homem importante em Wall Street, onde a vida parecia tornar-se cada dia mais febril, era perfeitamente natural que ele necessitasse de um pouco de descontração, embora ela deplorasse que esta fosse alcançada sempre através do póquer e do uísque e, por vezes, segundo receava, do terceiro elemento celebrado pela canção. Embora a Sra. St. George fosse agora uma preocupada mulher de meia-idade, com filhas crescidas, custava-lhe tanto a resignar-se a essa ideia como na altura em que encontrara pela primeira vez, no bolso do marido, uma carta que não se destinava a ser lida por ela. Mas nada podia fazer quanto a isso, nem quanto ao uísque e ao póquer ou quanto as visitas a locais onde se servia o jogo e o champanhe a todas as horas, e onde os cavalheiros que tinham ganh[ado] na roleta ou nas corridas ceavam em meretrícia companhia. A Sra. St. George tinha conhecimento, havia longo tempo, de tudo isso, mas sentia-se meio consolada, quando o coronel vinha reunir-se à sua familia em Long Branch ou Saratoga, por saber que, na longa sala de jantar do hotel, todas as outras preocupadas esposas de meia idade lhe invejavam o seu esplêndido marido.
[Nan] Sabia que a visão de Virginia do mundo se limitava às pessoas, às roupas que usavam e às carruagens em que viajavam. O seu próprio universo estava tão cheio de visões e sons maravilhosos que, apesar de sentir a superioridade de Virginia - a sua beleza, o seu à-vontade, a sua autoconfiança -, Nan sentia, por vezes, uma pena envergonhada da irmã. Devia haver frio e solidão, pensava ela, naquele mundo vazio e incolor de Virginia.
- Bom, meninas, estão com o ar de quem veio de um funeral - observou ela (...).
-E viemos. Vimos todos os velhos cadáveres de Londres vestidos para aquele espectáculo de circo a que chamam a Recepção.
O nosso maior erro, - pensou, apoiando o queixo nas mãos cruzadas, com os olhos cegamente cravados nas distâncias do parque -, o nosso maior erro é pensar que sabemos sempre por que fazemos as coisas... Suponho que o mais próximo que podemos chegar é alcançar aquilo a que os mais velhos chamam experiência. Mas, quando a conseguimos, já não somos as pessoas que fizeram as coisas que já não entendemos. Suponho que o problema seja que nós mudamos a cada momento; e as coisas que fizemos permanecem.
Seria possível que ele não conhecesse os seus direitos? Nos tempos da duquesa viúva, as obrigações de uma esposa - muito especialmente as da esposa de um duque - eram tão claras como os Dez Mandamentos. Tinha de dar ao seu marido pelo menos dois filhos varões, e se, no cumprimento deste dever, nascesse uma dúzia de filhas indesejadas, teria de as receber com os adequados sentimentos maternais e ocupar-se para que fossem devidamente agasalhadas e educadas A duquesa de Tintagel tinha-se considerado feliz por ter tido apenas oito filhas, mas tinha lamentado a inexorável decisão da Natureza de não lhe ter concedido um segundo filho.
Estou certa de que os meus erros passados não deveriam condenar-me a levar a vida de alguém que não é, e nunca será, verdadeiramente eu. Especialmente desde que aprendi tanta coisa com eles... com os meus erros, quero eu dizer. Aprendi que não posso viver uma mentira e que não quero ferir ninguém, mas, mais do que tudo, que não tenho medo de ser eu, nem de falar por mim.