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219 pages, Paperback
First published January 1, 1994
"Dei vários gritos, muitos gritos, autênticos gritos. Não por ter fome ou sede, medo ou dores, mas porque queria começar a "falar", porque queria ouvir a minha voz e os sons não chegavam até mim. Eu vibrava. Sabia que estava aos gritos, mas os gritos nada significavam para a minha mãe ou para o meu pai. Segundo eles, eram gritos agudos de ave marinha, como os de uma gaivota planando sobre o oceano. Então, apelidaram-me de gaivota. E a gaivota gritava acima de um oceano de ruídos que não ouvia, e eles não compreendiam o grito da gaivota."
“No século XIX, surge a proibição oficial. A "mímica", como lhe chamaram, tem que desaparecer das escolas. Foi rejeitada como sendo indecente e porque pretensamente impedia os surdos de falar."
“VER. Se não vir, estou perdida. Preciso da expressão dos olhos, do movimento dos lábios.”
“O termo "surda-muda" continua a espantar-me. Mudo significa que não se tem o dom da palavra. As pessoas vêem-me como alguém que não utiliza a palavra. É absurdo! Eu uso. Tanto com as mãos como com a boca. Faço gestos e falo francês. Utilizar a língua gestual não significa que se seja mudo. Posso falar, gritar, rir, chorar, são sons que me saem da garganta. Não me cortaram a língua! Tenho uma voz esquisita mais nada.”
“Os que ouvem escrevem livros acerca dos surdos. Jean Grémion, professor de filosofia, homem de teatro e jornalista, estudou durante vários anos o mundo dos surdos para escrever uma obra notável, O Planeta dos Surdos, onde diz precisamente: «Os que ouvem têm tudo a aprender com aqueles que falam com o corpo. A riqueza da sua língua gestual é um dos tesouros da humanidade.»”