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A Casa Quieta

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"Quero acreditar que já não estarias em casa por alturas em que cheguei mas não sei dizer. A verdade é que não te procurei. Mais uma vez. Penso que fiz as coisas do costume, penso hoje quando penso nisso que fiz as coisas do costume, terei deixado o sobretudo ao acaso, abri o frigorífico fechei abri uma outra vez, sem saber bem o que procuro, acontece-me quase sempre. As coisas do costume. Vagueei sem saber bem, o sobretudo caído alguém há-de arrumar, tu tratas disso. Do frigorífico abro fecho abro outra vez, quero pouco, não sei que quero, deixei de beber prometi-te acho que te prometi, não sei que beba."

253 pages, Paperback

First published January 1, 2005

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About the author

Rodrigo Guedes de Carvalho

12 books251 followers
RODRIGO GUEDES DE CARVALHO nasceu no Porto, a 14 de Novembro de 1963.
Licenciado em Comunicação Social, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, profissionalizou-se na RTP. Actualmente é subdirector de Informação da SIC. Em 1997 recebeu o Prémio Especial do Júri do Festival FIGRA, em França, pela reportagem A condição humana, sobre as urgências hospitalares.
Em 1992 estreou-se na escrita, com o romance Daqui a Nada, vencedor do Prémio Jovens Talentos da ONU, conhecendo uma reedição pela Publicações Dom Quixote, em 2005. Nesse ano lançou o best-seller A Casa Quieta e assinou o argumento da longa-metragem Coisa Ruim, co-realizada pelo seu irmão Tiago Guedes. É ainda autor de A Mulher em Branco (2006), Canário (2007), O Pianista de Hotel (2017), Jogos de Raiva (2018) e Margarida Espantada (2020).

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5 stars
96 (17%)
4 stars
196 (35%)
3 stars
163 (29%)
2 stars
65 (11%)
1 star
25 (4%)
Displaying 1 - 30 of 44 reviews
Profile Image for Rosie.
460 reviews56 followers
February 14, 2019
Como um cirurgião com o seu bisturi, Rodrigo Guedes de Carvalho manuseia as palavras com precisão e atribui-lhes profundidade. As cenas do quotidiano, as banalidades na sua generalidade ganham contornos pouco exequíveis, as existências materiais acumuladas ao longo de uma vida são destituídas de valor, retira-lhe essência e somos confrontados com aqueles que poderiam ser os nossos próprios pensamentos numa situação idêntica.

Adorei!

Sem ser propriamente um quebra cabeças, esta não é uma leitura corrida, é antes um convite para entrarmos na alma de alguém que sofre e percorrer os seus passos, sentirmos na pele cada momento.
Não me atrevo a alongar porque já não posso pormenorizar dado o ter lido há uns anos, mas sei com certeza que a intimidade, a proximidade atingida arrebatou-me assim como a profusão de sentimentos.

Fiquei fã deste escritor.

No entanto compreendo que não é um livro que recomende sem reservas. Quanto a mim, tenho-o reservado para o saborear novamente.
Profile Image for Marisa Martins.
327 reviews9 followers
March 9, 2010
Salvador, arquitecto, é casado com Mariana, professora. Os dois vivem num casa com três quartos vazios. Não têm filhos. O primeiro tem um irmão doente e mantém um ritual semanal com pai: encontram-se uma vez por semana para almoçar, sempre no mesmo restaurante. Mariana é orfã e tem 2 irmãs que vivem no Canadá com os seus esposos e filhos.
Novembro 2005. Mariana partiu. Salvador está sozinho numa casa quieta.

Repara bem. A vida olhada como uma moeda. Nada de mais redondo, conclusivo, perfeito. Simétrico.
Olha pois. Amacia-a entre os dedos, sente-lhe o peso, avalia as possibilidades.
Escolhe uma face ou deixa que uma face te escolha.

A narrativa começa em Novembro de 2005. O leitor entra numa máquina, com saltos temporais que o transporta até 1985, 1995 e novamente a 2005. O leitor conhece o término das várias histórias, mas falta-lhe conhecer os detalhes, bem como a ordem dos acontecimentos. Cada personagem é, em determinada altura, o narrador da sua história.

Na minha opinião, este não é um livro de fácil leitura. É um torbilhão de pensamentos. Fica-se com a sensação que o autor escreve o que está a pensar, sem estabelecer ordem ou revisão final. É uma leitura refrescante.

Rodrigo Guedes de Carvalho escreve sobre amor, perda, solidão, doença, traição, sofrimento, morte, silêncio, etc.
Esta leitura foi uma excelente surpresa, em parte porque não tinha grandes expectativas em relação à escrita do jornalista. Gostei tanto que já mandei vir o "Mulher em Branco", do mesmo autor.

Se tiverem oportunidade, leiam-no.
Profile Image for Cátia Santos.
241 reviews37 followers
April 10, 2020
Um livro profundo, que aborda temas como a solidão, a perda, o amor... organizado de forma criativa, que pode, eventualmente, dificultar a leitura. No meu caso, apaixonou-me! Só não atribuo 5* porque achei a história de António mais enfadonha, e talvez até desnecessária. Por outro lado, o capítulo “Fevereiro ou a moeda” é brilhante! 6*
Profile Image for Ana.
17 reviews
March 4, 2012
Carregado de sentimento e escrito de uma forma simples, apesar de ter um timeline um pouco rebuscado. Deixou-me com vontade de ler mais.
Profile Image for susanprosa.
176 reviews6 followers
May 28, 2008
Olha pois. Amacia-a entre os dedos, sente-lhe o peso, avalia as possibilidades.
Escolhe uma face ou deixa que uma face te escolha.
Olha pois. E de um lado tens..."

A estranha vontade de chorar ao ler algumas páginas deste livro.
A estranha vontade de sorrir ao ler outras páginas.
A estranha vontade de dizer que este é o melhor livro, de um escritor português, que eu li em 2005!
Profile Image for Fátima Linhares.
934 reviews339 followers
May 30, 2019
Uma história interessante, com personagens ricos e atormentados. A escrita é um pouco diferente, com espaço para interpretações incorretas, umas vez que a pontuação leva a que não perceba bem o seu significado e a alternância entre presente e passado não se percebe muito bem. Uma leitura aceitável.
Profile Image for Diana Cruz.
17 reviews
January 2, 2015
SImplesmente adoro a forma como a história está construida e narrada
Profile Image for Ana.
754 reviews174 followers
August 27, 2016
Entramos numa casa quieta. Entramos numa casa quieta pela morte de alguém que amamos. Alguém que já não pressente a nossa chegada, que já não atravessa o corredor para perguntar-nos como é que correu o nosso dia, alguém que já não preenche um vazio permanente.
Vivemos numa casa quieta. Com divisões a mais. Com quartos habitados apenas por tralha inútil mas que resistimos em deitar fora e que se encontram sempre com as portas fechadas. Uma casa onde se ouve o silêncio e os ruídos do exterior – a chuva a cair, um autocarro que passa. Uma casa que nunca estremeceu com os gritos, as birras, a balbúrdia e o entusiasmo contagiante das crianças, dos filhos.
Crescemos numa casa quieta. Crescemos subjugados pela presença dominadora e autoritária de um progenitor que governou a sua vida e a dos seus segundo planos, normas e rotinas meticulosamente traçados.
Almejamos que, a partir de hoje, a nossa existência seja como uma casa quieta, silenciosa, muda, que conserve em divisões bem trancadas um passado de desilusões, de sofrimentos, de medos, de desalentos, de desânimos e que nos resguarde perante um presente de prostração, desistência, abandono, no qual as palavras, os diálogos são desnecessários, escusados.
Sou fã assumida de Rodrigo Guedes Carvalho e esta é a segunda obra sua que releio (ver aqui a opinião da releitura de Daqui a nada). Sabia de antemão que iria voltar a encontrar um estilo muito pessoal, embora com nítidas associações ao estilo antuniano, com uma escrita que me agrada sobremaneira, íntima, profunda, com características oralizantes, se assim se pode dizer, e onde o universo interior das personagens se sobrepõe às suas ações. Para além disso, recordava da primeira leitura um friso cronológico “ao contrário”, ou seja, lembrava-me que na primeira parte da obra os capítulos andariam para trás no tempo e que as partes posteriores nos fariam recuar ainda mais para, no final, voltarmos ao tempo presente – 2005. Recordava ainda que a morte de um ente querido seria o principal mote da trama.
A leitura ou releitura de qualquer obra despolete o meu interesse pede entrega total, sem redes, sem máscaras. Só assim haverá a ligação, a união plena entre leitora e obra. Existem quase sempre condicionantes – expectativas, opiniões de outros leitores, comparações com outras obras – do mesmo autor ou não – timing da leitura, etc. É impossível (ou praticamente) enveredarmos numa leitura virgens, impolutos. Muitas das vezes esses condicionantes que referi sentam-se ao meu lado e são espectadores, meros figurantes. Contudo, noutras destacam-se e dão um salto, transformando-se em personagens com algum relevo e interferindo com a magia de um momento que deveria ser único, apenas meu.
Com A casa quieta, os condicionantes subiram ao palco mal percorri as primeiras páginas e sob a forma de bloqueios aos fantasmas, infelizmente muito reais, e que assombram a vida de todos aqueles que perderam um ente querido na batalha contra o cancro. Subiram ao palco com força e persistência. Imiscuíram-se subtilmente e não mais abandonaram a cena. O que deveria ter sido uma releitura emotiva, saborosa apesar do fel agregado aos seus temas (não apenas essa maldita doença) foi uma leitura regada por alguma indiferença, por alguma apatia e por algum inconsciente distanciamento.
Hoje, após se terem passado algumas horas do encerramento da releitura, continuo com a sensação de que a releitura não presta a devida homenagem à escrita, ao talento e ao amor que tenho à obra de Rodrigo Guedes de Carvalho. Sinto-me culpada, obviamente, mas sinto que essa culpa é involuntária, que não fui capaz de enxotar para um canto longínquo medos, que não desliguei de realidades que já aconteceram ou que podem acontecer e que nem deixei que inúmeras passagens de uma beleza indescritível (sublinhadas aquando da primeira leitura) me embalassem e me conduzissem para onde tanto queria ir com esta releitura – para aquele cantinho só meu, para onde sempre viajo com o encanto e o sabor dos meus livros.
Perante tudo o que referi até agora, recomendo esta obra apenas a quem quiser saborear uma escrita lindíssima, poética e muito íntima e procurar uma narrativa sem filtro, repleta de dores, traumas, com personagens complexas e muito humanas, muito próximas de nós.
Deixo, por fim, alguns trechos que fui sublinhando, ou melhor, encontrando sublinhadas da minha primeira leitura:
“É então isto a morte. Abrires os olhos à espera de uma revelação e esbarrares no nada.” (pág. 15)
“As viagens, pela sua incomparável probabilidade aberta, eram a sua melhor memória. Mas era sobretudo o seu significado que a trazia eternamente grata.” (pág. 123)
“…éramos um todo, éramos ainda assim um todo, que se partiu, caiu ao chão e partiu-se, perto de um banco de jardim, numa cidade que amamos…” (pág. 147)
“Tu eras. E passo a citar. Uma voz (…) Eras as luzes acesas. (…) Tu eras. Passo a citar. Nós. Ainda há pouco vi que já não somos mais. (…) Eras a casa à minha espera. Ainda há pouco cheguei, poisei as chaves e a minha casa já não é a minha casa ou pelo menos. Já não importa, não és.” (págs. 256, 257)

NOTA – 7,5/10

Profile Image for Joaquim Margarido.
299 reviews39 followers
May 16, 2021
Contado a várias vozes, em diferentes tempos, o romance “A Casa Quieta” tem méritos que justificam o sucesso literário que alcançou à data da sua publicação e que tanto contribuiu para projectar a carreira de prestígio do jornalista e escritor Rodrigo Guedes de Carvalho, alicerçada em obras como “O Pianista de Hotel”, “Jogos de Raiva” ou o mais recente “Margarida Espantada”. Há semelhança destes últimos, “A Casa Quieta” passeia-se na intimidade do ser humano, ao encontro daquilo que nele se pode achar de mais belo ou de mais odioso: Na rotina do trabalho, das compras e dos filhos ou numa viagem de avião a dois para parte incerta; num gesto de ternura ou na revelação de que existe mais alguém; na festa e no riso ou na doença que vai minando o corpo e na morte implacável.

Acompanhando de perto a relação de Salvador e Mariana, marido e mulher, à qual acrescenta os contactos esporádicos com os irmãos de um e de outro e respectivas famílias, Rodrigo Guedes de Carvalho mostra-nos o quão frágeis podem ser as relações, os sonhos feitos de areia fina da praia, o betão a moldar os nossos maiores pesadelos. Misturando, no mesmo cadinho, ternura e delicadeza com desprezo e raiva, o autor oferece-nos um retrato perturbador daquilo que de mais precário e efémero temos: as nossas próprias vidas. Uma breve passagem, quase só um fugaz momento, a educação que recebemos dos nossos pais a pesar toneladas (e quem conhece a obra de Rodrigo Guedes de Carvalho sabe o quão pesado esse legado é), o futuro projectado naqueles que, sangue do nosso sangue, vimos nascer e crescer.

“A Casa Quieta” é um livro feito de nós. De nós enquanto pessoas que vivem sentem sofrem. De nós porque nos cruzamos e descruzamos uns nos outros, nos agarramos e nos soltamos enquanto aguardamos a morte que virá para nos juntar ou separar de vez. É também um livro belíssimo na sua escrita, com passagens duma enorme força, as palavras a pedirem para ser lidas num sussurro ou num grito. Com emoção e ardor, sempre. São elas que nos guiam por salas de reuniões onde acontece não esperar o inesperado, corredores de hospital onde paira “uma mistura quase doce de remédios, suor e desinfectante”, consultórios com vista para o rio mais os seus “barquinhos irreais a vencerem a ondulação de Inverno”, alamedas com árvores enormes, nodosas, e cães passeados por velhos. Essas mesmas palavras que nos pedem que escutemos a casa quieta, a dor da solidão, um cão aninhado entre a cama e o armário sem ninguém do outro lado da trela.
Profile Image for Ana Rita Ramos.
274 reviews4 followers
April 17, 2022
Extraordinário. A escrita é muito poética e fora do comum. Por vezes, foi necessário voltar atrás e reler algumas partes para não perder o fio condutor.
Ao longo de meses e anos conhecemos a realidade de um casal e dos seus familiares em 2005, 1985 e 1995. Mariana e Salvador são as personagens centrais da história, bem como os seus momentos felizes e os dramáticos, a doença, a traição, a solidão.
Profile Image for Tita.
2,201 reviews233 followers
January 21, 2016
Este livro não é de leitura fácil e acredito que também não agradará a todos os leitores.
Foi-me muito difícil iniciar-me nesta leitura, com uma escrita/narrativa "fragmentada" (num linha fala de algo e na linha seguinte fala de outra coisa, às vezes noutra altura, sem a devida pontuação), com vários saltos temporais, e com vários narradores.
Rodrigo Guedes de Carvalho aborda temas como o sentimento de perda, a solidão, traição e morte, o que torna o livro rico em sentimentos e pensamentos. No entanto, não consegui ultrapassar a estranheza da construção da narrativa.
A premissa é interessante, no entanto achei a escrita demasiado confusa para a poder apreciar devidamente. Estive muito indecisa entre 1 ou 2 estrelas, tendo acabado por me decidir pelas 2 porque não cheguei a odiar o livro ou a narrativa, pois a ideia da história é interessante apesar de não me ter cativado
Profile Image for Diana.
44 reviews7 followers
February 17, 2019
Achei o livro difícil ao início, confesso!
Sinistro, no bom sentido, onde fala de comuns falhas (ou não) humanas e o rumo que a vida pode levar e diferenciar conforme as nossas escolhas.
Profile Image for Ana Paulino.
83 reviews11 followers
April 29, 2020
A Casa está quieta. Mas A Casa sempre esteve Quieta, decisão que as famílias de Mariana e Salvador nunca conseguiram compreender. Mas a quietude da casa vai-se transformando ao longo do livro. Há uma quietude com 3, uma quietude com 2, ainda uma com apenas 1 e, mesmo quando tornam a ser 2, a quietude mantém-se. Mas cada quietude é diferente. Cada uma tem a sua dor, a sua ausência e a sua perda.

Se soubéssemos como termina a vida, da mesma forma como sabemos como ela começa, será que passávamos tanto tempo a questioná-la? Ou pelo contrário, questiona-la-íamos mais cedo, com mais urgência, com mais veemência….? Mariana apercebeu-se disso no momento em que soube que o seu tempo estava a terminar. Salvador também. Talvez por isso lhe tenha negado a resposta que Mariana, já 20 anos passados desde do “incidente”, ansiosamente procurava. Terá a recusa de Salvador a ver com a sua incapacidade de ser honesto, com medo que a verdade a magoasse ainda mais do que a ferida interior que se tinha apoderado dela, ou terá sido o seu gesto uma honestidade perante a certeza que tinha de que, nada do que ele lhe poderia ter dito naquele momento, fosse a resposta que Mariana procurava?

Sim, Salvador amava-a. Salvador o arquitecto, tinha amado Mariana a professora, desde sempre, mesmo durante o “incidente”, amou-a no momento da morte e ficamos com um peso no coração por adivinhar que, ao perdê-la, perde também a capacidade de amar outro ser, à excepção do cão!

Rodrigo Guedes de Carvalho fala-nos de amor, fala-nos muito bem, aliás, do amor. Da mesma forma que nos fala muito bem da ausência, da perda, da importância do quotidiano. Escreve como eu gosto de ler, sem se tornar refém do tempo… L

E, o que, na minha opinião, torna este romance muito marcante, muito especial, do qual, poucos podem sair imunes de sensações, é a forma como este livro parece ser uma carta de amor (mais ou menos enviesada) a Teresa. A dedicatória do livro, torna-o bem claro, obviamente, o facto de ser do domínio público que a mulher do escritor tem esse mesmo nome, Teresa, ajuda a compor a teoria, mas o grande indício desta minha hipótese é a verdade que senti a cada momento. Todo este livro parece ter sido escrito como uma memória de sentimentos e de sentidos e de emoções. Leva-nos para a frente, puxa-nos para trás, mistura as narrativas e narradores, enleando-nos num jogo constante com o intuito de descobrir os passos daquelas personagens que, faz ele questão, “escarafunchem” onde nos dói mais: A perda. Faz-nos duvidar entre a realidade das personagens e o seu delírio e os seus desejos. Transforma as suas confissões em diálogos interiores. Mostra-nos o que aconteceu e o que podia ter acontecido se tal coisa acontecesse. O que Rodrigo Guedes de Carvalho, parece fazer aqui, é uma viagem ao mais íntimo de si, ao amor que tem pela mulher, pelas mulheres, ao entendimento que tem delas. O que nos escreve parecem desabafos esventrados daquilo que a sua vida é, daquilo que a sua vida podia ter sido e, principalmente do medo da memória que nunca quer ter: a da perda.

Outra característica de que gosto, e que encontro neste livro, é um final que não é feliz nem, na realidade é final de alguma coisa. Salvador pode pensar que a sua vida parou quando Teresa partiu, mas, a verdade é que o cão acabou por regressar, depois de ter desaparecido (podemos pensar que talvez o tenha feito para minimizar a dor que sabia iria sentir.) Não, não estou a revelar a história toda, até porque ela se revela logo no início. O importante aqui não é o enredo, porque um livro que vive apenas do enredo talvez não se possa categorizar como “literatura”, ou pelo menos, boa literatura. O que est’A Casa Quieta tem de magnífico, como aliás tenho encontrado em vários livros que tenho lido nos últimos anos, é que o enredo, a “historizainha” pode ser a mais simples de todas – neste caso Mariana está doente, ambos tentam lidar com o inevitável peso da morte, há a família dele, a família dela, e é isso!

Nunca me foi tão difícil escrever sobre um livro. Por norma demoro algum tempo a fazê-lo, preciso de ler outro antes de ser capaz de escrever sobre o anterior, mas quando começo a fazê-lo, tudo acaba por sair de chofre. Mas desta vez não foi assim. Demorei quatro livros a escrever sobre este e, quando não podia adiar mais, tudo me saiu aos solavancos. Talvez por isso esta opinião corra o risco de se tornar um aglomerado de ideias, sem fio condutor perceptível. Talvez também como o próprio livro, mas sem a mestria poética do autor.
Profile Image for Célia Gil.
875 reviews39 followers
February 1, 2021
Este livro, que vai sendo narrado por diferentes personagens, permite-nos ter uma perceção do que pensa cada uma delas, pelo que facilmente ficamos íntimos destas personagens tão reais. Salvador, um arquiteto, é casado com Mariana, que se debate, em fase terminal, com um cancro que a vai consumindo. O irmão de Salvador, António, é um antigo combatente, sofre de um trauma de guerra. Todo este enredo triste é tão convincente que somos levados a sofrer com as personagens.
Os capítulos têm sempre o mês a que se referem no início, não seguindo um tempo cronológico linear, com analepses que nos explicam pormenores anteriores, que, curiosamente, sentimos necessidade de ir percebendo.
Com uma escrita oralizante, intimista, Guedes de Carvalho aborda uma temática quotidiana para quem já perdeu para o cancro um ente querido, de forma tão real que conseguimos sentir a dor das personagens, as suas dúvidas mais comezinhas e as suas considerações mais comuns.
Passo a ler algumas passagens demonstrativas do poder das palavras de Guedes de Carvalho:
“É então isto a morte. Abrires os olhos à espera de uma revelação e esbarrares no nada.” (Pág. 9)
“Havia um relógio de parede que nunca funcionou mas de que gostávamos como se funcionasse, como se tivesse préstimo. Eram as nossas coisas. Agora são coisas.” (pág. 247)
Tu eras (…). Tu eras as luzes acesas. Eras uma casa à minha espera. (…) A fechares o mundo lá fora”. (Pág. 247)
“Filhos, doutor, (…) levam o que temos de melhor sem nunca nos devolverem, ainda que esperemos, (…)”
“Um bebé é só mais uma pessoa que vai morrer. Havemos de cuidar dele, de o entreter, de lhe comprar roupa e dar a papa, de o levar à escola, de o levar ao dentista. Ele há-de estudar, tirar boas ou más notas, vestir-se sozinho (…), tirar a carta, abrir guarda-chuvas e rir das tempestades, rebolar-se na cama com outros corpos igualmente frescos secos firmes robustos, consultará as pautas de notas afixadas, irá festejar a passagem de ano, há-de abrir e oferecer presentes, dizer amo-te e sofrer por amor. (…) Um bebé é só mais uma pessoa que vai morrer.” (pág. 242)
Profile Image for Helena Isabel Bracieira.
119 reviews61 followers
April 6, 2009
Não foi dos livros que mais prazer me deu ler dada a escrita "partida" e confusa e o jogo temporal. Apesar disso, o tema fez-me lê-lo até ao fim. Acompanhar o definhar de um projecto de vida individual e em conjunto e as suas consequências nos seus entes mais queridos, a crise existencial, a interrogação constante, leva-nos a questionar o rumo que damos à nossa vida e a sua valorização, ou não.

Li que o RGC se inspira muito no ALA, por isso vou com expectativas baixas para os livros deste último.
Profile Image for Vera.
24 reviews4 followers
August 23, 2011
Muito bom. Um bocadinho arrepiante. Capítulo preferido: as duas faces da moeda.
Profile Image for Sónia Cabral.
200 reviews80 followers
August 3, 2017
Está muito bem escrito. Provavelmente merecia 4 estrelas. Algumas partes são mesmo 5 estrelas. Mas, por alguma razão, não me cativou.
Profile Image for Dina.
46 reviews
September 24, 2023
As casas ficam quietas. TODAS! Tantas vidas em volta de um cenário. O pensamento das personagens a ressoarem no nosso cérebro ao ler as palavras escritas. A doença, o avanço da idade, os humores, a traição, a vaidade, o medo, a tradição do preconceito, os traumas, as lembranças, a saudade, o arrependimento, o afastanento, o amor, a raiva, o desejo, a esperança, a morte. A morte que vai acontecendo várias vezes durante a VIDA. Os sentimentos, pensados das várias personagens em volta de dois acontecimentos principais....
A VIDA! Aquele traço minúsculo que se encontra entre a data do nascimento e a data da morte, a que se refere uma das personagens do filme "O que nos une", colocadas nas placas dos cemitérios.
Citações. São tantas....
Rodrigo Guedes de Carvalho recomendado apenas a quem aprecie a uma escrita muito própria, crua, dura e realista. O meu escritor português favorito da atualidade.
Profile Image for Sofia Cardoso.
Author 1 book6 followers
August 26, 2018
Acabei de ler a «Casa Quieta» há minutos e, aqui, na minha própria casa, hoje também quieta, Rodrigo Guedes de Carvalho deixou-me de novo a braços com uma profunda reflexão sobre a vida, as escolhas que fazemos, o que foi e o que poderia ter sido, as duas faces da moeda, as escolhas que o destino faz por nós, o que nos dá e o que nos leva...
Num sempre tão bonito, mesmo quando complexo, encadeamento de palavras, de sentimentos, que consegue atirar-nos à cara a realidade nua e crua, dando-lhe, ainda assim, uma imensa profundidade, de uma forma temporalmente inteligente e cativante.
Profile Image for Nicinha || Nicinha_book’s.
666 reviews14 followers
July 1, 2021
Um livro que nos vem falar sobre a solidão, perda e amor.
Salvador é casado com Mariana os dois vivem numa casa com três quartos vazios. Não têm filhos.
Salvador tem um irmão doente e mantém um ritual semanal com o pai, uma vez por semana almoçaram sempre no mesmo restaurante.
Mariana é orfão e tem duas irmas no Canadá.
Em Novembro de 2005, Mariana, parte! E Salvador vê-se sozinho numa casa quieta.
421 reviews14 followers
November 27, 2022
Muito triste mas muito tocante este segundo romance do jornalista que se estreara na edição um bom par de anos antes. Ainda muito marcado pela influência da escrita de António Lobo Antunes, assumida pelo próprio RGC, nem por isso o jornalista deixa de evidenciar “voz própria”, construindo um romance intenso (e triste) e concretizando com elegância e fluência uma narrativa clara apesar de razoavelmente complexa. Gostei bastante e recomendo vivamente.
Profile Image for Nuno Martins.
111 reviews13 followers
October 18, 2017
Este foi o primeiro livro que li de Rodrigo Guedes de Carvalho e fiquei bastante surpreendido pela positiva, tem uma escrita sóbria e inteligente que fez com ficasse com vontade de ler a sua restante obra.
Profile Image for Ana Sobral.
39 reviews1 follower
Read
January 16, 2021
Não consegui nem chegar a meio.
Senti muita dificuldade em acompanhar a narrativa e sentia-me sempre ansiosa a ler. Não sei se são todos assim mas para primeiro livro do RGC fiquei desiludida.
Profile Image for Tânia Silva.
119 reviews1 follower
February 24, 2023
Este livro partiu-me o coração em mil pedacinhos. O RGC tem uma forma de falar da solidão, da perda, da vida humana que me comove sempre. Não desilude.
Profile Image for fabiana.
19 reviews
January 1, 2024
foi-me dado pela avó na mesma energia que se deixa heranças e eu levei tão a sério que se tornou o meu livro português favorito e moldou para sempre a minha escrita e expressão portuguesa
Displaying 1 - 30 of 44 reviews

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